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Negociação das bancas do camelódromo inflacionou

Quatro anos após sua inauguração, continua a farra do comércio de bancas no Camelódromo da Capital

24/05/2013 - 07h14min

Atualizada em: 24/05/2013 - 07h14min


Agora, inflacionada, com valores triplicados. Em 2009, a "venda" de estandes valia de R$ 7 mil a R$ 9 mil. O Diário Gaúcho voltou a investigar o local e descobriu: hoje, há quem peça R$ 20 mil para repassar o direito de negociar mercadorias no principal ponto de comércio popular da cidade. Quem não tem grana para a compra, pode tentar só "alugar", pagando a partir de um salário mínimo (R$ 678). Além disso, tem o valor legal de condomínio e taxas, que hoje custa cerca de R$ 660.


Bancas do Camelódromo viraram moeda de troca - o que é ilegal, pois os espaços são concessões. Um espaço nobre na ala A, entre as ruas Voluntários da Pátria e Júlio de Castilhos, pode custar até R$ 20 mil, segundo informações obtidas pelo Diário Gaúcho. Na ala B, entre a Júlio e a Avenida Mauá, o preço de um boxe varia de R$ 10 mil a R$ 15 mil. Além disso há o custo fixo que todos pagam, em torno de R$ 660.


Estandes também são locados. Segundo dois lojistas, que confirmaram a irregularidade, por telefone, dependendo do tamanho e da localização, o aluguel, pode chegar a R$ 2 mil por mês.


Contrato proíbe qualquer negócio


No contrato de locação, a Verdi Construções Ltda, empresa responsável pela administração do empreendimento, proíbe a sublocação, cessão ou empréstimo da banca. Uma infração considerada gravíssima que acarreta a substituição do locatário.


A fiscalização é feita pela Smic, mas o órgão dispõe de poucos agentes e só age a partir de denúncias concretas.


Em quatro anos e três meses de existência do Camelódromo, apenas um boxe foi fechado por este motivo. Outras bancas foram interditadas por inadimplência ou por venda de produtos ilegais.


Rede ilegal age desde 2009


Negócios desse tipo ocorrem desde o tempo em que os ambulantes ocupavam a Praça XV de Novembro, no Centro da Capital. No Camelódromo, essa prática aumentou e parece ter fugido do controle das autoridades. Além do relato gravado, ouvimos depoimentos de outros ambulantes que confirmaram a irregularidade.


Em abril de 2009, dois meses após a inauguração do centro de compras, e em março de 2010, o Diário Gaúcho denunciou a ação dessa rede ilegal. Mesmo assim, nenhuma medida foi tomada. Na época, o preço máximo de um ponto era R$ 6 mil, três vezes menos do que o pedido hoje.


Dois lojistas revelam preços e esquemas


Abaixo, o Diário reproduz trechos do diálogo da reportagem com dois lojistas do Camelódromo. A conversa foi gravada por telefone. O repórter se apresentou como um comerciante interessado em comprar ou alugar um estande. 


O LOJISTA


Diário - Estou interessado em alugar uma banca, será que tem alguma?


Comerciante - Sempre tem.


Diário - E é muito caro?


Comerciante - Olha, tu vai ter dois tipos de aluguel: tem a parte que é paga para o condomínio, para empresa, uma base de R$ 122 por semana, banca de 2m x 2m. Se quiser maior, tem de ver se tem pra alugar na volta. Depois tem o condomínio, que eles chamam de rateio, água, luz, segurança, que dá R$ 175 por mês. Depois tu tens que ver com quem tu vais pegar o ponto.


Diário - E quanto custa em média?


Comerciante - Olha, depende da localização, mas tem gente que aluga até por salário mínimo (R$ 678) ou até menos. E tem gente até comprando ponto.


Diário - E como é daí o ponto?


Comerciante - Ah, não sei te dizer, varia muito. No começo era muito barato, agora tem gente cobrando dez (R$ 10 mil), vinte (R$ 20 mil). Tem gente que vendeu no início por R$ 5 mil, por R$ 7 mil.

 

Ouça o áudio da conversa:

 


A LOJISTA:


Diário Gaúcho - Estou interessado em alugar uma banca.


Comerciante - Tu consegue no bloco B. Lá atrás tem bastante lojas para alugar. Aqui na frente tu não consegue. Lá é mais fácil.


Diário - É R$ 1 mil por mês, R$ 500?


Comerciante - Não, isso daí é o aluguel. O valor do ponto é tipo uns R$ 10 mil, R$ 15 mil.


Diário - E o aluguel?


Comerciante - Tem lojas que são bem caras, R$ 400 por semana.


Diário - Pago direto ao proprietário, o cara da banca?


Comerciante - Isso, até porque não pode alugar, né?


Ouça o áudio da conversa:

 

 

Smic promete três ações


Assim que tomou conhecimento dos fatos, o secretário da Produção, Indústria e Comércio (Smic), Humberto Goulart, afirmou que a primeira providência será a abertura de uma sindicância para apurar a denúncia. E já anunciou duas medidas que serão discutidas com a Verdi para serem adotadas imediatamente: cada banca terá uma placa com o nome do proprietário e do auxiliar.


Além disso, para inibir a negociação, fiscais voltarão a fazer lista de chamada (blitz para ver se os credenciados estão presentes).


- Não tínhamos recebido denúncia. Sabemos que existem comerciantes com alvarás vencidos. Serão notificados, podem ser multados e terem as bancas fechadas - garantiu Humberto Goulart.


De agosto de 2011 até hoje, a Smic já afastou 48 locatários por irregularidades.


Saiba mais


O que diz a Verdi:


- A Verdi diz não ter conhecimento de atividade de sublocação. A empresa afirma que, assim que constatar formalmente qualquer ação ilegal, dará encaminhamento à Smic.


O que diz o contrato no Camelódromo:


- VI - O estande é de uso pessoal e exclusivo do locatário. Portanto, absolutamente vedado, caracterizando infração contratual gravíssima, a sublocação, cessão e ou empréstimo do estande, motivo de justa causa para resolução do contrato, com imediata substituição do locatário, nos termos do regulamento interno.


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