Venda de material de construção aumentou
O empurrão que faltava para reformar a casa
Lojas vendem mais neste ano. Liberação das contas inativas do FGTS é apontada como um dos fatores para o aumento.
Os brasileiros decidiram arregaçar as mangas e colocar as mãos na massa corrida em 2017. Aquela reforma da casa (da pintura a um novo piso) adiada no auge da crise econômica está saindo do papel. O movimento nas lojas de materiais de construção denuncia esse fenômeno. Dados da Pesquisa Tracking Mensal da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco) revelam que o setor apresenta crescimento de 6% em vendas entre janeiro e maio. Em 2015, caíram 5,8% e, em 2016, 6%.
– O nosso público consumidor é quem está fazendo a reforma da casa, nada a ver com a indústria da construção. Depois de dois dos piores anos da história do nosso setor, estamos apresentando um ritmo constante de recuperação – comemora o presidente da Anamaco, Cláudio Conz.
Leia mais
Criançada em casa nas férias? Cuidado para não extrapolar com os gastos
Justiça Federal paga R$ 101 milhões em RPVs no RS: veja como conferir se você está entre os beneficiados
Pelo menos três fatores explicam esse crescimento. Conz destaca que as pessoas cansaram de adiar a reforma por causa da crise. Afinal, a vida continuou, a família cresceu e não dava mais para segurar. Outra razão está na insegurança de se partir para o financiamento de um novo imóvel, o que leva muita gente a reformar a casa onde mora e seguir nela. Para completar, a Anamaco aponta que a liberação do saldo das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) deu o empurrão final para os clientes partirem às compras.
Cenário mais positivo
A tendência esperada pelas lojas é de que as vendas sigam aumentando gradualmente neste ano. A projeção é fechar 2017 com aumento de 5% nas vendas, partindo para a esperança de 10% de crescimento em 2018. Já na indústria da construção civil, de grande projetos e condomínios, o ritmo e o otimismo não são os mesmos, por enquanto. Segundo a última Sondagem Indústria da Construção, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o cenário permanece difícil. Os indicadores continuam apontando queda da atividade e do emprego, mas revelam um cenário menos negativo que o do ano passado.
– O ritmo não é o mesmo das lojas de varejo porque a indústria lida com projetos de longo prazo. Então, o efeito demora mais a aparecer na atuação das grandes construtoras, elas se recuperam um pouco depois. Agora, o cenário é mais positivo para este ano, esperamos crescimento para o segundo semestre após três anos de quedas consecutivas – projeta a analista de política econômica da CNI Flávia Ferraz.
Enquanto isso, quem pretende tocar a reforma em casa busca qualificação e tenta fazer mais sozinho, sem depender somente de profissionais contratados. Diretor de ensino de uma escola da Zona Norte da Capital que oferece cursos na área, Wagner Goulart Pinheiro afirma as compras nas lojas de construção estão mais qualificadas por causa disso.
– Creio que 90% dos nossos alunos não irão trabalhar na construção, eles estão se qualificando para usar os conhecimentos nas reformas de suas casas. E estão sabendo como comprar bem os materiais, equilibrando qualidade e preço, sem comprar demais e desperdiçar depois.
De olho no piso novo
Faltam poucos dias para a aposentada Anadir Santina Mario, 70 anos, moradora do Bairro Partenon, em Porto Alegre, admirar da janela o piso novo no pátio e na calçada de casa. Os trabalhos começaram em abril, após fazer economias e muita pesquisa de preços.
– Olha aqui as mãos, estava limpando lá atrás, pegando junto na obra. Antes, o pátio parecia um rali, tinha aquelas lajotas antigas ainda. Esses rapazes que trabalham aqui são muito bons – diz Anadir, fazendo os pedreiros sorrirem com o elogio.
O segredo para a reforma virar realidade começou por fazer uma reserva maior do que o previsto, porque obra sempre acaba exigindo um pouco mais de dinheiro. E, depois, pesquisa de preços dos materiais e até dos carretos:
– Teve um dia que queriam me cobrar R$ 70 para uma entrega, mas nas duas lojas anteriores tinham cobrado R$ 60. Ué, por que o aumento? Não, mesmo. Falei que iria pagar os mesmos R$ 60, e eles aceitaram.
Há oito anos como pedreiro, Uziel dos Santos, 30 anos, encaminha o fim da obra na casa de Anadir. Ele e a equipe capricham para deixar um "cartão de visitas" que traga mais serviços.
– Tem muita gente que fazia obra e que está parada, sem trabalho. Dias atrás, dei um orçamento para uma reforma que incluía um auxiliar de pedreiro. Pois o próprio morador quis trabalhar como ajudante para economizar – conta Uziel.