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Avanço da Gripe A

Vacinação restrita amplia risco de mortes no Estado

No Estado, até agora, 13 pessoas já morreram devido ao vírus H1N1. O número põe em dúvida a política de imunização gratuita apenas para grupos de risco

04/07/2012 - 06h48min

Atualizada em: 04/07/2012 - 06h48min


Saiba como prevenir a doença

A confirmação de 13 mortes por gripe A neste começo de inverno no Estado, contra as 14 ocorridas em todo o ano passado, lança dúvidas sobre a política de imunização contra a doença.

Em 2010, no primeiro ano em que a vacina esteve disponível, o governo investiu pesado na aquisição de doses e protegeu - de graça -mais de 5 milhões de gaúchos. Não houve nenhum caso do vírus e nenhuma morte no Estado, contra 297 em 2009.

- Critérios mudaram

No ano passado, a vacinação gratuita ficou restrita a grupos considerados de risco - cerca de 1,5 milhão de pessoas. Os casos de gripe A e as mortes voltaram. Neste ano, estão atingindo pessoas que não estão nos grupos de risco. Uma vacinação mais ampla teria evitado as mortes?

A questão ganha importância porque o inverno deve começar para valer nesta semana, aumentando os risco de transmissão da doença. Sem doses suficientes para imunizar toda a população, o Estado viu morrerem neste ano cinco pessoas na faixa etária de 20 a 39 anos, que, em 2010, no primeiro ano da campanha, foram imunizadas gratuitamente.

- Estado não pode comprar

O Ministério da Saúde diz que segue a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para definir em quem aplicar as vacinas contra a gripe A. Já o secretário de Estado da Saúde, Ciro Simoni, garante que não vacina mais gente porque não consegue comprar doses além das repassadas pelo governo federal.

- Não tenho como comprar a vacina, porque não existe vacina para vender. Se existisse, o Estado já teria comprado no ano passado - afirma.

Como atualmente não existiria maneira de adquirir mais doses, o secretário investe na remediação. Segundo ele, há Tamiflu - medicamento usado para combater os sintomas da gripe A - suficiente para os mais de 10 milhões de gaúchos.

No começo da noite de ontem, a Secretaria Municipal de Saúde confirmou mais quatro casos de gripe A em Porto Alegre.

Não haverá vacinação em massa

Ao esclarecer que o Ministério da Saúde segue a recomendação da OMS, o diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Claudio Maierovitch, comenta que a vacinação em massa exige mais tempo e poderia atrapalhar na defesa dos grupos de risco.

- Naquela época (2010), a estratégia foi completamente diferente, porque se tratava de uma pandemia (epidemia generalizada), havia muito desconhecimento quanto à doença e aos grupos de risco. Se este modelo for aplicado agora, gerará a dificuldade de fazer uma boa cobertura vacinal naqueles que precisam de mais proteção - explica.

Claudio afirma que o tratamento com Tamiflu faz parte da estratégia do governo para conter o número de mortes, principalmente em quem não se vacinou.

Tamiflu só na rede pública

De acordo com o secretário Ciro Simoni, o medicamento Tamiflu não está à venda nas farmácias, mas tem em grandes quantidades nos postos de saúde e nos hospitais. Para ser mais efetivo na cura, o remédio deve ser tomado nas primeiras 48 horas do processo gripal, por isso o aviso da secretaria exprime urgência.

O Estado conseguiu mais 250 mil doses de vacinas, que chegam esta semana. São para as pessoas dos grupos de risco que não foram imunizadas.

O chefe do serviço de infectologia do Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre, Breno Riegel Santos, concorda com a classificação dos grupos de risco, mas informa que os casos de Gripe A registrados na instituição foram de pessoas que não haviam recebido a vacina.

Fique atento

Sintomas

- Tosse e espirros
- Fortes dores no corpo, na cabeça e na garganta
- Febre alta, acima de 38°C
- Pode haver náuseas, vômitos e diarreia
- Falta de ar

Medidas de prevenção

- Higienizar as mãos com água e sabonete/sabão com frequência.

- Evitar tocar os olhos, nariz ou boca após contato com superfícies.

- Cobrir, com lenço ou com a face junto à dobra do cotovelo, o nariz e a boca quando espirrar ou tossir.

- Não compartilhar alimentos, copos, toalhas e objetos de uso pessoal.

- Evitar, dentro do possível, ambientes com aglomeração.

- Manter os ambientes ventilados.

Caso suspeito em Cachoeirinha

Com a ameaça da gripe A, todo cuidado é pouco. Em Cachoeirinha, ontem, o Hospital Padre Jeremias chegou a suspender temporariamente o atendimento na emergência pediátrica, para evitar o risco de contágio. A medida foi tomada devido à internação, por determinação judicial, de um menino de um ano de idade com suspeita da doença.

O atendimento foi normalizado às 16h, após a transferência da criança para a UTI pediátrica do Hospital São Lucas da Puc. A instituição da Capital restringiu a visita de familiares de pacientes no quinto andar, onde funcionam a maternidade e as áreas de internação e UTI pediátrica, por causa da incidência de doenças respiratórias.

- Medida preventiva

Segundo o diretor geral do Padre Jeremias, Roberto Benevett, o estado de saúde da criança de Gravataí era grave:

- Foi uma medida preventiva. Não podíamos colocar mais pacientes no setor por causa do risco de contágio.

