Com a medalha dourada no pescoço, ele foi recebido em carro de bombeiros, homenageado com carreatas e discursos. Sua história de superação se tornou conhecida, foi parar na tevê, nos jornais, na internet. Aplausos, elogios e reconhecimento abrilhantaram a sua chegada a Porto Alegre e a Esteio, onde mora. Tudo mais do que merecido pela vitória do campeão.

Porém, menos de dois meses depois de conquistar a medalha, inédita para o país no esporte, a festa ficou na lembrança, e ele, esquecido. Jovane Guissone, 29 anos, permanece firme graças ao que o fez chegar até o lugar mais alto do pódio: garra, disciplina e apoio da família e de amigos próximos. Mas falta algo para que ele alcance resultados ainda melhores: patrocínio.

- Eu tenho vontade, tenho talento, tenho coragem. O que me falta é o apoio financeiro - afirma o atleta.

Sustento com bolsa de R$ 900

Ele sustenta a família - a mulher Queli, o filho Jovane Júnior, de um ano e dois meses, e a enteada Amanda, 11 anos - com uma bolsa do Comitê Paraolímpico Brasileiro de cerca de R$ 900. Detalhe: é o benefício inicial, sendo que ele já é um campeão olímpico.

Na prática, a batalha de Jovane para se dedicar ao esporte não mudou depois da medalha de ouro. Ele continua a sair de casa às 7h30min da manhã, do Parque Primavera, pegar um ônibus, o trem e mais dois ônibus para chegar à Academia da Brigada Militar, no Bairro Partenon. Ida e volta, são quase seis horas por dia só de deslocamento.

- A esgrima, além de ser um esporte, é o meu trabalho - define.

"Hoje eu sou feliz"

O campeão é membro da Associação de Servidores da Área de Segurança Portadores de Deficiência (Asasepode) e treina junto a outros 13 atletas cadeirantes, em aulas com três professores voluntários. Os treinos são de segunda a sexta, das 10h às 12h e das 13h às 16h. E a dedicação, essa é tão grande quanto a dos atletas com a melhor estrutura.

- Hoje eu sou feliz, enquanto eu tiver saúde e obtendo os meus resultados, e puder estar representando o Brasil, o nosso município - destaca.

A história de um guerreiro

Nascido em Barros Cassal, na Região Sul do Estado, a 256km da Capital, Jovane morou com a família até os 19 anos. Foi criado no campo ao lado dos cinco irmãos, com plantação de milho, feijão, fumo e criação de gado, galinha e porco. Depois de servir ao Exército por um ano, veio trabalhar em Canoas.

Em 2004, em uma tentativa de assalto, foi atingido por um tiro nas costas. Começava ali a mudança na sua caminhada. Foram longos meses de recuperação da cirurgia e fisioterapia, até que em 2008 ele conheceu a esgrima e descobriu o seu talento. Deu a volta na tristeza e transformou o que poderia ser um obstáculo em um trampolim para a vitória.

Medalhas no Brasil e no Exterior

- Sempre fui uma pessoa que pensa positivo. Minha família sempre foi de acreditar, de não perder o foco de que vai dar certo - ensina.

Ele já conquistou seis medalhas internacionais e 30 nacionais. Desde 2009, faz parte da Seleção Brasileira de Esgrima em Cadeira de Rodas. Mas tem apoio do Comitê apenas para viagens ao Exterior.

No Brasil, precisa pagar tudo do próprio bolso.

Mudanças à vista

Nos próximos dias, o tilintar das espadas, a vibração e a alegria dos treinos de Jovane e dos seus colegas passará para o Centro Estadual de Treinamento Esportivo (Cete), no Bairro Menino Deus.

Outra mudança é no transporte: a secretária de Educação e Esporte de Esteio, Carla Mantay, garante que o município já tem um motorista à disposição de Jovane para os treinos. Na próxima sexta e no final de semana, ele fará o transporte do atleta para o Campeonato Brasileiro de Esgrima em Cadeira de Rodas, que ocorre no Plaza São Rafael, no Centro.

Segundo ela, basta apenas um ajuste de horários para que o motorista também esteja à disposição do campeão nos treinos, a partir da semana que vem.

Para ajudar

Telefones: 9159-5096 e 9655-3070.

E-mail: jovaneesgrima@gmail.com