Polícia



Só no papel

Empresário admite ter lesado clientes ao não entregar casas pré-fabricadas em 10 cidades do RS

Pelo menos 15 pessoas afirmam ter sido vítimas da empresa, cujo nome que constava na fachada era Bella Vista

10/09/2019 - 10h50min

Atualizada em: 10/09/2019 - 10h51min


Ana Müller
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Robinson Estrásulas / Agencia RBS
Cenira Fagundes Aires, 53 anos, foi uma das vítimas da empresa

Problema na administração foi a justificativa dada pelo dono de empresa que vendia casas pré-fabricadas, mas não as entregava. Altemir Cardoso Lopes, 56 anos, é o proprietário da construtora que até cerca de cinco meses funcionava na Avenida Bento Gonçalves, no bairro Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre. Pelo menos 15 pessoas de todo o Estado afirmam ter sido vítimas da empresa, cujo nome que constava na fachada era Bella Vista.

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Sentado no corredor da 15ª delegacia de polícia da Capital, onde esperava para prestar depoimento, o empresário conversou com a reportagem. Disse que nunca teve a intenção de lesar os compradores, mas admitiu que não cumpriu contratos. Quantas moradias deixou de entregar ele não sabe precisar.

— São muitas. Mas nunca tive a intenção de lesar ninguém. Foi problema  de administração. O que eu quero é trabalhar para concluir as obras — afirma.

O caso foi divulgado por GaúchaZH nesse domingo (8). Conforme o delegado Cesar Carrion, há contratos de pessoas que fecharam negócio com a empresa em 2017 e, desde então, esperam pelas moradias. As quantias nas quais as vítimas foram lesadas variam de R$ 4,5 mil até R$ 30 mil. Somado, o prejuízo total causado pelos suspeitos é de R$ 205,9 mil.

Segundo Altemir, o dinheiro que ele recebia de um comprador, utilizava para construir casas que já havia sido vendidas:

— E virou uma bola de neve.

Uma das pessoas que procuraram a polícia é Cenira Fagundes Aires, 53 anos, moradora do bairro Cristal, na Capital. Ela pagou R$ 6,4 mil por uma casa em Magistério, no Litoral. O contrato foi fechado em fevereiro deste ano, mas a obra nunca teve início. 

— Ele (Altemir) marcava de ir para Magistério, a gente ia e ele não — desabafa.

No site da Receita Federal, o endereço no qual está cadastrado o CNPJ que aparece nos contratos das vítimas fica em Viamão e não no bairro Lomba do Pinheiro, onde as pessoas garantem ter fechado negócio. Segundo o investigado, o local seria sede de uma madeireira, que ele administrou até 2014. Três anos depois, alega ter usado o mesmo CNPJ para abrir a construtora, ainda que tenha mudado o local da sede e a natureza da atividade.

Além de Altemir, um casal é apontado pelas vítimas como responsáveis pela construtora. Os dois também foram ouvidos nesta segunda (9).  Eles alegam ter se apresentado à 15ª DP depois de ter lido a reportagem.

— Não sou mal intencionado, tanto que vim sem advogado — afirma Altemir. 

 — Entregamos as intimações, nada de espontâneo — alega o delegado Carrion. 

O outro homem ouvido ontem disse que apenas trabalhava na Bella Vista. Já a mulher é proprietária de uma construtora, com sede em outro endereço de Viamão. Ela diz que empregou Altemir depois do fechamento da Bella Vista “para ajudá-lo”. 

A sede da Bella Vista, de acordo com Altemir, foi fechada porque ele não conseguia trabalhar sendo vítima de constantes ameaças:

— Como vou construir as casas se estiver preso? 

Questionado porque não devolve os valores às vítimas, alegou:

— Não temos como pagar — respondeu. 

 Suspeito diz ter sofrido agressões 

Além dos problemas administrativos, Altemir citou diversas vezes que vinha sofrendo ameaças. Disse que não procurou a polícia antes para registrar os casos porque entendia a raiva das vítimas. 

— As pessoas têm razão. Preciso terminar as obras. Quero resolver — garante. 

Ele contou ter decidido procurar a polícia no último dia 29. Altemir disse que estava sozinho na construtora em que trabalha, em Viamão, quando um homem teria se passado por cliente para, depois, agredi-lo. 

Marco Favero / Agencia RBS
Altemir mostra marcas no braço

— Disse: “não vai mais lograr ninguém”, para depois começar a me bater. Fiquei dois dias no hospital — alega o suspeito. 

Aos policiais, Altemir e o casal apontado pelas vítimas como responsáveis pela Bella Vista contaram que, com medo das ameaças constantes, a empresa de Viamão teria fechado as portas. 

— Não quero deixar ninguém mal, mas preciso de prazo — afirmou. 

Altemir garante que a prova de que não estaria mal intencionado é que  tem comparecido às audiências na Justiça. Vítimas ouvidas pela reportagem contaram que ele não esteve no Judiciário.

— Não fui naquelas que não recebi intimação. A sede da construtora está fechada. Me procuram lá — alega.

Tome cuidado

/// Antes de fechar negócio, é importante consultar o Procon para saber se a empresa tem histórico de reclamações. 

/// Pesquisar pelo nome do estabelecimento em sites como Reclame Aqui e procurar as páginas da empresa nas redes sociais podem evitar que seja vítima de golpe. Clientes lesados costumam se manifestar nesses locais. 

/// Não pague integralmente. A orientação é dar uma entrada, e quitar o resto do valor apenas na entrega da casa. 

/// Caso se sinta lesado, procure a Polícia Civil.



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