Saúde
Ausências nas consultas do SUS chegam a 50%
Média de faltas a consultas agendadas na Capital, em 11 especialidades, chega à metade dos horários marcados. Faltas custam R$ 376 mil aos cofres públicos
Enquanto 77.900 pessoas aguardam na fila por uma consulta com um médico especialista (cardiologista, ortopedista, etc), na Capital, há outras que integram uma estatística que não é motivo de orgulho. Entre os horários agendados em 11 especialidades, o número de pacientes que não comparecem chega à metade. Ou seja, de cada dois pacientes agendados, um não aparece para consultar.
Além de prejudicar o andamento da fila, as ausências também pesam no bolso dos cidadãos. No primeiro semestre deste ano, as faltas às consultas (veja quadro abaixo) representaram um custo de R$ 376,8 mil aos cofres da prefeitura.
Após ser encaminhado ao especialista, o paciente é avisado, por telefone, pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS), da data e hora da consulta.
- Usuário confirma, mas não vai
- Esse não comparecimento é de pessoas que há 15 ou 20 dias foram contatadas pela secretaria, confirmaram a necessidade da consulta e tiveram o horário marcado - explica o titular da SMS, Marcelo Bósio.
Na tarde de ontem, o Diário Gaúcho acompanhou por duas horas as consultas de oftalmologia no Hospital Vila Nova. Estavam agendados 55 pacientes para ser atendidos entre 13h e 18h. Mas apenas 17 compareceram.
- Existe estrutura, investimento, equipamentos. Tem horas em que ficamos ociosos, e isso é ruim - diz o oftalmologista Carlos Alberto Stein, 36 anos.
Ele lembra que não é possível agendar um número maior de pacientes para ocupar o espaço das eventuais faltas, pois se todos vierem, a qualidade de atendimento será prejudicada. O enfermeiro Fernando Vieira, 33 anos, que realiza a triagem e o preparo antes da consulta, diz que o tempo livre é ocupado com serviços internos.
- A nossa média tem sido entre 20 e 30 pacientes atendidos por turno, com mais de 50 agendados.
A avaliação da secretaria
O secretário Marcelo Bósio afirma que existem diversos motivos para o não comparecimento, mas destaca que é fundamental avisar a secretaria o quanto antes, para que outra pessoa possa ser chamada.
- As pessoas estão se prejudicando e a outros também. Precisamos da ajuda da população para resolver esse problema - apela.
Segundo a avaliação dele, são em casos mais simples que ocorre o maior número de faltas, já que o paciente pode ter uma melhora e achar que não precisa mais do atendimento.
A secretaria criou, em alguns postos, o grupo dos faltosos, para conscientizar os pacientes sobre a importância de não deixar de ir à consulta. É uma forma de tentar controlar essa situação.
"Fiz a minha parte"
Depois de esperar um ano para atendimento com o oftalmologista, o aposentado Cláudio Guidugle, 72 anos, não cogitou deixar de comparecer ao horário marcado para ele no Hospital Vila Nova. Saiu de casa, no Bairro Petrópolis, às 8h30min, apesar de sua consulta ser só às 13h, e aguardou a chamada. Deixou o consultório mais aliviado por saber que está recebendo cuidados.
- Eu vim porque estou doente. Fiz a minha parte, a gente precisa. Se eu não vier, tiro a vaga de outra pessoa e perco a consulta - ressalta.
ESPECIALISTAS TAMBÉM ESTÃO EM FALTA
A informatização da Central de Marcação de Consultas, no início do ano, permite saber quantas pessoas esperam por consulta com especialista na Capital.
Em abril deste ano, o Diário Gaúcho mostrou que eram 83.331 à espera de atendimento em diversas áreas. Três meses depois, o número está em 77.900. Além das faltas dos pacientes, que contribuem para que a fila não ande, outras dificuldades existem: a demanda reprimida (pessoas que esperam há anos por consulta), falta de especialistas em algumas áreas e a dificuldade em localizar pacientes, que mudaram de telefone ou endereço.
Faça a sua parte
- Se você não puder comparecer à consulta agendada, telefone para o 156 e avise com a maior antecedência possível.
- Esse número também vale para atualizar seus dados, caso você tenha trocado de telefone ou de endereço.
Números da ausência
As 11 especialidades listadas abaixo são as campeãs de faltas. No total, foram oferecidas 87.629 consultas para essas áreas no primeiro semestre de 2012. De acordo com a média de ausências da secretaria, pelo menos metade delas não se realizou, representando um custo de R$ 376.804,70.
Segundo a Secretaria da Saúde, os hospitais recebem um valor fixo pelas consultas oferecidas, não importa se foram realizadas ou não. Esse número contempla o uso da estrutura (consultórios, equipamentos) e o salário da equipe (médicos, enfermeiros). Por isso, se o paciente não vai, o dinheiro é desperdiçado.
Percentual de faltas
- Cirurgia vascular - 27%
- Cardiologia - 27%
- Neurologia - 35%
- Ortopedia - 43%
- Cirurgia geral - 44%
- Urologia - 44%
- Oftalmologia - 46%
- Reumatologia - 50%
- Proctologia - 59%
- Gastroenterologia - 65%
- Otorrinolaringologia - 66%
Pacientes na fila
Ortopedia coluna 5.275
Ortopedia geral 4.617
Neurologia 4.448
Ortopedia joelho 4.075
Otorrinolaringologia adulto 3.838
Proctologia 3.597
Cirurgia geral 3.161
Oftalmologia adulto 3.256
Cirurgia plástica 2.646
Urologia 2.083
Ortopedia ombro 1.772
Cirurgia vascular adulto 1.654
Endocrinologia 859
Nefrologia 621
Dermatologia zero