Colegas na estrada
Comédia com portadores de Síndrome de Down chega ao circuito
Comédia Colegas, de Marcelo Galvão, saiu vencedora do mais recente Festival de Gramado
Entre as inúmeras citações de Colegas, bom filme brasileiro de Marcelo Galvão que estreia nesta sexta-feira, há uma a Psicose, o clássico cujos bastidores inspiraram Hitchcock, outro a entrar em cartaz no circuito: é quando o trio de protagonistas, interpretados por atores com Síndrome de Down, bate à porta de um tal Bates Motel e dialoga com um sujeito que é a cara do Norman Bates imortalizado pelo mestre do suspense.
Principal vencedor da edição mais recente do Festival de Gramado, Colegas tem dezenas (é tudo isso, você vai ver) de referências explícitas a filmes icônicos do século 20, do 8 1/2 de Fellini ao Jules e Jim de Truffaut. Simboliza, na celebração do cinema, a exaltação à vida como um todo. É esta a sensação que se tem assistindo à jornada dos jovens interpretados por Breno Viola, Rita Pokk e Ariel Goldenberg.
Logo no início de Colegas, vê-se o trio fugindo da instituição na qual vive internado com o Karmann Ghia do jardineiro do lugar. O objetivo é realizar o sonho de cada um deles: voar como um pássaro, no caso de Márcio (Viola), arrumar um bom partido para se casar, no de Aninha (Rita), e ver o mar pela primeira vez, no de Stalone (Goldenberg). O que eles acabam fazendo é tocar o terror na estrada rumo ao sul do Brasil.
Pense no que um filme sobre portadores de Down presumidamente poderia ter de politicamente correto. O quinto longa do carioca Marcelo Galvão (de Rinha e Bellini e o Demônio) é o contrário disso. Os três incorporam ao seu vocabulário adjetivos ofensivos inclusive sobre si próprios, assaltam quem cruza o seu caminho anunciando-se como "retardados perigosos". Longe da autocomiseração, têm uma capacidade de rir de si mesmos que causa no espectador um efeito particularmente estimulante.
Não confunda gêneros: Colegas é uma comédia escrachada com espírito de road movie e uma pegada nonsense feita na medida para quem quer diversão descompromissada e desprovida de falsos moralismos. Também não faz da forma sua principal força motriz, o que não o caracteriza como um "filme de festival", apesar da recepção calorosa em Gramado e da vitória, surpreendente e discutível, numa competição que também tinha o ótimo O Som ao Redor, de Kléber Mendonça Filho (que acabou ficando com o Kikito de direção, entre outros). Mas é um filme que merece ser visto - tem qualidades para conquistar plateias se tiver tempo e espaço suficientes para isso no circuito.
"Vem, Sean Penn!"
Além do Kikito de melhor filme, Colegas rendeu ao seu trio de protagonistas um prêmio especial do júri em Gramado. No espírito do filme, Ariel Goldenberg, Rita Pokk e Breno Viola brincaram com todos na Serra, fazendo discursos divertidos e, inclusive, revelando o objetivo de ganhar um Oscar.
Agora, antes da estreia no circuito, lançaram um vídeo que se tornou viral nas redes sociais (teve mais de 100 mil views num único dia no YouTube), no qual Goldenberg conclama seu ídolo Sean Penn a prestigiar a pré-estreia do longa. Vencedor de dois Oscar (por Sobre Meninos e Lobos e Milk - A Voz da Igualdade), Penn interpretou, em Uma Lição de Amor (Im Sam, 2001), um homem com a capacidade mental de um menino de sete anos.
Colegas terá sessão especial com audiodescrição neste sábado, às 9h30min, no Espaço Itaú, em Porto Alegre. Informações para esta seção: (51) 3384-1851.
Colegas
De Marcelo Galvão. Com Ariel Goldenberg, Rita Pokk, Breno Viola, Lima Duarte, Deto Montenegro, Leonardo Miggiorin, Marco Luque e Juliana Didone.
Comédia, Brasil, 2012. Duração: 99 minutos. Classificação: 14 anos. Estreia nesta sexta-feira no circuito (veja as salas no roteiro de cinema).
Cotação: 3 de 5 estrelas.
O trailer: