Pais olímpicos
No Dia dos Pais, eles merecem o ouro
Para os filhos, todos os pais são modelos de superação e vencedores com direito à medalha de ouro no peito
Nossos heróis não são atletas de feitos históricos, nem têm marcas impressionantes no currículo. Mas que importa? Para os filhos, todos os pais são modelos de superação e vencedores com direito à medalha de ouro no peito. Nesta edição, o Diário Gaúcho presta uma homenagem aos pais olímpicos representados aqui por um pescador, que já foi campeão de remo, um gari com fôlego de maratonista e um pedreiro, que levantou muito peso para construir uma vida segura para a família.
Fôlego de velocista
Se fosse disputar uma prova de atletismo, o gari Alderi de Souza, 40 anos, brilharia na mais charmosa delas: os 100 metros rasos, dominada com folga pelo jamaicano voador Usain Bolt. Mas como é um recolhedor de sacos de lixo, nosso velocista do asfalto aprimora a forma desviando de pedestres, cães e carros que encontra pelo caminho nas ruas da Capital.
Alderi faria um bom papel também na corrida com barreiras. Há 15 anos ele salta do caminhão com a técnica e a precisão de um campeão para deixar a cidade limpa e as filhas gêmeas, Ana e Anelise, 17 anos, orgulhosas do trabalho do pai.
Diariamente, das 19h à 1h, ele pode ser visto percorrendo 23 km pendurado na traseira do caminhão e correndo outros quilômetros mais na pernada. Alderi retira mais de 1 mil sacos de lixeiras e calçadas. E revela a fórmula para manter o corpo esbelto.
- Tem de ter preparo, resistência. Nas avenidas, prefiro ir correndo a ficar subindo e descendo. Meu peso varia de 58kg a 60kg. Quando entro em férias e paro de correr, chego a 63kg - diz o gari, que é pai de cinco filhos e avô de cinco netos.
Quando ele chega do trabalho, as filhas já estão dormindo.
- Acho que ele merece a medalha de ouro pelo esforço e pela dedicação com que cuida da família - afirmou Ana.
O rei das águas
Personagem bíblico, mencionado no Livro dos Reis, o nome Salomão ou Shlomô (em hebraico), deriva da palavra Shalom (paz) e tem o significado de Pacífico. Com essas referências, o pescador Salomão de Souza Oliveira, 72 anos, só poderia mesmo ser o Rei das Águas. Pelo menos na Ilha da Pintada, onde mora cercado por filhos, netos, bisnetos e, claro, por muitos peixes.
Em 1960, quando tinha 19 anos e um preparo físico de causar inveja, foi campeão de remo numa disputa entre pescadores da ilha. A canoa era de madeira, feita de árvores como cedro e timbaúva, e tinha 8m de comprimento. Cada remo, 3,60m.
- Fiz 2km em cerca de 48 minutos. Cheguei na frente e tive de esperar os outros três concorrentes para batermos a foto juntos. Mas acho que sou um campeão por me dedicar a saber tudo da minha profissão - diz o pescador.
Salomão aprendeu as primeiras noções de Aquicultura (estudo da criação de peixes) na Unisinos. Tinha dinheiro só para a passagem de ida. Na volta, ficava na BR-116 à espera de carona. Anos depois, se formou na Puc. O filho e seguidor Luciano Rodrigues Oliveira, 36 anos, se emociona ao falar do pai.
- Por ter a coragem de encarar a vida da maneira como ele encarou, e de criar os filhos com o dinheiro da pesca, ele merece a medalha de ouro - concluiu Luciano.
Peso é com ele mesmo
O pedreiro Leonel de Souza, 59 anos, tem sete filhos - quatro deles são adotivos. Só por isto mereceria não uma, mas várias medalhas de ouro. Sua história, como a de muitos operários da construção civil, é de superação. E de alguns recordes também.
Pense, por exemplo, no peso de um tijolo. O de oito furos tem, em média, 200g. Agora, imagine assentar com sol a pino cerca de 900 por dia, 30 por metro de área trabalhada.
Para superar metas como essa, o trabalhador precisa ter características de atleta campeão: ser determinado, lutar contra adversidades e ter um objetivo a atingir.
Quando começou na profissão, o servente Leonel sonhava e lutava para levar conforto para casa. Por isto, carregava com alegria massa e concreto. Andar pra cima e pra baixo com aquele peso deixaria qualquer um que não estivesse acostumado extenuado, menos ele e seus colegas.
A recompensa para tanto esforço, Leonel encontra na família, especialmente ao lado do filho, o oficial de carpinteiro Maykon Andrade de Souza, 21 anos. Os dois trabalham numa obra na Zona Sul da Capital. Maykon diz porque o pai merece a medalha de ouro:
- Em primeiro lugar, porque ele nunca deixou a gente passar fome. Chegou a deixar de comer para que a gente tivesse almoço em casa. Além disso, é um excelente profissional.