Polícia



Investigação

Brigadianos são investigados por morte durante abordagem em Alvorada

Homem foi morto por PMs na semana passada. Família nega que ele tenha tentado reagir. Caso foi denunciado à corregedoria da corporação.

01/09/2015 - 07h08min

Atualizada em: 01/09/2015 - 07h08min


Eduardo Torres / Diário Gaúcho
Mulher de Paulo Roberto ainda guarda a bicicleta que ele usava quando foi morto por PMs

No sábado passado, completou-se uma semana desde que Paulo Roberto Iuver Costa, 46 anos, saiu de bicicleta de casa, no Beco Natal, Vila Americana, em Alvorada, para receber R$ 200 que ganhara pela limpeza de um terreno.

Prometeu à esposa, Lucimar de Oliveira Assis, 45 anos, que voltaria com bolachinhas, massa e doces para os filhos e netos. Mas não voltou para casa. Passava das 20h daquele 22 de agosto quando ele foi morto com um tiro no rosto disparado por um PM durante uma abordagem a cerca de 300m de casa, na Rua Itararé.


Paulo foi morto durante abordagem da BM - Foto: Arquivo Pessoal 

Os PMs alegaram que Paulo Roberto estava armado com uma pistola .40 - apreendida na abordagem - e resistiu à ação policial. A família duvida da versão e, na segunda-feira, fez uma denúncia à Corregedoria da Brigada Militar.

Com 55 homicídios, início de agosto é o mais violento desde 2011

Na Delegacia de Homicídios de Alvorada, o caso foi registrado como uma tentativa de homicídio contra os PMs - que caracterizaria a legítima defesa do agente ao atirar -, mas só deve ser apurado após o período de paralisação da corporação.

- Meu marido sempre foi trabalhador, se fosse vagabundo eu não colocaria a cara para pedir justiça. Ele vivia falando para a gurizada nunca cair para o lado do crime. Dizia que quem fazia isso terminava morto ou na cadeia - garante Lucimar.

Ela assegura que, em 30 anos de relacionamento, nunca viu o marido armado. No local do crime, os peritos teriam confirmado que a  pistola .40, com numeração raspada, não foi disparada.

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Pai de três filhas de 14, 19 e 21 anos, e de um filho, de dez anos, avô de duas crianças - o terceiro neto está para nascer -, Paulo Roberto tinha o apelido de Alemão e trabalhava como catador. Fazia bicos como pedreiro, limpando terrenos ou o que aparecesse. No beco onde moravam, reformou quase todos os casebres, conforme contam moradores.

Nos dias seguintes à morte do Alemão, os vizinhos protestaram, com faixas cobrando justiça. Agora, restou no pátio do casebre os materiais para reciclagem e a bicicleta de Paulo Roberto.

- Eu trabalhava com ele, mas, agora, o que vai ser de mim? - lamenta a mulher.
Ela deve deixar a casa onde criou a família. Vai morar com uma das filhas em outra cidade.


Dupla de policiais foi afastada das ruas

Na ponte da Rua Itararé, onde Paulo Roberto caiu morto, ficaram faixas de protesto e o lençol, ainda ensanguentado, usado para cobrir o seu corpo. O caso será investigado pela Delegacia de Homicídios.

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Testemunhas ainda devem ser ouvidas para comprovar se a vítima reagiu ou não à ação policial. A cerca de 30m do local, há ainda uma câmera de monitoramento. A delegacia especializada, porém, não revela qualquer detalhe sobre o caso enquanto estiver sob paralisação. Um inquérito policial militar (IPM) foi aberto no 24º BPM, ainda sem prazo para conclusão.

- A arma usada pelo policial que atirou foi recolhida e já encaminhada à perícia. Por enquanto, temos a versão dos policiais, mas o IPM ainda está em fase inicial. Mais pessoas devem ser ouvidas para apurar a atitude dos dois PMs envolvidos na abordagem - afirma o comandante do 24º BPM, major Maurício Campos Padilha.
Segundo ele, desde a ocorrência, os dois PMs foram mantidos em serviços administrativos dentro do batalhão.


Catador ficou preso por uma semana no ano passado

Duas passagens policiais no ano passado pesam contra o histórico de Paulo Roberto. Ele ficou preso durante sete dias por tráfico de drogas. E, no final do ano, ainda esteve entre os investigados por um homicídio ocorrido na Vila Americana. Segundo os familiares, nos dois casos ele foi envolvido de graça.

Uma ação policial havia encontrado drogas em uma casa nos fundos do terreno da família. O local, segundo Lucimar, era alugado a um rapaz que nunca mais apareceu ali. Paulo Roberto estava trabalhando e, quando chegou em casa, foi autuado em flagrante. Uma semana depois, foi liberado pela Justiça. O entendimento era de que a droga não era dele.

No caso investigado pela Delegacia de Homicídios, um carrinho de mão encontrado junto à casa dele teria sido usado para transportar um corpo desde o Beco Natal até um valão próximo. Paulo Roberto não foi indiciado.

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* Diário Gaúcho


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