Desigualdade
Discurso de Charlize Theron reacende debate sobre machismo em Hollywood
Atriz cobrou mais mulheres em filmes de ação e salários iguais para atores e atrizes
Estrela de Branca de Neve e o Caçador 2, Charlize Theron endossou recentemente o coro de profissionais de Hollywood que pedem igualdade de salário entre homens e mulheres e mais protagonismo feminino nos filmes. Capa da edição de junho da revista Elle, a atriz contou que exigiu dos produtores do filme um salário igual ao de Chris Hemsworth, que interpreta o caçador no título. Com isso, ela reforça exigências que já foram feitas por Patricia Arquette, Cate Blanchett e Tina Fey, entre outras estrelas do cinema americano.
- Nós temos que bater pé. É um bom momento para chegarmos a uma situação de justiça, e meninas têm que perceber que feminismo é uma coisa boa. Não significa que odiamos homens, significa direitos iguais. Se você está fazendo o mesmo trabalho, você deveria ser paga e tratada da mesma maneira - disse Theron à revista.
"A mulher ainda é tratada como objeto", diz Helena Ranaldi
Atrizes de Hollywood ainda sofrem com machismo
Hollywood machista: atrizes recebem menos do que atores nos EUA
A discussão ganhou ainda mais força no final do ano passado, quando o vazamento de e-mails da Sony revelou que atrizes como Jennifer Lawrence recebiam menos do que seus colegas, como Bradley Cooper e Christian Bale. Talvez incentivada por essa informação, Patricia Arquette aproveitou o discurso no prêmio de melhor atriz coadjuvante no Oscar deste ano para exigir salários iguais:
- A cada mulher que deu à luz, para cada cidadã pagadora de impostos, é nossa hora de ter igualdade salarial de uma vez por todas e direitos iguais para as mulheres dos Estados Unidos da América!
Premente, o debate inclui também a escolha de papéis para atrizes em Hollywood. Na mesma entrevista à Elle, Charlize Theron destaca o fato de atrizes terem pouco protagonismo em filmes de ação. A cineasta e escritora Maynara Fanucci lembra que isso é apenas mais uma faceta do machismo vigente na sociedade - e que uma discussão profunda sobre isso pode ajudar na conscientização:
- Mulheres também sofrem com questões de cobranças físicas, por exemplo: mulheres que passam dos 40 não são mais "boas" o suficiente para desempenharem certos papéis, enquanto homens chegam aos 80 anos desempenhando papéis vigorosos. E sempre com atrizes mais novas. Acho fundamentalmente importante discutir isso, porque traz à tona uma questão que muitas pessoas não enxergam, principalmente mulheres - avalia.
Maynara lembra que, recentemente, em um episódio da série Inside Amy Schumer, Tina Fey, Patricia Arquette e Julia Louis-Dreyfus protagonizaram uma esquete em que ironizam a situação vivida por atrizes de Hollywood: as três, em um piquenique, comemoram o "last fuckable day" (ou "último dia fodível") de Louis-Dreyfus, um dia em que a mídia decide que atrizes não são mais jovens e sensuais. Quando perguntadas quando chega o "last fuckable day" dos atores, todas gargalham e dizem que isso não existe.
- Eu acho esse tipo de discussão fundamental. É só mais uma das manifestações da cultura machista e misógina. Sabemos o quão problemático isso é, mas é romantizado pela sociedade e pela mídia - diz a cineasta.
Para tentar mudar isso, atrizes de Hollywood lançaram recentemente a campanha #askhermore, pedindo que a mídia repense a maneira como trata mulheres. O símbolo da campanha é uma imagem em que Cate Blanchett é filmada de cima a baixo e pergunta: "Você faz isso com homens?".
No Brasil, a situação parece não ser muito diferente. Em reportagem de dezembro, a crítica de cinema Ana Maria Bahiana disse que "grandes filmes ainda são impulsionados por papéis masculinos" e que, desde que começou a cobrir a indústria de perto, "isso não mudou muito". Talvez por isso, em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, em abril, a atriz Helena Ranaldi tenha respondido:
- Se a mulher deixa de ser jovem e bonita, ela perde seu valor. Mesmo com tudo que já se conquistou, inclusive com a eleição de uma presidente da República, ainda hoje a mulher é colocada como objeto.
*Zero Hora