Jornada Mundial da Juventude
Papa se despede da Polônia pedindo atenção aos mais oprimidos
Pontífice também anunciou o Panamá como sede do próximo encontro dos jovens católicos, em 2019
O papa Francisco se despediu neste domingo dos poloneses com um dowidzenia (adeus), ao se aproximar da janela da sede da arquidiocese da Cracóvia, onde se alojou por cinco dias para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
Pe. Gerson Schmidt: "um mar de jovens"
Papa reza em silêncio por vítimas do Holocausto
– Muito obrigado pela acolhida calorosa. Antes de ir embora, quero dar a bênção a vocês, mas também pedir que não se esqueçam de rezar por mim – disse.
O Papa pediu a todos que o saudavam, a maioria jovens que participaram da JMJ, que rezassem juntos para a Virgem em sua própria língua, antes de se despedir em polonês, provocando aplausos.
– É um momento de encontro e fé para todos os países escutarem a Deus _ celebrou Robson Scheneider, jovem de Giruá (RS) que participou da JMJ.
O último dia do Papa na Polônia começou com uma grande missa, durante a qual pediu aos jovens que façam do Evangelho o "navegador" de suas vidas e da oração o primeiro "chat" de cada dia. Também anunciou que a próxima edição da JMJ será em 2019 no Panamá. Será a primeira edição cem um país centro-americano.
– Os brasileiros vibraram com a escolha do Panamá, que permite uma participação ainda maior de nossos jovens – comentou o padre gaúcho Gerson Schmidt (veja relato abaixo), que também esteve no evento.
Na sexta-feira, Francisco presidiu em Cracóvia uma moderna Via Sacra com os jovens, durante a qual clamou pelos "excluídos" de todo o mundo: pobres, doentes, presos, desempregados, perseguidos, refugiados e imigrantes.
– Onde está Deus se no mundo existe o mal, se há pessoas passando fome, que não têm um lar, que fogem, que buscam refúgio? Rejeitamos dar hospitalidade aos que buscam uma vida melhor, que batem à porta de nossos países, igrejas e casas. São estrangeiros e os vemos como inimigos, tememos sua religião e pobreza – disse.
Confira relato do padre gaúcho Gerson Schmidt, de Cracóvia
"Do Papa aos jovens: ensinem-nos a viver na diversidade
A chegada do papa Francisco em dois momentos, na Vigília e na missa campal, trouxe emoção e fé ao mar de jovens acampados no Campus Misericordie. Os jovens levantaram ao ver o Papa nos inúmeros telões de centenas de setores pré-organizados, acessados devidamente com crachás, controle de entrada em uma super-organização de mais de dois anos.
Fizeram um silêncio universal de mãos dadas, no comando deste carismático Papa. Rezaram de joelhos na bênção do Santíssimo Sacramento, repicada em cada setor por um sacerdote que, em enormes barracas, reproduziam sincronicamente a mesma bênção com o Ostensório, feita no palco pelo Papa e apresentada nos telões. Fizeram uma ponte, dando-se as mãos, como símbolo de comunhão entre os povos tão divididos e em guerra, ícone de pontes que Francisco convidou a juventude a construir. "Tenham a coragem de nos ensinar a viver na diversidade como aqui acontece. Vocês são uma oportunidade de ensinar a nós, adultos", repetiam os tradutores da palavra pontifical, nos canais radiofônicos das diversas línguas.
Francisco desafiou os jovens a não ser "sofazeiros", a não se deixar seduzir pela "paralisia do sofá", paralisia do silêncio, de confundirem felicidade com comodidade. Fez apelo aos jovens para não ficarem hipnotizados, adormecidos, dopados, sugerindo que as mãos dos jovens se transformem em instrumentos de transformação, como protagonistas da sua história. "Deus quer suas mãos para construir", pregou o Papa. Em vibrante tom disse: "Deus espera algo de você! Deus espera você! Deus quebra os nossos isolamentos!". Agradeceu ao jovem Miguel, ex-drogado que, na Fazenda da Esperança de Casca no Rio Grande do Sul, disse que Deus lhe pedia algo especial.
As fazendas esperanças, que recuperam jovens com dependência química, espalhada em nossa nação e já existente em outras nações, são uma iniciativa do padre alemão Hanz Peter, iniciada no Brasil, pela inspiração da espiritualidade do movimento Focolares, movimento da unidade fundada por Chiara Lubich.
O sacerdote levou posteriormente essa experiência brasileira também para a Alemanha. O papa Francisco ainda desafiou o jovem a dar melhor de si para o mundo ser diferente. Embora acampados com saco de dormir, barracos ou espumas simples, muitos jovens ficaram cantando madrugada adentro. Muitos jovens quase nem dormiram. O sereno e orvalho da noite nos obrigou a ter agasalho e cobertor.
Acordados por um bom dia em todas as línguas das nações, participamos da oração matutina e de apresentações até a chegada do Papa para a missa campal. O Papa lembrou ao jovem, na homilia, que como Jesus chamou Zaqueu pelo nome e pediu que descesse do sicômoro logo para estar em sua casa, Cristo chama cada jovem pelo nome para também voltar para sua casa, sua história, sua vida.
A hora esperada do anúncio da próxima jornada é sempre vibrante. Os brasileiros vibraram com a escolha do Panamá, que permite uma participação ainda maior de nossos jovens. Depois da bênção papal, a volta aos alojamentos é sempre complicada para essa multidão sair do mesmo ponto.
Os bondes, na linha que tomamos tiveram um blecaute pela superlotação. Tivemos que retomar a caminha a pé de 10 quilômetros, como na vinda, com chuva e sol alternados por mais de duas vezes. Eu, no meio deles, apertado por todos os lados, com duas mochilas de peregrino. Mais contente com a empolgação dessa juventude, por ver um rosto jovem de nossa Igreja, na esperança de um mundo mais unido."