Polícia



Violência policial

Número de mortos pela polícia só aumenta desde 2012. Saiba o porquê

Neste ano, oito pessoas foram mortas em ações da Brigada na Região Metropolitana. Desde 2012 número só aumenta. Para o comando da BM, porém, caso de torcedor morto no Vale do Sinos é uma exceção

06/02/2015 - 05h04min

Atualizada em: 06/02/2015 - 05h04min


Facebook / Reprodução
Envolvido numa briga de torcidas, Maicon Doglas de Lima pode ter sido morto por tiro de um brigadiano

A morte do jovem Maicon Douglas de Lima, 16 anos, pelo tiro disparado por um policial militar que tentava dispersar uma briga entre torcidas na saída do jogo entre Novo Hamburgo e Aimoré, no domingo, engrossou um preocupante número da violência na Região Metropolitana. Só no primeiro mês do ano, PMs estiveram envolvidos em oito casos de assassinatos na Região Metropolitana - metade deles no último feriadão. Conforme levantamento do Diário Gaúcho, desde 2012, esse índice só cresce.

Para o presidente da Associação de Cabos e Soldados da Brigada Militar, Leonel Lucas, o número deixa claro que "atualmente o PM vive no fio da navalha".

- Pode ser aplaudido por trocar tiros e acabar matando um assaltante, mas e quando errar o tiro? E quando a ação não der certo e ele é que for morto? - alerta.

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Só em janeiro, já foi registrada a metade de todos os casos de mortes provocadas por policiais em 2012. E o dobro da média mensal observada no ano passado, quando 47 pessoas foram mortas em ações policiais em serviço ou à paisana. No ano passado, um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostrou que a polícia brasileira está entre as mais violentas do mundo.

Em números absolutos, o Rio Grande do Sul não figura entre os lugares mais preocupantes, mas o saldo médio no país de mortes em ações policiais é de cinco pessoas assassinadas pela polícia para cada policial morto. Desde 2012, 11 policiais foram assassinados na Região Metropolitana. Uma relação de oito para um.

Para o subcomandante da Brigada Militar, coronel Paulo Stocker, não há motivo para alarme. Segundo ele, a morte do adolescente em São Leopoldo, que já determinou as prisões temporárias de dois PMs, pode ser considerada exceção.

O oficial acredita que o aumento de confrontos e, consequentemente, de mortes, é resultado direto do maior armamento e violência dos criminosos.

Todos os casos registrados em 2015 estão sendo apurados pela Corregedoria da Brigada Militar, mas somente sobre a morte do jovem torcedor ainda resta a suspeita de que tenha sido uma possível ação errada dos policiais em serviço.

BM garante que policiais estão bem treinados

Os inquéritos policiais que investigam as oito mortes causadas por PMs neste começo do ano, exceto no caso de São Leopoldo, caminham para resoluções que confirmam as ações tecnicamente corretas dos brigadianos. Para o titular da 1ª DHPP, delegado Roger Bittencourt, por exemplo, ficou configurada a ação correta dos policiais do 11º BPM quando acabaram matando Michel Luís Rodrigues Severo, 28 anos, sábado, em uma abordagem no Bairro Bom Jesus. Foragido, Michel entrou em confronto com os policiais quando teria o carro abordado.

Mesmo entendimento têm os investigadores da 9ª DP, que apuram a morte de Fábio Henrique de Souza, 26 anos, morto na noite de sexta por dois PMs à paisana, quando roubava a loja de conveniências de um posto de combustíveis na Avenida Assis Brasil. Segundo a Polícia Civil, os PMs usavam o caixa eletrônico no momento do assalto e agiram em legítima defesa contra o homem que havia saído da cadeia naquele dia.
Ainda assim, para o diretor de investigações do Departamento de Homicídios, delegado Paulo Grillo, os números crescentes precisam servir de alerta.

- Os criminosos estão mais armados e em confrontos entre si. É normal que também confrontem a polícia. É importante que os PMs estejam educados para agir diante desse contexto. Ele só pode   sacar a arma quando ameaçado. Com mais tiroteios, a sociedade acaba ficando mais exposta a situações de risco - explica.

O corregedor-geral da Brigada Militar, coronel Jairo de Oliveira, afirma que cada caso é analisado individualmente, mas salienta que um tiroteio pode ser resultado de despreparo ou de excesso de preparo.

Os casos deste ano:

6 de janeiro
Fernando do Prado Maciel, 27 anos, foi morto a tiros por um PM à paisana quando assaltava uma lotérica na Rua Hermínio Machado, Bairro Jardim Algarve, em Alvorada. Um comparsa foi preso.

11 de janeiro
Carlos Eduardo da Silva, 19 anos, foi morto em troca de tiros com PMs na Rua Riachuelo, Vila Nazareth, Bairro Sarandi, em Porto Alegre.

13 de janeiro
Isaías Flores da Silva, 35 anos, foi morto a tiros quando invadiu a casa de um policial militar na Rua Espírito Santo, Bairro Scharlau, em São Leopoldo.

27 de janeiro
Um homem sem identificação foi morto em troca de tiros durante perseguição na Avenida Assis Brasil, Bairro Cristo Redentor, em Porto Alegre. Ele estava em um Vectra roubado pouco tempo antes. Um comparsa, também baleado, foi preso.

30 de janeiro
Fábio Henrique de Souza, 26 anos, foi morto a tiros por um PM à paisana quando roubava a loja de conveniências de um posto de combustíveis na Avenida Assis Brasil, Bairro Passo D'Areia. O policial, acompanhado por outro PM à paisana, usava o caixa eletrônico no momento do roubo. Ele teria se aproveitado da distração do criminoso.

31 de janeiro
Michel Luís Rodrigues Severo, 28 anos, foi morto a tiros depois de resistir a uma abordagem de policiais do 11º BPM, no Bairro Bom Jesus, em Porto Alegre. Um comparsa foi preso.

1º de fevereiro
Maicon Douglas de Lima, 16 anos, foi morto com tiros nas costas durante ação da Brigada Militar de Novo Hamburgo para conter uma briga entre torcidas.

2 de fevereiro
Rodrigo Soares, 36 anos, foi morto com um tiro na cabeça ao tentar assaltar um PM à paisana na Rua Geisel Neto, Bairro Paulista, em Campo Bom.

 

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