Belo exemplo
Diretor de colégio no Bairro Rubem Berta cuida do local como se fosse sua casa
Luiz Nunes, 63 anos, já poderia estar aposentado, mas continua no comando de uma escola. E não tem ruim com ele: atua na cozinha, no jardim...

A frase abaixo, retirada do contexto, pode até soar estranho à primeira leitura.
- Eu sou um diretor de periferia.
Mas quem entra na Escola Estadual de Ensino Fundamental Padre Leo, no Bairro Rubem Berta, entende o que o diretor Luiz Nunes, 63 anos, quer dizer. Embora o prédio seja antigo e os recursos para administrar a escola sejam exíguos - como acontece com a moradia de muitas famílias -, o que se vê além da simplicidade é o capricho e a vontade de melhorar o ambiente no qual estudam 300 alunos na Zona Norte da Capital.
- Gosto disso aqui. É a minha vida, é a extensão da minha casa - afirma o professor que está aposentado desde 1997, mas segue na ativa, bancando até de zelador e cozinheiro.
Tem trabalho nos domingos
Luiz tem 40 anos de magistério dentro da Padre Leo. Além da gestão, coloca a mão na massa em reparos, no jardim e até na merenda.
- Arrumo os trincos das portas, pinto a escola, venho para cá nos domingos. Ajudo a servir a merenda e, se um dia a merendeira não vem, eu cozinho. Sou bom no carreteiro, na massa e nos doces - gaba-se o educador, formado em Letras e Filosofia.
Criatividade e o envolvimento de toda a escola completam a receita. O sonho da cancha coberta ainda não foi possível? Não tem problema: com tintas próprias para piso, a calçada do pátio virou uma quadra de vôlei. O banheiro estava tomado pela pichação? Um tom de cinza escuro resolveu o problema. Até a conservação do jardim teve jeito:
- De uns dois anos para cá, os alunos começaram a preservar (antes, as plantas e até a grama eram arrancadas) e, na gincana, trouxeram mudas de plantas - conta a secretária Mari Cavedon, que ajuda o diretor na manutenção do jardim.
É preciso "gostar de gente"
Essas e outras melhorias vêm sendo feitas com o dinheiro da autonomia financeira (recurso no valor mensal de R$ 1.044 repassado pelo Estado).
- Educação é presença. E o professor precisa gostar de gente - afirma Luiz.
Pulso firme com a gurizada
Se engana quem pensa que, por ser otimista e boa-praça, o diretor Luiz Nunes alivia:
- Na abertura das aulas, digo para eles (alunos): tem que gostar da Padre Leo. Mas não basta só dizer que gosta da escola, tem que mostrar, não destruindo as coisas, cuidando dos banheiros, das plantas - observa o professor, lembrando que a escola está localizada em um dos quatro Territórios da Paz da Capital.
E completa:
- Hoje, muitas famílias entregam a educação dos filhos para a escola. Para muitos, falta a figura do pai. Temos que suprir (a falta), conversar, dar força para eles. Mas colégio também tem que ter disciplina, regimento. Eles precisam que eu seja firme - conclui.