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É preciso preservar

Rio Guaíba não está para peixe, alertam pescadores

Ação predatória do homem, ocupação irregular das margens e poluição ambiental estão entre os motivos para o momento de agrura vivido por pescadores da Capital

25/03/2013 - 07h28min

Atualizada em: 25/03/2013 - 07h28min


Salomão Oliveira joga a rede, mas só pega miúdos lambaris

No silêncio das manhãs no Guaíba, não se ouvem gritos de pescadores partindo água adentro. O único som é o barulho da marola que se choca nos cascos de barcos velhos e enferrujados. De beleza exuberante, o conjunto de ilhas que forma o Delta do Jacuí viveu a fartura da pesca em décadas passadas, mas hoje o lago e seus afluentes não estão pra peixe.

Na Ilha da Pintada, por exemplo, a fila de barquinhos ancorados é a imagem de uma pintura congelada no tempo. Raros são os que se movem dali.

Poluição, atos predatórios...

Presidente da Colônia de Pescadores Z-5, Vilmar Coelho, 65 anos, é realista:

- Não sou estudioso, mas tenho vivência. Diminuiu a quantidade de peixes sim, não temos a metade do que tínhamos naquele tempo - afirmou, referindo-se aos anos dourados da atividade.

Entre os motivos para a seca pesqueira estão a poluição ambiental (por meio do lançamento de esgotos e dejetos industriais sem tratamento nos rios), a pesca excessiva e predatória e a extração ilegal de areia, que acarreta perda de margem - onde se formam criatórios naturais de peixes.

Não vale a pena sujar as redes

Pescador de nome bíblico, Salomão de Souza Oliveira, 72 anos, relembra que, na galeria de vilões pelo sumiço dos peixes, estão a estiagem (seca) prolongada, a instalação desordenada de marinas e o aumento do fluxo de embarcações e de motos aquáticas (jet ski).

- O barulho de um motor de barco passando a 60m de um ponto de desova compromete a produção de alevinos. A falta de chuva forte para movimentar a água e os peixes também prejudica - explica.

Cadê os jundiás, as traíras, os pintados?

Salomão é do tempo em que as redes voltavam abarrotadas de jundiás, traíras e pintados. Na quinta-feira, ele nos levou de barco até a Ilha Mauá.

- Há uns oito anos, a gente colocava quatro redes à tarde aqui neste ponto. De madrugada, quando voltávamos para pegá-las, havia 60kg de peixe. Todos os dias. Hoje, não vale a pena botar. Suja a rede e não se pega nada - compara o pescador.

Pesca do dourado continua proibida

Em 2002, um decreto estadual listou 28 espécies de peixes ameaçadas de extinção no Estado. Desde então, a pesca do dourado está proibida. Para o biólogo responsável pela área de Ictiologia (ramo da zoologia voltado para o estudo dos peixes) da Fundação Zoobotânica, Marco Azevedo, a falta de monitoramento no setor prejudica a análise aprofundada do tema.

- Não temos dados que comprovem esta redução. Existe apenas o senso comum, com base no conhecimento dos pescadores - pondera Marco.

O biólogo acrescenta à lista de causas para a redução a contaminação dos rios por metais pesados presentes em mineradoras de carvão e a introdução de espécies exóticas, que passam a competir com as nativas.

Trabalho? Só em terra firme

Em 1989, quando chegou na Pintada, Luiz Alberto Ribeiro, 49 anos, era só entusiasmo. A pesca era o ganha-pão da família (mora com a mulher e três filhos na Ilha da Pintada). Hoje, o dono de quatro barcos inutilizados pela ação do tempo - e pela falta de peixe, passa o dia consertando redes, tarrafas e espinhéis.

- Continuo vivendo da pesca, mas não lá dentro da água - relembra Luiz, tentando manter o bom humor.

A redução do estoque de peixes ocorre nas águas doces e salgadas em âmbito internacional. Aqui, a falta de dados e pesquisas oficiais sobre o tema, é amenizada pelo trabalho de professores e especialistas em peixes.

Especialista alerta para colapso

Coordenador do Laboratório de Ecologia Aquática da Faculdade de Biociências da Puc, Nelson Ferreira Fontoura estuda o Guaíba. Ele aponta duas vertentes principais para o declínio: a redução da qualidade da água, em razão do desmatamento das cabeceiras, e a taxa de mortalidade dos peixes. Muitas espécies, que se reproduziam em banhados, não têm mais esse habitat por causa da utilização desses locais na agricultura para irrigação de lavouras.

- A sobrepesca (pesca em excesso) e com malhas não autorizadas, contribuiu para agravar o colapso - conclui Nelson.

Feira do Peixe começa amanhã

Em meio à onda de pessimismo, a Feira do Peixe da Capital surge como um oásis no deserto. No entreposto da Colônia Z5, funcionários trabalham sem parar, limpando e cortando filés, a maioria vindos de Rio Grande, sob a coordenação do presidente da Cooperativa de Pescadores, Leonardo Gonçalves. A 233ª Feira começa amanhã e no Largo Glênio Peres, no Centro.

- De 25% a 30% dos peixes vendidos são da cooperativa de pescadores da Colônia Z5 - diz o presidente, Vilmar Coelho.

Fartura... de eventos

Porto Alegre

No Centro - A Feira do Peixe, no Largo Glênio Peres, reúne 59 bancas com pescado, uma com peixes vivos e cinco com produtos de alimentação, duas delas com peixe assado na taquara. O local ficará aberto, ininterruptamente, das 8h de amanhã até o meio-dia de sexta-feira.

Na Restinga - Entre quarta e sexta, haverá a 11ª Feira do Peixe na Esplanada da Restinga, com seis bancas de pescado, uma com peixes vivos, três de alimentação, uma de vinhos.

Pela Região Metropolitana

Guaíba - Entre amanhã e sexta, no Centro (Rua Serafim Silva). No dia 26, das 10h às 20h. Quarta e quinta, das 8h às 20h. Na sexta, das 8h às 12h. Haverá outra feira no Bairro Cohab/Santa Rita (de 27 a 29).

Alvorada - 33ª Feira do Peixe e Chocolate, Praça João Goulart, de 27 a 30 de março, das 8h às 22h.

Cachoeirinha - 12ª edição, no Parcão, de amanhã até sexta, das 10h até as 22h.

Canoas - 21ª edição da Feira do Peixe e 5ª Feira de Páscoa, de amanhã até sexta, em cinco pontos da cidade: no Centro (em frente à Igreja Matriz São Luiz Gonzaga), e nos bairros Rio Branco (Praça Cônego Lotário Steffens), Niterói (Praça Dona Mocinha) na rótula do Guajuviras e Mathias Velho (em frente à Igreja Pio X). Das 8h às 20h (terça à quinta) e das 8h às 12h na sexta.

Esteio - 11ª feira, na Avenida do Carnaval, entre quarta e sexta, das 8h30min às 22h30min. No dia 29, fechará ao meio-dia.

Sapucaia do Sul - De quarta à sexta, na Praça General Freitas, no Centro, das 8h às 20h30min nos dias 27 e 28, e das 8h às 14h30min no dia 29.

Gravataí - 17ª edição, entre quarta e sexta (no dia 27 só à tarde e 28 e 29 das 8h às 20h). O evento ocorrerá na Morada do Vale I (Rua Aldrovando Leão), Parcão da 79 (Rua Ângelo Lorenzi) e no Parque dos Anjos (Rua Aristides D'Avila).


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