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Teoria da Relatividade

"Ganhamos outro sentido para observar o Universo", diz cientista sobre ondas gravitacionais

Thaísa Bergmann, astrofísica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, faz analogia com o corpo humano: se antes podíamos apenas ver, agora também será possível ouvir o Universo

11/02/2016 - 16h42min

Atualizada em: 11/02/2016 - 16h42min


Bruno Felin
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Brigitte Lacombe / Divulgação

Direto de Washington, onde participa da reunião anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência, onde apresentará uma palestra sobre buracos negros supermassivos, a astrofísica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Thaisa Bergmann comentou a comprovação da existência das ondas gravitacionais.

O que significa essa descoberta para a ciência?

Acho que significa mais uma vitória para a Relatividade Geral de Einstein. Comprova a previsão de que a matéria deforma o espaço-tempo e as ondas gravitacionais são produzidas quando a gente tem uma grande variação no campo gravitacional. Isso ocorre, por exemplo, quando tu tem um buraco negro orbitando outro ou uma grande estrela de nêutrons orbitando outra. Isso produz variações no campo gravitacional, as chamadas ondas gravitacionais, que são muito difíceis de detectar. Elas são variações do espaço-tempo mesmo, como se ele se espichasse e se contraísse. Assim como uma onda sonora empurra o ar, que vai e vem, uma onda gravitacional faz isso no espaço. Só que a amplitude dessa variação é muito pequena e difícil de detectar. Eles dizem que para essas ondas produzidas pela fusão dos buracos negros são o equivalente a espichar o espaço de um tamanho que é muito menor que um próton, que é uma coisa ínfima. Imagina o desafio tecnológico que é isso. Esses detectores lasers perpendiculares observam o espaço espichar em uma direção mais do que na outra, e demonstram que o espaço se expandiu mais em uma direção do que na outra. A grande diferença é que eles têm duas antenas, uma em Washington e outra na Louisiana, muito distantes uma da outra, e essas ondas foram detectadas nas duas.

A partir disso, que outros achados poderão surgir?

Começaremos a explorar o espaço de outra forma? A fusão desses buracos negros ocorreu em uma galáxia a 1 bilhão de anos-luz de distância. Se a gente consegue enxergar isso tão longe, sendo que são centenas bilhões de galáxias no Universo, teremos a possibilidade de observar esses eventos em outras galáxias também. Eu diria que, em princípio, a gente poderia ir além do horizonte visível do Universo hoje. Até aqui, a gente explora o Universo através da radiação eletromagnética. Essa onda gravitacional é uma coisa diferente, uma onda diferente. É como se até agora a gente usasse apenas o olho, que é justamente o comprimento de onda, a radiação ultravioleta, radiação X, ondas de rádio, infravermelho, todas essa ondas eletromagnéticas. Agora a gente poderá ouvir. Se faz essa analogia com o som por ser uma flutuação do espaço-tempo. Ganhamos outro sentido na observação do Universo, não só o olho. Por enquanto, o nosso limite visível é a radiação de fundo do Universo, de quando ele tinha 380 mil anos de idade, não vemos tudo que aconteceu antes, que seria o Big Bang, a formação das primeiras partículas e tudo mais. Em princípio, não tem nada que impede que a gente veja a radiação de ondas gravitacionais atrás dessa parede que é o nosso horizonte do Universo visível em ondas eletromagnéticas. Assim, a gente teria acesso ao início do Universo. Vamos ver quais serão os desafios tecnológicos para ver isso. A quebra de paradigma é ter acesso a outras manifestações do Universo.

E o legado do Einstein? Essa comprovação reforça ainda mais a importância dele para a ciência?

 Eu acho que ele foi o maior gênio que já existiu na face da Terra. Teve insights como esse, de que o espaço é curvo, que é uma coisa totalmente fora do senso comum. Uma das coisas maravilhosas que comprovaram a teoria dele foram as lentes gravitacionais, que se observa hoje com o telescópio Hubble, que existem devido à curvatura do espaço-tempo, que produz efeito no eixo gravitacional que se observa na radiação eletromagnética. Agora, provaram que a variação do campo gravitacional produz essas ondas gravitacionais superdifíceis de detectar, que os caras que apostaram nisso estão tendo o retorno agora. Essa procura é um desafio que alguns cientistas abraçaram desde os anos 1960. Einstein tinha esses insights baseados também nos chamados Gedankenexperiment, do alemão, que são experimentos mentais. Por exemplo, a constância da velocidade da luz levou ele a formular um monte de ideias, inclusive a de que o espaço era curvo. Ele começava a cogitar na cabeça dele o que isso implicaria nas coisas e, depois, claro, usava equações, com a colaboração de outros cientistas, até chegar a grandes conclusões, como a existência dessas ondas gravitacionais.


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