Assim, o santo não ajuda
Oferendas religiosas podem ser um perigo para a natureza
Trabalhos feitos dentro de caules derrubaram árvore à beira do Guaíba, na Capital. Federação diz que orixás, caboclos e exus não gostam de agressão à natureza
Uma árvore tombada, com o tronco queimado, cercada por uma garrafa de vidro, pipoca estourada e bandejas vermelhas. Esse foi o saldo de uma prática religiosa sem o devido respeito à natureza realizada na beira do Guaíba, na Vila Assunção, na Capital.
A cena foi flagrada pela representante comercial Sonia Maria Costa Avila, 60 anos. Acostumada a caminhar pela local, ela já havia observado por diversas vezes que árvores tinham o tronco chamuscado em função de velas de oferendas. Dessa vez, o descuido foi longe demais.
- Era uma árvore antiga, grande. Como é que colocam fogo assim? É um absurdo - lamenta.
Sonia percebeu o dano ao passar na segunda-feira, perto dos conhecidos Arcos de Ipanema. O Diário foi até lá na terça e a árvore ainda estava em brasa.
E pelo que se observa no entorno, o caso não é isolado. Há outras árvores com o caule queimado, além de oferendas espalhadas pela área verde.
Multa depende de flagrante
De acordo com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, agressões como colocar fogo em vegetais podem ser punidas com multas. Contudo, é preciso haver flagrante para que haja notificação. Denúncias podem ser feitas pelo 156.
No caso da árvore que tombou, uma equipe foi enviada ao local. Até ontem, não havia resultado.
"Comercialização" seria o maior vilão
O presidente da Federação Afro Umbandista e Espiritualista do Rio Grande do Sul (Fauers), Everton Alfonsin, faz um questionamento:
- Será que o meu orixá, meu caboclo ou exu vai gostar que eu agrida a natureza, o nosso altar?
Ele alerta que, infelizmente, a comercialização da religião acaba gerando situações assim, em que as oferendas são feitas de forma que desrespeita a natureza. Muitos se aproveitariam da fé alheia para cobrar por trabalhos em locais inapropriados.
- O religioso que se preza vela a sua oferenda, é responsável por ela.
Everton explica que as oferendas devem seguir dois caminhos: ou ser consumidas por animais ou enterradas. Por isso, nenhuma religião deve deixar lixo no meio ambiente.
Como fazer
Informações: Smam e presidente da Fauers, Everton Alfonsin
- As oferendas devem ser feitas sobre folhas de bananeira, sem o uso de bandejas.
- Evite o uso de copos e garrafas. As bebidas deverão ser vertidas ao redor das oferendas e os vasilhames retirados do local na hora da saída.
- O uso de velas requer atenção especial. O local escolhido deve estar limpo e as velas devem ser enterradas até a metade, para evitar que caiam e causem incêndios. Jamais coloque junto a raízes de árvores e em troncos ocos.
- Depois que a oferenda for realizada e as velas já tiverem queimado, tudo deve ser recolhido.