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Risco aumentado

Hidrantes viram lixeiras na Capital

Obstrução dos equipamentos com pedras e furto de peças atrasam o trabalho dos bombeiros. Dependendo da ocorrência, demora de 2min pode ser fatal

15/05/2013 - 07h10min

Atualizada em: 15/05/2013 - 07h10min


A tragédia da Kiss resultou numa blitz em estabelecimentos comerciais. Mas e os hidrantes, como estão na Capital? Se estão depredados, o heroísmo dos soldados pode ir por água abaixo. Em Porto Alegre, um em cada cinco hidrantes é danificado por ano. Dos 1,6 mil existentes, 320 (20%) têm tampas, bujões, colunas e até registros furtados ou danificados. Além de causar prejuízo à prefeitura, o vandalismo pode custar vidas.

Marginais colocam pedras e areia nos hidrantes obstruindo a passagem da água. Quando isto acontece, o abastecimento do caminhão só pode ser feito após a limpeza da coluna, para que uma pedra não fure o tanque.

Segundo o chefe de operações e treinamento do 1º Comando Regional do Corpo de Bombeiros da Capital, capitão Eduardo Zaniol, esse processo dura cerca de dois minutos - tempo suficiente para matar pessoas e queimar de dois a três cômodos de um lar de madeira. Ao notar problemas, os bombeiros abrem o hidrante, deixam a água escorrer (sangria) e depois colocam a mangueira. Por isso é comum ver água escorrendo na rua.

Pressão na rede pode variar

O capitão afirma:

- Quando deslocamos para uma ocorrência, o colega da sala de operação informa a localização de hidrantes próximos. Se verificamos algum problema nele, pedimos o apoio de um segundo caminhão.

A variação na pressão da rede de abastecimento de água é outro problema. Conforme o Dmae, existe uma pressão mínima na tubulação, mas a força do jato pode mudar de acordo com o consumo e a posição do hidrante em relação à rede. Durante o dia e de madrugada, a pressão é maior. À noite, quando a maioria está em casa usando cozinha e banheiro, é menor. Dependendo do horário, o abastecimento de um veículo com capacidade para 5 mil litros pode levar de cinco a dez minutos.

Oxidação emperra tampas

Numa operação de combate ao fogo, a ação do tempo e a falta de manutenção também atrapalham. A oxidação do metal, por exemplo, pode dificultar a abertura das tampas, que emperram, mas isto raramente acontece, segundo Eduardo.

Obras nas calçadas prejudicam o acesso ao registro - peça fundamental nesta engrenagem. Às vezes, a equipe custa a encontrar a tampa porque o piso recebeu nova camada de cimento.

Para denunciar

Casos de peças e destruição de hidrantes devem ser denunciados pelo telefone 156.

Peças furtadas, colunas pichadas

A reportagem circulou por algumas avenidas da Capital. Na Cristóvão Colombo, no Bairro Floresta, encontramos equipamentos sem peças, pichados e cheios de lixo no interior. Tampas e bujões em bronze são as peças mais furtadas. A prefeitura gasta R$ 46 mil por ano com manutenção e reposição de itens. Feitos de cobre, é comum usuários trocarem por drogas.

Tudo funcionando perto de boate que pegou fogo

Na Avenida Independência, onde fica a boate Cabaret, atingida por um incêndio na noite de 4 de maio, existem cinco hidrantes. Segundo o Dmae, todos funcionam. Um deles, quase na Rua Barros Cassal, fica perto do comércio de Rodrigo Barros, 33 anos.

Embora a tampa estivesse no chão, o comerciante sentia-se seguro:

- Já vi os funcionários do Dmae fazendo a manutenção. Eles verificam a pressão da água e abrem o registro para limpar. Sou leigo: a princípio está funcionando.

Crescem pedidos após tragédia

Dmae e Bombeiros consideram a malha de hidrantes da Capital satisfatória. Mesmo assim, novos equipamentos são instalados à medida que surgem loteamentos, por solicitação dos bombeiros ou de empresas, entidades e associações.

O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, que matou 241 pessoas, em janeiro, gerou um aumento do número de pedidos. Nos primeiros cinco meses de 2013, foram 30 hidrantes.

Para solicitar

- Pedido de instalação de hidrantes pode ser feito na prefeitura (Rua Sete de Setembro, 1.123, de segunda a sexta, das 9h às 16h).

- Também pode ser nos postos do Dmae, de segunda a sexta-feira, das 8h30min às 16h30min. Os endereços: Rua Barão do Triunfo, 714 (Azenha), Rua José Montaury, 159 (Centro), Rua Fernando Gomes, 183 (Moinhos de Vento), Rua Cristiano Fischer, 2402 (Partenon) e Rua Aliança, 70 (Cristo Redentor).

Contra os vândalos, plástico em vez de metal

Vandalismo também se combate com inovação. Para evitar a destruição dos hidrantes, o Dmae passou a utilizar matéria-prima de baixo valor no mercado. Em vez de tampas de metal, o órgão está colocando peças de polietileno de alta densidade (PEAD) nas colunas. Duas vezes por ano, os hidrantes são revisados pelo órgão.

O Corpo de Bombeiros também faz vistorias e comunica a necessidade de reparos. O diretor de operações do Dmae, James Schostack, lamenta a depredação do patrimônio.

- Contamos com a conscientização da população. Afinal, os equipamentos são públicos e estão à disposição para uma situação de emergência - lembra James.

Saiba mais

- Hidrantes são equipamentos de ferro ligados aos encanamentos de abastecimento d'água, que permitem a adaptação de bombas ou mangueiras para o serviço de extinção de incêndios.

- Bujão é a parte do hidrante de coluna que, fixando a sua boca expulsora, permite, através da rosca externa a conexão de mangueiras ou mangotes, abastecer o caminhão.

- Tampão é a peça móvel do hidrante de coluna, em forma de tampa, provida de rosca interna que se adapta ao bujão. Este, quando atarraxado, intercepta completamente a passagem de água e impede a entrada de detritos.

- A Norma Técnica Brasileira (NBR) 12.218 estabelece que a distância entre hidrantes em áreas com alta densidade populacional deve ser de um raio de 300m.

- No Centro da Capital, existem 78 hidrantes, sendo 19 deles localizados na Rua Voluntários da Pátria.


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