Polícia



Noite de pavor

Gangues se enfrentam em danceteria de Porto Alegre

Tiroteio que deixou um morto e 16 feridos foi ocasionado por confronto de quadrilhas

04/11/2014 - 07h04min

Atualizada em: 04/11/2014 - 07h04min


Carlos Macedo / Agencia RBS
Tiroteio aconteceu na madrugada de segunda-feira

Enquanto o funk do MC Bin Laden imitava barulho de tiros, começou uma correria a partir de um dos camarotes da Stuttgart Danceteria, por volta das 3h30min de ontem. Quando as cerca de 250 pessoas que estavam na casa noturna do Bairro Santana, em Porto Alegre, perceberam que todo o barulho não vinha da música, mas de um confronto a tiros, a confusão se alastrou. Em poucos segundos, a festa virou cenário de guerra. A polícia calcula que foram efetuados até cem disparos de diversos calibres, que deixaram pelo menos 17 pessoas feridas.

Um dos feridos, identificado como Tiago Querubim Silveira, 19 anos, morreu por volta das 10h de ontem no HPS. Morador da Vila Cruzeiro, ele tinha uma condenação por tráfico de drogas. Os investigadores ainda não conseguiram precisar se Tiago estava envolvido no confronto ou se foi atingido por uma bala perdida.

- Por enquanto, estamos trabalhando com vários cenários para este crime, nada concreto, porque há dificuldade em ouvir as testemunhas até esse momento. Provavelmente, muitos foram feridos sem ter relação com a briga - explica o delegado Filipe Bringhenti, da 2ª DHPP.

>>> Vídeo: veja imagens do momento do tiroteio em danceteria de Porto Alegre:

A polícia acredita que o tiroteio tenha sido causado por um confronto entre grupos de traficantes rivais de duas regiões diferentes da cidade. Um deles seria do Bairro Agronomia, na Zona Leste. O outro, ainda sob investigação da polícia, seria da Vila Cruzeiro, na Zona Sul. Mas não é descartada a participação de criminosos que tenham sua base nas vizinhanças da Stuttgart.

A maior parte dos feridos foi socorrida em carros particulares. E alguns deles se identificaram com nomes falsos nas emergências. À medida em que eram liberados do HPS ou do Hospital Cristo Redentor, a maioria se limitava apenas a relatar o caos constatado horas depois pelos peritos.

- Foi um horror quando começaram todos a se empurrar. Eu não vi nem onde começou isso tudo. Só pensava em sair dali - contou uma jovem que pediu para não ser identificada.

Ela teve escoriações e recebeu atendimento médico. Com a correria, restaram mesas, cadeiras e garrafas quebrados pelo caminho. Sobre a motivação dos tiros, o silêncio era absoluto.
Até o final da tarde de ontem, seis pessoas permaneciam internadas no HPS.

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Tiros vieram dos dois lados

- Nos próximos dias, vamos ouvir todas as pessoas feridas e tentar determinar a dinâmica do crime. Precisamos saber exatamente o que cada um fazia naquele momento - diz o delegado.

No local, testemunhas chegaram a contar aos PMs que uma mulher conseguiu entrar no local carregando uma bolsa cheia de armas. Ela teria municiado um dos grupos minutos antes do tiroteio. A direção da casa garante que a revista é rigorosa e foi qualificada nos últimos anos.

- Essa testemunha não foi localizada pela polícia. Por enquanto, essa informação não passa de boato. Mas temos informações de que os tiros partiram dos dois lados. E pelo menos um dos grupos, provavelmente, já estava armado dentro da festa - conclui o delegado.
As câmeras de monitoramento da casa noturna não estavam funcionando.

Suspeitos foram presos na Zona Leste

Os investigadores da 2ª DHPP têm um esboço da cena do crime. Dois grupos teriam se desentendido durante a festa. Um dos bandos teria saído do local. Eles teriam voltado armados, rendido um segurança e entrado. Ao encontrarem os rivais, também armados, começou o tiroteio.

- Não se sabe exatamente a motivação do confronto. A suspeita é de que sejam duas quadrilhas que já vinham se jurando há mais tempo e em outras festas, nesse mesmo lugar - diz o delegado.

Na fuga, um dos grupos teria seguido em uma Tucson preta em direção à Zona Leste da Capital. A Brigada Militar fez buscas na região, mas não encontrou o veículo. Na Rua Zaire, Bairro Agronomia, porém, encontraram um Uno laranja suspeito. Quando tentaram a abordagem, teriam sido recebidos a tiros. Os atiradores se refugiaram em um matagal na Lomba do Sabão, limite de Porto Alegre com Viamão. A BM não os encontrou, mas manteve o alerta. Outro carro suspeito foi abordado. Nele, estavam cinco homens entre 23 e 28 anos - todos com antecedentes.
A chave de um Corsa branco foi encontrada com um deles. No estacionamento da danceteria, os PMs encontraram o Corsa. O suspeito, que tinha um ferimento de tiro de raspão em um dos braços, admitiu que estava na festa. Mas alegou que fora atingido por uma bala perdida.

Os cinco foram autuados e presos em flagrante por tentativa de homicídio contra os PMs do 19º BPM. Também são considerados suspeitos pelo homicídio na Stuttgart. A polícia também pretende ouvir o proprietário de um Pálio branco estacionado no mesmo local. Neste veículo, os PMs apreenderam uma pistola .380.

Casa funciona sob liminar desde 2012

Os proprietários da Stuttgart ainda não foram ouvidos pela polícia. De acordo com o procurador do estabelecimento, advogado Carlos Freitas, os donos resolveram manter a casa fechada por alguns dias.

- Vamos avaliar tudo o que aconteceu, porque isso não é normal e não faz parte da nossa conduta. Não fazemos ideia do que aconteceu, porque não foi contra a casa. Foi algo isolado - diz.

Segundo Carlos, o sistema que grava as imagens das câmeras queimou em um temporal da semana passada. Ele admite que houve falha na revista, que permitiu a entrada de armas no local.

- Foi tudo muito rápido, mas os criminosos agem assim, sempre com alguma artimanha para driblar os sistemas de segurança. Estamos dispostos a ajudar a polícia na solução desse crime lamentável - afirma o advogado.

Desde 2012, a Stuttgart trabalha graças a uma liminar, depois de sucessivas tentativas de interdição. Na última vistoria, a prefeitura teria listado pelo menos seis irregularidades no local que, por exemplo, não tem Habite-se.
A Stuttgart tem um processo judicial desde 2010 contra a prefeitura, exigindo a liberação da casa.


Histórico de violência

* Há cerca de um mês, homens teriam sido retirados por seguranças da Stuttgart Danceteria depois de se envolverem em uma briga. Retornaram armados ao local e atiraram, ferindo um dos seguranças.

* Em agosto de 2008, Dênis Mariano Nunes, 26 anos, que era segurança da danceteria, foi morto com quatro tiros próximo à saída da festa.

* Em abril de 2007, um jovem de 23 anos foi baleado em uma tentativa de homicídio por outro jovem, de 21 anos, na saída da Stuttgart Danceteria.

* Em outubro de 2005, Thiago Maciel, 19 anos, foi morto por engano quando saía de uma festa na Stuttgart. Homens teriam passado atirando diante do local, supostamente tentando atingir os seguranças.

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