Polícia



Região Metropolitana

A mando de traficantes, adolescentes deixam rastro de seis homicídios

Ação da DP de Eldorado do Sul prendeu e apreendeu seis integrantes do bando que tentava controlar a invasão do Delta, entre eles, guris de 12 e 13 anos

24/03/2015 - 07h03min

Atualizada em: 24/03/2015 - 07h03min


Divulgação / Polícia Civil
Tatuagem com a inscrição "inimigo é de graça" é marca de quadrilha

Diante do delegado, o guri de apenas 13 anos foi frio e resumiu o que pensava:

- Não adianta nada me pegar, eu não me importo. Vou voltar para a rua e assaltar, matar e traficar de novo.

Em uma das mãos, ele trazia a tatuagem com a inscrição "inimigo é de graça", como uma marca da quadrilha comandada por traficantes originários do Loteamento Timbaúva, no Bairro Mario Quintana, em Porto Alegre, e, supostamente, ligados à facção dos Abertos. O adolescente, junto com outros cinco integrantes do grupo, foi apreendido no final da última semana, em Eldorado do Sul. Todos estavam "em missão", como ele descreveu aos agentes que o apreenderam.

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Uma missão que, segundo as apurações da polícia, já deixou um rastro, entre Eldorado e Alvorada, de pelo menos seis mortos, dois feridos, assaltos, tráfico de drogas e até um incêndio criminoso.

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De acordo com a investigação, o guri, vindo do Loteamento Timbaúva, estava há dois dias na invasão do Bairro Delta. Teria recebido uma arma e a promessa de que receberia até R$ 300 por dia para manter o território da quadrilha neste ponto da Região Metropolitana. Como um profissional, ainda na quarta-feira, ele foi flagrado pela Brigada Militar com drogas em uma das casas da vila. Acabou liberado na delegacia. Mas, no dia seguinte, foi novamente encontrado com drogas no mesmo lugar.

- Já vínhamos investigando essa investida de traficantes de Porto Alegre para tomar essa região que, desde o ano passado, ficou sem um patrão no tráfico. Percebemos que havia um grupo vindo do Timbaúva aqui no Delta, então agimos rapidamente - conta o delegado Alencar Carraro.

 
Centro comunitário do Delta foi incendiado
Foto: Polícia Civil/Divulgação
 

Presos jovens de 18 e 19 anos

Depois da captura do adolescente de 13 anos, a polícia prendeu dois jovens de 18 e 19 anos e ainda apreendeu outros três adolescentes - dois de 16 anos e um de apenas 12 anos.

Com o mesmo destemor do parceiro, o menino mais novo, que é morador de Eldorado, confessou à polícia que, no final do ano passado, participou do ataque ao centro comunitário do Delta. O local foi incendiado como forma de amedrontar quem resistia à chegada dos traficantes de Porto Alegre. Ali estavam guardados brinquedos e materiais que seriam usados na festinha de Natal para as crianças da comunidade. Não houve o festejo por culpa do crime.

- Esse era um menino que já flagramos circulando armado naquela região. Procuramos a mãe, que nunca teve qualquer histórico com a criminalidade, mas ela está desesperada e também não sabe o que fazer. Infelizmente, eu já não fico exatamente surpreso com isso. Fico triste, porque eles estão sendo arregimentados com muita facilidade para o crime - desabafa o delegado.

"É tão difícil fazer eles nos ouvirem"

- Esse é um favor que vocês me fazem.

Foi dessa forma que o pai do jovem de 18 anos preso na ação da última quinta-feira - reconhecido por cinco roubos em um arrastão a estudantes no Delta - reagiu ao receber a ligação dos agentes da DP de Eldorado do Sul lhe comunicando o fato. E não é uma exceção.

Na segunda-feira, a reportagem conversou com o pai de um dos adolescentes de 16 anos. O homem, de 43 anos, desabafou:

- Eu espero que esse tempo que ele vai permanecer lá na Fase sirva para aprender que esse não é o caminho certo.

O rapaz é suspeito - e teria confessado na delegacia - de duas tentativas de homicídio em Eldorado do Sul no último mês. O pai garante que não imaginava o que o filho vinha fazendo.

- Eu e a mãe dele trabalhamos o dia inteiro e acho que em algum momento perdemos o controle. Eu já vinha tentando fazer ele voltar a estudar, mas é tão difícil fazer eles ouvirem. Aí, acabam andando com essas más companhias e dá nisso - diz o pai.

Segundo ele, o filho teria piorado nos últimos dois meses. E nem voltou à escola, onde deveria estar cursando o sexto ano do ensino fundamental. Para os pais, ele dizia que ficava fora de casa por estar com a namorada. No próximo final de semana, o pai o visitará pela primeira vez na Fase, e já sabe o que dizer:

- Quero parar e conversar mesmo com ele. Preciso convencer ele a vir trabalhar comigo, a voltar a estudar e ser alguma coisa na vida. Isso que eu estou passando, não desejo a nenhum pai.

O adolescente é o quarto filho do homem. O único que enveredou para a criminalidade. Ele deve permanecer pelo menos 45 dias internado na Fase.

*Diário Gaúcho


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