Violência sem limites
Mortes em assaltos caem à metade na região e dobram na Capital
Pelo menos 20 pessoas foram mortas em assaltos em Porto Alegre no primeiro semestre deste ano. É o dobro do mesmo período de 2015
A fronteira entre um roubo e um latrocínio (roubo com morte) passa por um limiar mínimo. Uma fronteira que costuma emitir alertas quando é ameaçada. Pois, em Porto Alegre, os números de assaltos foram os crimes que mais aumentaram em 2015. Quando o ano virou, aquilo que era alerta virou emergência. Conforme o levantamento do Diário Gaúcho, pelo menos 20 pessoas foram mortas por assaltantes na Capital nos primeiros seis meses do ano. É o dobro dos latrocínios registrados no mesmo período do ano passado.
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Uma realidade que contraria a da vizinhança. Se forem considerados os dados dos demais 18 municípios da Região Metropolitana avaliados no levantamento de assassinatos do Diário Gaúcho houve uma redução de 56% dos casos de latrocínios no mesmo período.
Em julho, mês em que a Capital não havia registrado nenhum latrocínio em 2015, o personal trainer Marcel Friedrich Thomé, 33 anos, foi a última vítima desse tipo de crime. A 18ª DP investiga o caso ainda com poucas pistas dos criminosos. A suspeita é de que ele foi atingido por dois tiros que partiram de trás do seu carro quando arrancou o veículo na tentativa de fugir dos bandidos. Se não tivesse reagido, teria sobrevivido? Em 2016, isso é impossível saber. Os casos comprovam que a regra de simplesmente não reagir ao roubo já não se aplica.
Prende e solta
– Nós temos intensificado o trabalho em áreas consideradas prioritárias com barreiras e abordagens, mas o que vemos é um retrabalho, com as prisões de quem já deveria estar preso. E essa impunidade dá mais coragem ao criminoso. Ele acaba não pensando duas vezes antes de atirar, porque não teme uma punição rigorosa – acredita a tenente-coronel Najara Santos da Silva, que responde interinamente pelo Comando do Policiamento da Capital.
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De acordo com o comando da corporação, a prioridade do reforço no policiamento da Operação Avante, iniciada este ano, é justamente a prevenção de roubos. Nesta semana, foi anunciada a ampliação deste reforço, que agora atua em conjunto com as duas Bases Móveis em Porto Alegre, nos bairros Santa Tereza e Rubem Berta. A ideia é aproximar o policiamento da comunidade e conter os homicídios.
OS LATROCÍNIOS*:
2011 – 11 casos em Porto Alegre / 9 casos na região
2012 – 7 casos em Porto Alegre / 13 casos na região
2013 – 15 casos em Porto Alegre / 11 casos na região
2014 – 15 casos em Porto Alegre / 15 casos na região
2015 – 10 casos em Porto Alegre / 25 casos na região
2016 – 20 casos em Porto Alegre / 11 casos na região
(*) Números de janeiro a junho de cada ano
Em Novo Hamburgo, zerou o índice
A cerca de 40 quilômetros de Porto Alegre, no entanto, Novo Hamburgo zerou o índice de latrocínios no semestre. Para que se tenha uma ideia, nos primeiros seis meses de 2015, a cidade do Vale do Sinos estava entre as líderes nesse tipo de crime na região, com sete vítimas.
– Nos esforçamos para garantir a polícia nas ruas e com planejamento – diz o comandante do 3º BPM, tenente-coronel Marcel Vieira Nery.
A partir dos reforços da Operação Avante, a BM mapeou os principais pontos de roubos, sobretudo de veículos, e intensificou barreiras dinâmicas e abordagens de maneira dinâmica.
– O policiamento nunca fica muito tempo em um mesmo lugar – resume o oficial.
Segundo ele, só nos primeiros seis meses foram presas 9,6 mil pessoas no Vale do Sinos. Menos de 10% seguem na cadeia.
– É retrabalho? Sem dúvida. Mas nós seguimos intensificando. Temos recuperado até 90% dos carros roubados na região, e isso vai minando os delinquentes. Eles sabem que de alguma maneira acabam sendo presos – afirma.