Litoral Norte
Não há médicos para atender em Quintão
Moradores reclamam que só há profissionais à disposição duas vezes por semana no Pronto Atendimento. Cidreira também enfrenta problemas
Se precisar de atendimento médico, o morador ou veranista de Quintão deve torcer para que isso aconteça em um dos dois dias em que há médico à disposição no Pronto Atendimento de Saúde (Avenida dos Bancários). Há quase um mês, resta à população apelar para vizinhos: o município de Balneário Pinhal, ou a Palmares do Sul, sede do distrito, que fica a 60km.
A estrutura do Pronto Atendimento fica praticamente ociosa fora das quartas e quintas-feiras, em horário comercial, pois no local resta apenas a equipe de enfermagem.
É difícil marcar consultas
- Nós temos dia e hora para ficar doentes - reclama Clara Regina Ignácio dos Santos, 51 anos, membro da Comissão Representativa dos Interesses de Quintão.
O marido de Clara, o aposentado Sérgio Gomes dos Santos, 59 anos, tem diabetes, pressão alta e problema na próstata. Precisa consultar para saber se continua com a mesma medicação, mas não consegue.
Moradora tem medo de adoecer
Mara Lúcia Ranzolin Oliveira, 59 anos, trocou a cidade pela praia para ganhar qualidade de vida, mas vive com medo de adoecer ou de ter agravados os problemas de nervos, reumatismo, hipertensão e pele. Nem sempre tem dinheiro para pagar a passagem de ônibus até Palmares. Com a falta de medicações no posto, ela tem recorrido à unidade de Balneário Pinhal.
Dentista também não tem...
Membros da Associação Comunitária dos Amigos e Veranistas Frades (Ascaf), da Associação Comunitária Santa Rita e do Clube de Mães Joana D'Arc também estão mobilizados na busca por melhorias na saúde em Quintão.
No Posto de Saúde da Família (PSF), por exemplo, faltam médicos, remédios e a equipe de agentes está incompleta. Ambulâncias estragadas e a falta de dentistas no Pronto-Atendimento - o consultório virou depósito: até uma bicicleta foi largada na sala - são outras necessidades apontadas.
A secretária da Saúde de Palmares do Sul, Maria de Lourdes de Santana, afirma que a contratação de novos médicos para o balneário suprirá também o PSF. Os medicamentos, diz, atrasaram em função da demora na realização do pregão eletrônico. Maria informa que também está sendo providenciada a reposição dos dentistas. As duas ambulâncias devem ser consertadas esta semana.
Problema é o salário, afirma secretária
A secretária Maria de Lourdes explica que, por sete anos, o atendimento médico em Quintão foi feito no sistema de plantões, considerado irregular pelo Tribunal de Contas do Estado. Após um concurso público, três médicos assumiram em abril deste ano. Em maio, dois se exoneraram.
- Eles (os médicos) querem ganhar mais, mas o município não pode ultrapassar 51% com folha de pagamento. E não poderia ser maior por causa da lei: ninguém pode receber mais que o prefeito (salário entre R$ 7,2 mil e R$ 7,7 mil) - explica Maria (O salário de médico em Quintão, para 20 horas, é de R$ 3,5 mil a R$ 3,6 mil. O piso da categoria, porém, é de R$ 9,8 mil para 20 horas.)
Chegou a ser aberto edital para contratação de quatro médicos, mas não houve interessados. Agora, a prefeitura vai tentar a contratação emergencial.
Cidreira vive o mesmo drama
Em Cidreira, os usuários do Sus também enfrentam dificuldades. Aos cinco meses de sua primeira gestação, a dona de casa Danielly Almeida de Souza, 20 anos, vive a angústia da falta de atendimento. Depois da primeira consulta do pré-natal, no PSF 2, exames apontaram que ela tem hepatite B e que precisaria de encaminhamento de pré-natal de alto risco, em Tramandaí. Segundo ela, no posto não havia a guia disponível para o encaminhamento.
- É uma gravidez de alto risco. Eu preciso iniciar o tratamento e ainda não estou fazendo. É um mísero papel, por pouca coisa, que não tem no posto - desabafa.
Além do caso de Danielly, os moradores citam a falta de clínico geral nos PSFs 1 e 2 e a falta de vacinadoras. No sábado passado, a comerciante Cândida Cristina Fernandes Pereira, 33 anos, afirmou que não havia médico nem no posto 24 horas.
- Sou moradora (de Cidreira) há seis anos e nossa saúde está um caos - diz a artesã Rosane Ferreira, 52 anos.
O que diz a prefeitura
O secretário da Saúde de Cidreira, Maurício Brizol Tomazzini, afirma que só soube do caso da gestante ontem, mas informa que a consulta de Danielly está marcada no Hospital de Tramandaí na sexta-feira. Conforme Maurício, nos PSFs falta apenas um médico, mas já está sendo providenciado um contrato emergencial.