Não está fácil
Mas que dureza! O povo dá dicas para ministra viver "só" com pouco mais de R$ 30 mil por mês
Luislinda Valois gerou o maior tititi ao afirmar que não dava para comer, beber e calçar com R$ 33,7 mil por mês. O povo criticou a atitude da titular dos Direitos Humanos
Ministra dos Direitos Humanos, Luislinda Valois causou polêmica ao apresentar ao governo um pedido para acumular o seu salário com o de desembargadora aposentada, o que lhe garantiria vencimento bruto de R$ 61,4 mil. A informação veio a público nesta quinta-feira (2). No documento de 207 páginas, ela reclamava que, por causa do teto constitucional, "só" podia ficar com R$ 33,7 mil do total das rendas. A ministra dizia que essa situação, "sem sombra de dúvidas, se assemelha ao trabalho escravo". Ela questionava ainda como poderia "comer, beber e calçar" com esta remuneração. À tarde, com a péssima repercussão, desistiu do pedido.
Mas antes disso, ainda pela manhã, ela foi entrevistada no programa Timeline, da Rádio Gaúcha, e explicou seus motivos:
– É meu direito peticionar (fazer uma petição). Recebo aposentadoria porque trabalhei mais de 50 anos e paguei todas as minhas obrigações previdenciárias. Isso não se discute porque é direito adquirido. Moro em Brasília, trabalho de 12 a 14 horas por dia, de segunda a segunda, e recebo um salário (de ministra) de menos de R$ 3 mil. O Brasil está sendo justo comigo? Citei a escravidão porque (na época) não se tinha salário nem nada.
Mudança de hábitos
Mas não houve argumento que pudesse aplacar o mal-estar causado pela reivindicação, em especial em um país mergulhado no desemprego e na escassez de dinheiro público para atender às necessidades mais básicas da população, como segurança, saúde e educação. O assunto ganhou as ruas da Capital. O adestrador Dênis Rivaroli, 41 anos, que sustenta uma filha adolescente com uma renda de R$ 2,5 mil, protestou:
– Está faltando ela olhar mais para a realidade do país onde vive. Ter uma remuneração de R$ 33 mil e reclamar do teto constitucional é um desrespeito com a gente, que trabalha duro e paga o imposto pra pagar o salário dela.
O agricultor Adriano Nascimento da Silva, 17 anos, que teve de interromper os estudos para ajudar os pais a colher e vender abacaxi para gerar uma renda digna à família (por mês, ele, a mãe e o pai vivem com R$ 2,5 mil), usou da ironia para criticar:
– Quem sabe ela dispensa uma das três empregadas e dá um tempo no caviar para ver como dá para viver muito bem com R$ 30 mil por mês.
Mau planejamento financeiro
Analisando a situação sob o ponto de vista das finanças pessoais, o economista Alfredo Meneghetti Neto afirma que não é injusto uma pessoa querer ganhar mais pelo seu trabalho, mas quando tem um salário relativamente alto e, mesmo assim, reclama que quer mais, isso indica um mau planejamento financeiro.
– Há muita gente com salário alto, acima da média brasileira, mas que não forma patrimônio nem tem disciplina nos gastos. Então, nunca o dinheiro é suficiente – afirma.
Fala, povo! O que você diria para a ministra que não acha suficiente viver com R$ 33,7 mil por mês?
– Quero propor que a ministra troque de lugar comigo. Acorde às 5h para pegar ônibus, volte para casa no final da tarde e passe cozinhando até a madrugada pra vender no dia seguinte. E eu, só de motorista, ar-condicionado, carne de primeira e viagens com o presidente.
Eneli Goulart, diarista, cozinheira e ambulante, 54 anos
– A pessoa, quando ganha demais e gasta com futilidade, parece que perde a noção do valor do dinheiro. R$ 33 mil é muito dinheiro, é mais do que ganha 99% da população. É uma vergonha dizer uma coisa dessas.
Paulo Haro, fotógrafo, 51 anos
– Acho que a ministra anda visitando muito a seção de importados, com caviar, vinhos etc. Para quem ganha muito e gasta mal, nunca o dinheiro tem limite.
Dênis Rivaroli, adestrador, 41 anos
– Justamente uma ministra de Direitos Humanos, que convive com os mais necessitados, dizer uma coisa dessas é um absurdo. Acho até que ela ganha mais do que deveria. Vá comparar com quanto ganha o trabalhador da vida real.
Paula Caroni, artesã, 36 anos
– Com um salário desses, passaria a comer mais carne e alguma coisa diferente no supermercado. Se ela acha que trabalha duro, vou pedir pra ela me ajudar a plantar e colher abacaxi, dormir na carreta, passar o dia de sol vendendo na rua. E aí a gente poderia dividir os salários.
Adriano Nascimento da Silva, agricultor, 17 anos