Vermelho de raiva
Preço tira o tomate do prato feito
Valor recorde do fruto usado em molhos e saladas obriga comerciantes e donas de casa a buscar alternativas
Ingrediente fundamental em saladas e molhos, o tomate começa a desaparecer de pratos tradicionais de restaurantes e até da mesa do trabalhador.
Em 12 meses, o aumento em Porto Alegre chegou a 197,1%, segundo o Dieese. Nos supermercados, o preço do quilo varia de R$ 3,95 a R$ 7,98. Nas feiras, uma sacola cheia não sai por menos de R$ 6.
Com o preço nas alturas, donas de casa e comerciantes são obrigados a buscar alternativas para não sofrerem tanto no bolso.
Extrato ganha espaço
Proprietários de restaurantes do Centro evitam mudar o cardápio para não perder clientes, mas já admitem redução da quantidade comprada. Outros substituíram o item pelo extrato de tomate, que é mais barato.
É o caso do vendedor de cachorro quente Márcio Borges Lopes, 46 anos. Há quatro anos ele mantém o carrinho no Largo Glênio Peres, ao lado do Mercado Público. Márcio, que utiliza o molho pronto, capricha na cebola, nos temperos e em outros ingredientes para compor o lanche.
- Em vez de comprar 1kg de tomate por R$ 6,80, uso uma lata de extrato por dia, que custa R$ 1,81 - compara o comerciante.
Truque para dourar a carne
Na casa da aposentada Helena Rodrigues, 60 anos, o molho para carnes já é feito de outra maneira. Para as porções pegarem cor, ela usa um truque comum a muitas cozinheiras. Depois de esquentar o azeite, Helena põe um pouco de açúcar para dourar a carne, além de cebola, alho e temperos. Na salada, a presença do fruto diminuiu.
- Em vez de comprar três tomates pequenos, compro um grande, e de vez em quando. Estamos optando verduras como rúcula e alface - explica Helena.
Motivos da alta
- Frete caro: o diesel já teve dois reajustes este ano (entre maio e outubro, o tomate consumido pelos gaúchos é importado de São Paulo, Minas Gerais e Goiás).
- Período prolongado de chuvas: afetou mais hortaliças e legumes.
- Aumento da procura: pressionou os preços.
Pratos e lanches foram adaptados
Proprietária do restaurante Mamma Júlia, no altos do Mercado Público, Leila Esteves
cortou pela metade o vermelhinho.
Antes da onda de reajustes, ela comprava 6kg por dia para fazer saladas e molhos para massas e outras especialidades da casa. Agora, no máximo três.
Pratos de saladas, que antes eram ornamentados por cinco rodelinhas de tomate e de graça, hoje saem da cozinha com três, e custam de R$ 5 (pequeno) a R$ 7 (grande).
- Esse aumento nos matou - desabafa Leila.
- Manteve nos molhos
No IG Bar e Restaurante, na Rua José Montaury, no Centro, Ivan Balzam, 43 anos, agiu rápido. Manteve o tomate em molhos e nos lanches, mas cortou das saladas.
- Eu comprava uma caixa de 50k por semana. Agora, estou comprando uma de 30kg - revelou.
"Se parar de comprar, vai baixar"
O presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, afirma que o momento, agora, é de reduzir ao máximo o consumo do tomate. Ele destaca que o produto só deve ser utilizado para salada. Para outros casos, a opção são os molhos prontos.
- Nós acreditamos que, em 30 dias, não vai baixar o preço. E a qualidade não está satisfatória - relata.
Antônio lembra que, apesar dos problemas climáticos que prejudicaram a safra, principalmente de São Paulo e Minas Gerais, maiores fornecedores, a lei da oferta e da procura continua valendo:
- É o consumidor que manda no mercado. Se ele parar de comprar, vai baixar.
Sinais de redução
O preço, que havia subido 20,17% em fevereiro, começa a dar sinais de desaceleração: a alta em março foi de 6,14%, segundo o IBGE. Com a nova safra no Estado prevista para maio, deve baixar mais.