O hospital atende a média de 2 mil crianças por mês - cerca de 70 por dia.

Mães que levaram filhos pequenos com doenças respiratórias foram orientadas a procurar o Pronto Atendimento 24 Horas do município. A doméstica Elanir Maria Silva, 39 anos, também ficou preocupada com a saúde dos netos. Ela disse que Manoela Leal Moura, um ano, e Marcos Gabriel, cinco anos, estavam com bronquite, falta de ar e febre.

- Estão há quatro dias com esses sintomas. Vou ter que ir, pois não tenho outra alternativa - disse a avó.

- Suspeita de pneumonia

Na recepção do hospital, Maria Luíza Guerreiros, 61 anos, segurava no colo o neto Guilherme Guerreiro de Assis, dez meses. O menino, com suspeita de pneumonia, aguardava para fazer um raio-X. No lado de fora, a cozinheira Santa Maurícia do Couto Correa, 40 anos, não tirava os olhos do filho Daniel Júnior de Couto, 12 anos. O adolescente sofre de bronquite.

- Estou preocupada com a gripe A. A vacina é muito cara para quem é assalariado - reclamou Santa.

Saiba mais

Quem pode se vacinar na rede pública?

- O público-alvo continua sendo idosos com 60 anos ou mais, crianças na faixa etária de seis meses a dois anos e gestantes. A população indígena e os trabalhadores da saúde já foram em sua maioria imunizados. Doentes crônicos também têm direito à vacina, desde que apresentem receita médica.

Onde se vacinar?

- Nos postos de saúde.

Quanto a vacina custa na rede privada?

- Cerca de R$ 80.

Onde consigo o antiviral, de nome comercial Tamiflu?

- Após uma consulta com um médico particular, do hospital ou do posto de saúde, o Tamiflu poderá ser retirado nos postos de saúde. O remédio não está à venda nas farmácias. Segundo a Secretaria Estadual da Saúde, o Tamiflu está disponível em abundância na rede de saúde.

CRESCE PROCURA POR VACINA

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Em função das mortes provocadas pela gripe A, a procura por vacinas em clínicas particulares foi às alturas. Na Clínica Vacine, do Bairro Menino Deus, desde a semana passada, a média de aplicações diárias fica entre 200 e 300 doses. Antes, se mantinha em torno de 50 doses.

- A gente não imaginava que teria essa procura, porque já estava no final do período de vacinação. Está faltando vacina no mercado. Tive que dobrar a equipe, contratar mais gente - relata a sócia-gerente da clínica, Andiara Gitz.

Preocupada em garantir a proteção do filho Arthur, sete anos, a comerciante Andréia Gomes Dale Tese, 40 anos, levou o menino para se vacinar no final da manhã de ontem. Ela conta que a babá do pequeno estava com sintomas da doença e inclusive já iniciou o tratamento após consulta médica. Por isso, decidiu se prevenir:

- A gente começa a escutar os casos e fica preocupada. Não posso arriscar.

A vacina oferecida imuniza contra a gripe comum e a gripe A, ao custo de R$ 80, preço médio dos locais que ainda têm doses em estoque.

Qual a sua dúvida sobre a gripe A?

O Diário Gaúcho foi às ruas da Capital para descobrir o que os leitores queriam saber sobre o vírus. O médico infectologista Luciano Goldani, chefe da Unidade de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre respondeu às perguntas.

- Em crianças com menos de um ano, a gripe é mais grave?

Tatiane Souza, 24 anos, vendedora, Porto Alegre

Em crianças de até dois anos, a gripe pode provocar mais complicações. Por isso, elas são consideradas grupo de risco. De seis meses a dois anos, deve-se fazer a vacina. Até seis meses, a criança tem a proteção da mãe, por meio da amamentação.

- Meu filho de nove anos tem asma e não tomou vacina. Ele deve tomar?

Rosemeri Moncks, 41 anos, operadora de máquinas, Porto Alegre

Ele deve ser vacinado, sim. Além disso, cuidados como evitar aglomerações, manter os ambientes bem ventilados, lavar sempre as mãos e usar álcool gel são indicados.

- Convivo com colegas de trabalho que ficam gripados com frequência. Já me vacinei, mas devo me preocupar?

Eleu Nunes, 43 anos, motorista, Porto Alegre

A vacina protege contra a gripe A, mas não contra outros tipos de vírus. É importante manter os cuidados - evitar ambientes fechados, manter a higiene das mãos - para não adquirir outro tipo de gripe.

- Por que demora tanto para sair o exame que confirma se é gripe A?

Marcos Luís Rodrigues da Silva, 49 anos, taxista, Porto Alegre

O resultado demora porque vai para laboratórios do governo, que fazem a análise do vírus. Mas isso não impede o diagnóstico, que é feito pelo médico, nem o tratamento. A confirmação serve para as estatísticas.

- Por que só os grupos de risco recebem a vacina? Todos nós não corremos risco?

Marli Ferreira, 60 anos, aposentada, Porto Alegre

Todas as pessoas podem se infectar, mas os grupos de risco têm mais chance de sofrer complicações em função da doença, como pneumonia. Por isso, as campanhas de vacinação são direcionadas a eles.

 

 


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