A cena clássica de pais se despedindo dos filhos na frente da escola é bem diferente da vivida pela família Oliveira. Ao contrário da maioria dos casais, que já cumpriram esta etapa, o auxiliar de serviços gerais José Rodrigues de Oliveira, 46 anos, e a office girl Milca Santos de Oliveira, 46 anos, ainda frequentam uma escola pública. E, como se isso não bastasse, são colegas do próprio filho.

Desde o começo do ano, o casal e Mateus, 17 anos, estudam na Escola Estadual de Ensino Médio Rafaela Remião, no Bairro Lomba do Pinheiro, na Capital. Milca e José estão mais adiantados, no terceiro ano, com formatura prevista para dezembro. O filho, que estuda no primeiro ano, se formará em 2014.

Trio sai de casa às 18h45min

Esta semana, a reportagem acompanhou a família no deslocamento de casa até o colégio. Saem às 18h45min e voltam após às 22h30min.

- No começo foi difícil para se adaptar. Mas como eu conhecia alguns guris aqui do bairro, depois ficou mais fácil - afirma José.

Por trás de uma simples coincidência familiar está uma história de amor, dedicação e valorização do saber. E a aventura da família Oliveira foi repleta de surpresas.

Depois de concluir a antiga oitava série, Milca parou de estudar. O pai não permitia que ela trabalhasse de dia e estudasse à noite.

Em 2009, na mesma turma

Em 2009, quando decidiu voltar à sala de aula, ela matriculou-se no primeiro ano do ensino médio para estudar ao lado de colegas bem conhecidos: o marido e os outros dois filhos, Rodrigo e Lucas, que haviam concluído o fundamental no ano anterior. Na época, Mateus estava na sétima série. Os quatro sentavam em classes próximas e formavam um dos grupos de trabalho mais colaborativos da sala.

- Decidi esperar o José e os guris terminarem os estudos para ingressarmos juntos na escola. Queria ficar perto do Rodrigo, que sofre de déficit de atenção, para ajudá-lo - relembra a aluna, mãe e hoje líder de turma.

Casal ajuda os professores

Este ano, o casal está numa turma e o filho menor, Mateus, 17 anos, em outra. Os outros dois filhos estão trabalhando. Milca, José e Mateus saem e voltam para casa juntos. Um incentiva e ajuda o outro na hora de estudar, principalmente para as provas. Por serem mais velhos que a maioria dos alunos, com idade entre 15 e 18 anos, os pais de Mateus auxiliam os professores.

Representantes dos alunos

Eles pedem para os colegas prestarem atenção na aula e os representam perante o mestre ou a direção.

- Pessoas com mais idade não querem perder tempo. Querem aprender e que a turma colabore para isto. Neste aspecto, eles ajudam os professores - diz a diretora da escola, Maria Silvarina Garcia dos Santos.