A educação precisa de respostas
Os pais têm a força
3ª pergunta - Por que é importante os pais participarem da vida escolar dos seus filhos?
A participação dos pais é decisiva na valorização da vida escolar dos filhos. Isso pode acontecer a partir de atitudes simples, tomadas dentro de casa. Ajudar no tema, perguntar o que foi visto em aula, ou como foi o recreio, por exemplo, podem fazer diferença na autoestima e no desempenho do aluno.
Especialistas reforçam que escola e família devem ser parceiras na solução de problemas, complementar uma a outra. Para isso, não importa se o pai tem estudo ou não. Precisa se fazer presente.
Nesta reportagem que trata da terceira pergunta da campanha do Grupo RBS, A Educação Precisa de Respostas, o Diário Gaúcho conta histórias de pais que acreditam fazer a diferença no futuro dos filhos, cada um à sua maneira.
Avó é ajudante do neto
Avó materna do estudante Gabriel Rodrigues Graeff, 14 anos, a aposentada Valdeci Rodrigues, 65 anos, nunca esperou ser chamada na Escola Estadual Baltazar de Oliveira Garcia para saber como anda a vida escolar do aluno do nono ano do ensino fundamental.
- Toda semana, ou de 15 em 15 dias, estou lá, querendo saber como ele está, falar com os professores. Se a gente não acompanhar, não dá. Muitos se perdem por isso. Faz muito bem para eles, se sentem mais seguros, importantes - conta a avó, que diz sentir-se acolhida na escola do Bairro Rubem Berta.
A relação franca entre os dois - Valdeci cria o garoto desde que ele tinha oito meses e tem hoje a guarda dele - também garante que a aposentada acompanhe tudo na rotina de Gabriel. Ela sabe quem são os professores, os amigos do neto e até as ficantes. Assiste aos treinos de futebol e apresentações dele na invernada.
- Quando percebo que ele está meio distante, eu vou na escola. Aí, vejo se tem algum problema, falo com os professores.
Foi assim quando Gabriel apresentou dificuldade em Matemática e História. O garoto já melhorou seu desempenho.
Mesmo tendo estudado apenas até o terceiro ano do então primário, Valdeci não se furta de acompanhar o neto nos temas.
- Sempre fui aquela avó presente. Eu ajudo pintando um trabalho, recortando alguma coisa, fico com ele até terminar - revela a avó.
E o neto avalia:
- Não é toda a avó que está indo pra ver como a gente tá no colégio, que se preocupa.
Participação insuficiente
- Precisamos que os pais venham para que possam nos apoiar. A escola não faz um trabalho completo sozinha.
Assim, Dulce Hernandes Lima, vice-diretora da Escola Estadual Rafaela Remião, da Lomba do Pinheiro, reforça a importância dos pais no ambiente escolar.
O técnico em eletrônica Josmar Santana do Ó Nunes, 55 anos, sabe disso. Há 12 anos, ele é membro do Círculo de Pais e Mestres da escola, hoje como presidente. Também é secretário-geral da Federação das Associações de Pais e Mestres do RS. A motivação dele é contribuir para a melhoria da educação, já que também foi aluno da Rafaela Remião.
- Tem mais de 1,4 mil alunos na escola. Teria que ter, numa reunião, pelo menos, uns 200 pais. Mas não chegamos a 20 ou 30 - conta Josmar, que é pai de Joel, 16 anos, aluno do primeiro ano do ensino médio, e Marja, 11 anos, aluna da quinta série.
- A minha participação é essencial na educação deles (os filhos) e das outras crianças. É por eles que estou aqui. Não sou só pai, sou amigo.
Marisete está sempre por perto
A dona de casa Marisete da Silva Morais, 44 anos, já é conhecida entre os alunos da Escola Estadual Baltazar de Oliveira Garcia - alguns, inclusive, já a chamam carinhosamente de tia. É que além de levar e buscar a filha Maittê, 11 anos, que cursa a sexta série do ensino fundamental, ela costuma acompanhar a estudante durante o recreio.
- Enquanto eu puder acompanhar, eu vou - conta.
Maittê não acha que a mãe exagera nos cuidados. Pelo contrário, diz sentir-se mais segura.
- Não tenho medo que riam dela porque a mãe está junto. São cuidados que a gente tem que ter - observa a mãe, que teme situações de violência, como a que ocorreu em 2010, quando uma professora foi assassinada na saída da escola.
