Engavetado
Caminho do Meio: estrada difícil de duplicar
Motoristas e moradores sofrem com os problemas da faixa que começa no fim da Avenida Protásio Alves, passa por Alvorada e vai até a Parada 54 de Viamão
De um lado, um projeto pronto, engavetado por falta de recurso para a execução da obra. De outro, motoristas irritados com os constantes engarrafamentos no deslocamento até a Capital, pedestres temerosos com o risco de atropelamentos e todos desanimados pela frustração da expectativa de melhorias e desenvolvimento para a região.
Estes são os personagens e o enredo da novela envolvendo a duplicação da Estrada Caminho do Meio - como é conhecido o trecho que começa no fim da Avenida Protásio Alves, em Porto Alegre, e segue por Alvorada até a Parada 54 de Viamão - que já se arrasta há mais de três anos.
Ontem pela manhã, o Diário Gaúcho acompanhou o engarrafamento na estrada, que ficou intenso por volta das 6h. Além da extensa fila de carros, ônibus, caminhões e motos, foi possível flagrar cenas de imprudência como excesso de velocidade, ultrapassagens em curvas, tráfego pela contramão ou pelo acostamento. No trajeto, também constatou uma grande quantidade de lixo jogado às margens da via, pista esburacada, sinalização desgastada e iluminação insuficiente.
Atrasos são constantes
O advogado Luis Carlos Alves, 53 anos, e a esposa, a assistente social Rosa Maria Soares, 58 anos, precisam sair de casa, no Porto Verde, em Alvorada, às 6h30min para chegarem ao trabalho às 8h.
- Enfrentamos esta rotina todos os dias - conta Luis Carlos.
O gerente de vendas Thiago Simões, 39 anos, reside no mesmo bairro e também enfrenta o congestionamento rumo ao trabalho, em Eldorado do Sul.
- Moro em Alvorada há 30 anos e a Caminho do Meio é a mesma. Tem dias em que chego a ficar trancado no trecho da ponte (limite entre Viamão e Porto Alegre) até a Protásio durante 50 minutos - lamenta.
Usuários do transporte coletivo como a professora de ioga Angela Ribeiro, 49 anos, também padecem com os efeitos da tranqueira, que aparecem no atraso dos ônibus.
Pedestres também penam
- Está bem perigoso. Fazem ultrapassagens e a gente tem que ficar bem para o canto porque, quando menos espera, vem um carro por cima - conta a cozinheira Roselaine Rios Romero, 38 anos, que mora em Alvorada, mas trabalha em Viamão.
Quando a criançada da família (filhos e sobrinhos) vai para a escola, no trecho que precisa fazer a pé, vai escoltada por uma caravana de adultos, já que não há acostamento.
- O fluxo de carros é muito grande. Tinha que ter sinaleiras porque é muito difícil atravessar - queixa-se.
O autônomo Moisés Machado Gonçalves, 41 anos, morador de Viamão, há anos acompanha os constantes congestionamentos matutinos. Ele, inclusive, começou a fazer um trajeto alternativo para evitar atrasos no trabalho.
- Há sete anos, eu levava 20 minutos para chegar ao Bairro Petrópolis (na Capital). Hoje, chego a levar até 1h30min.
Espera deve continuar
De acordo com a Metroplan e a Secretaria Estadual de Obras Públicas, Irrigação e Desenvolvimento Urbano, as obras de duplicação da Avenida Protásio Alves e da Estrada Caminho do Meio (da rótula da Avenida Manoel Elias até a RS-040) terão cerca de 10km de extensão.
- É uma obra estratégica, prioritária para a mobilidade metropolitana - afirma o diretor-superintendente da Metroplan, Oscar Escher.
O projeto (contempla canteiro central, ciclovia, pista de 7m, baia de ônibus, sinalização, drenagem pluvial, acessibilidade) foi elaborado em 2010 e aprovado pela Metroplan.
Novo cadastro no ministério
As obras dependem de R$ 30 milhões (valor atualizado), que deverão ser negociados com o governo federal.
A Metroplan cadastrou novamente, no início de abril deste ano, os projetos em cartas consultas no Ministério das Cidades.
Mobilização segue nas prefeituras
O vice-prefeito de Viamão, André Pacheco, lembra que a demanda foi incluída no orçamento da União em 2010, mas o valor não foi empenhado no ano seguinte (em 2011, foi reapresentada, mas não obteve votos suficientes para ser incluída no orçamento de 2012).
- Mais de 70 mil pessoas saem de Viamão de carro ou de ônibus todos os dias para Porto Alegre. A duplicação é fundamental - destaca o vice-prefeito.
A execução dos projetos executivos foi possível a partir da mobilização das prefeituras de Viamão e Alvorada e de empresários da região, que contribuíram com R$ 200 mil.
Lixo poderá gerar multa
O prefeito de Alvorada, Sérgio Maciel Bertoldi, afirma que a duplicação qualificaria uma importante entrada da cidade, beneficiando dez bairros. Ele destaca que, em sua próxima ida à Brasília, pretende retomar o contato com o Ministério das Cidades, assim como buscar novamente o apoio da bancada gaúcha.
No que diz respeito à conservação da estrada, a competência é dos municípios. Sérgio afirma que, em relação ao lixo acumulado no lado de Alvorada, terá início uma campanha educativa para que a população deixe de fazer o descarte em local impróprio. Em caso de reincidência, poderá haver multa.
- Temos interesse na parceria com a prefeitura de Viamão para restabelecer a manutenção da via - finaliza.