Polícia



Violência

Dois pontos à mercê dos gatunos em Alvorada

Loteamento Porto Verde e Vila Torotama sofrem com constantes ataques de bandidos. Apesar dos relatos, polícia afirma desconhecer problema

17/11/2014 - 07h02min

Atualizada em: 17/11/2014 - 07h02min


Cristiane Bazilio
Cristiane Bazilio
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Diego Vara / Agencia RBS
Moradores estão indignados com a situação

Pouco mais de dois quilômetros separam moradores das ruas Vieira Melo, na Vila Torotama, no Bairro Stella Maris, e Condores, no Loteamento Porto Verde, Bairro Jardim Algarve, ambos em Alvorada. Todos têm em comum uma rotina de violência. Enquanto na Torotama a vizinhança convive com o medo de sair para trabalhar e, ao voltar, encontrar a casa depenada, no Porto Verde o receio é ser atacado na chegada ou saída de casa por assaltantes que ficam à espreita.

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O Diário Gaúcho esteve por lá e ouviu inúmeros relatos de cidadãos apavorados e descrentes na polícia. Na rua do Bairro Stella Maris, pelo menos oito famílias já passaram pela mesma situação. No logradouro do do Porto Verde, um grupo de seis moradores relatou episódios. Ainda assim, a polícia diz que desconhece a maioria dos casos e que as ruas não figuram entre as com maior número de registros.

Torotama: rotina modificada

- Era meio-dia quando dei uma saidinha, aqui mesmo na rua. Quando voltei, a porta da frente estava destrancada. Entraram sem arrombar, usando uma chave mestra. Levaram meu aparelho de som, um botijão de gás e um colar. E ainda deixaram a máquina de lavar roupa e a bicicleta do meu filho perto da porta, porque não devem ter conseguido carregar - acredita a aposentada Clarice Maria Livi, 60 anos, que mora na Torotama.

De lá pra cá, a rotina da aposentada nunca mais foi a mesma.

- Qualquer barulho na rua, meu coração acelera. Como é que vou ficar tranquila se todo dia acontece um caso desses com algum vizinho? - questiona Clarice.

Que o diga uma família que mora a metros dali. Eles já tiveram a casa arrombada pelo menos dez vezes, pelas contas do casal. Na mais recente, a mulher se aproximava de casa quando viu os assaltantes saindo. Com medo, ficou na parada de ônibus até que partissem. 

- Arrombaram a grade, o portão e as duas portas da frente. Levaram computador, notebook e o pouco que tinha sobrado. Não tem mais o que levar, já fizeram a limpa - diz o marido, que pediu para que eles não fossem identificados.

Ladrões agem em duplas e de carro

Segundo relatos dos moradores, os ladrões que cercam a Rua Vieira Melo agem, geralmente, em dupla e de carro. Enquanto um limpa a casa, o outro espera na frente, no veículo, que sai carregado.

Com a neta de dona Zilca da Costa, 71 anos, o pavor foi ainda maior. Ela e o marido foram atacados por assaltantes na entrada de casa e tiveram a moto levada, depois de serem agredidos.

- Eram dois homens em uma moto. Um desceu e derrubou minha neta e o marido. Arrastou a minha neta no chão pelas pernas pra arrancar a chave da mão dela. O marido tentou defender e ainda lutou com ele, mas foi agredido e o assaltante conseguiu levar a moto - lembra Zilca.

As más condições da rua de chão batido facilitam a ação dos bandidos, segundo os moradores, que se queixam, ainda, do descaso da polícia. 

- Estamos sem luz nos postes há meses. De noite, isso aqui é um breu. Os buracos no chão obrigam os carros e motos a andar devagar. E sem uma viatura sequer circulando por aqui, eles ficam à vontade. Perguntei para os policiais o que eu podia fazer, e ele me respondeu: "um seguro para a sua casa". Eu respondi: e eu como o quê, moço? Sobrevivo do quê para pagar um seguro? - lembra, indignada, Clarice.

Porto Verde: movimento não inibe ladrões

Há poucos quilômetros dali, o drama, quando não é o mesmo, é bem semelhante. No Porto Verde, a rua asfaltada, as casas de padrão de classe média e o entra e sai de carros atraem a atenção de assaltantes.

- Meu filho, de 19 anos, e o filho de uma vizinha, de 13, chegavam de carro quando foram fechados por um Idea vermelho com dois caras e uma mulher. Abandonaram a Idea aqui na frente, tiraram os guris do carro e levaram com tudo dentro: documentos, cartões, celulares, notebook - conta a comerciária Adriana Passos, 42 anos.

Descer do ônibus e chegar em casa a salvo também é um desafio para os moradores da Condores. Recentemente, um grupo foi atacado por cinco assaltantes. 

- O pessoal desceu, e o bando atacou. Fizeram a limpa nos moradores, levaram carteiras com dinheiro, documentos e celulares - lembra a a estudante de Enfermagem Ana Virgínia Vargas, 30 anos.

Nem as placas de segurança particular nos portões de algumas casas intimidam os bandidos. 

- Naquela casa ali (ela ponta para uma das residências vizinhas), estacionaram um carro na frente, entraram e carregaram tudo de dentro. Nada sobrou. Levaram até o carro da garagem - conta Ana Virgínia.

Delegacia pede que população denuncie

O DG esteve na 2ª DP de Alvorada, responsável pela área. O comissário de polícia Carlos Bernardes afirmou que desconhece casos no Torotama e limitou-se a dizer que existem investigações em andamento sobre o Porto Verde. No entanto, não deu informações sobre número ou frequência de ocorrências na região. Também não adiantou detalhes das investigações, como a possibilidade de existência de uma quadrilha agindo nos locais, ou se suspeitos já foram identificados.

- Temos várias investigações em andamento no Porto Verde sobre arrombamento de residências. Não podemos dizer se tem relação com os ataques do Torotama, porque lá não temos ocorrências registradas. Talvez o pessoal registre na Brigada, mas não na Civil - resumiu.

Brigada registra 51 casos no ano

Já a Brigada Militar informou que constam em seus registros 28 casos de arrombamentos de residências no Bairro Jardim Algarve e 23 no Bairro Stella Maris, no período de janeiro a setembro deste ano, um número considerado baixo pelo subcomandante do 24ª BPM, major Marcelo Couto de Souza. Ele garante que, ao contrário do que dizem os moradores, são feitas rondas policiais nos dois bairros, embora, segundo ele, não seja possível "estar em todos os lugares ao mesmo tempo".

O oficial destaca, ainda, que as duas ruas citadas na reportagem não figuram entre aquelas com maior número de registros nos bairros.

- Nos colocamos à disposição para conversar com a comunidade, mas eles precisam se organizar e trazer esta demanda até nós - explica.

O subcomandante ainda orienta os moradores:

- Façam uma reunião comunitária e nos chamem. Nós vamos até vocês. Se nos procurarem, relatarem todos estes casos, poderemos colocar uma equipe exclusiva para ouvi-los e redimensionarmos o nosso patrulhamento.


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