Em casa, Maittê mantém uma rotina. Chega da aula, almoça e, depois das 14h, faz os temas. Só depois de tudo pronto, pode brincar. A mãe diz nunca exigir notas altas, mas a estudante vem se saindo muito bem na escola.
- Ela é o meu orgulho. Nunca fiz nenhum tema por ela, mas eu ajudo. Se a dificuldade for na Matemática, aí é com o pai dela. Faz diferença (a participação).
Fala, especialista!
Silvia Colello, professora da faculdade de Educação da USP, explica que a participação dos pais na escola é recheada de incompreensões: às vezes, os pais não sabem como podem ajudar e isso pode gerar o afastamento deles. Aqueles que não têm escolaridade, então, podem se sentir culpados por isso, e evitar o envolvimento por medo de conversar com a direção ou professores.
- Às vezes, os pais estão tão preocupados em garantir a sobrevivência da família que acham perda de tempo ir à escola para acompanhar o filho - observa.
Segundo ela, os pais têm o direito de perguntar e a escola o dever de responder, explicar objetivos, processos. A escola não pode esperar que os pais batam à porta, deve fazer o esforço de aproximá-la (projetos como o Escola Aberta, por exemplo, podem ajudar). Já aos pais, cabe a missão de estar presente em reuniões, mas também em ocasiões de festa, por exemplo.
- Está comprovado que a aproximação da família com a escola melhora tudo. Mais importante que corrigir a lição, o pai deve mostrar que a vida escolar é importante - destaca.
Para Euclides Redin, doutor em Educação e professor da Unisinos, família e escola são instituições cooperativas, mas separadas. A escola não substitui a família.
- É fundamental que os pais respondam aos convites da escola: para discutir problemas que são da escola, da família, da sociedade. A escola é um instrumento da sociedade, deve estar integrada ao meio social e político.
O que os pais podem fazer
- Acompanhar com interesse, com carinho, a rotina escolar do filho. Perguntar o que ele aprendeu, com entusiasmo, reconhecer e valorizar progressos.
- O tema é um instrumento para envolver a família no trabalho da escola. O pai não deve fazê-lo pelo aluno, mas estudar com ele, ir junto à biblioteca. Não é obrigatório que o pai saiba o conteúdo, mas ele deve oferecer apoio. Organizar o local onde a tarefa será feita pode ser uma forma.
- Existe no senso comum a ideia de que os pais só são chamados à escola quando o filho está com problemas. Não é verdade.
- A participação dos pais é importante, mas eles não devem interferir no modo de organização da escola, na metodologia. Essas são questões técnicas.
- A família pode complementar o trabalho da escola: levar o filho a programas culturais e recreativos (biblioteca, parque, por exemplo), ou ler algo com ele.
- O pai precisa saber a quem procurar na escola, saber o nome dos professores. Deve ir às reuniões de pais, mas também a atividades sociais, como uma festinha junina, por exemplo.
- Jamais castigue porque seu filho tirou notas ruins. Nunca o chame de burro ou lento. Também não deixe seu filho faltar aula sem necessidade, nem mesmo chegar atrasado.
O que as autoridades devem fazer
- A escola é um centro de cultura, um equipamento coletivo, que agrega as pessoas da comunidade. A escola pode abrir espaço para isso.
- Os pais têm que ser ouvidos. Ao convocar uma reunião é preciso pensar na viabilidade da participação dos pais e flexibilizar os horários.
- Precisa existir uma parceria entre a escola e a família e não um jogo de empurra de responsabilidades. Devem ser parceiras na busca pela solução de conflitos.
- Às vezes, a escola espera da família algo que ela não pode oferecer. Por isso, precisa aprender a lidar com as diferenças e as diferentes realidades sociais para saber o que esperar da família.
Dicas dos professores Silvia Colello e Euclides Redin
Saiba mais
- Uma pesquisa do Ibope aponta que apenas 7% da população acredita que a educação é também uma responsabilidade dos pais, e não só de professores, escolas e governo.
- As notas aumentam em 15% quando os pais ajudam os filhos na lição de casa.
- O risco de evasão reduz 64% quando os pais são participativos na vida escolar.
- Muitas brincadeiras são verdadeiros estímulos. Principalmente as que incentivam a leitura, a escrita ou os cálculos. Exemplos: forca, caça-palavras.
- Crianças que frequentam a escola infantil têm um desempenho melhor em leitura e escrita, segundo pesquisa feita pela Fundação Carlos Chagas em parceria com o Ministério da Educação.
- Ler para o filho na infância tem como consequência um melhor desempenho em leitura na escola, segundo o Programa Internacional de Avaliação de Alunos, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.