Educação aos pedaços
Quase de férias e ainda há escolas sem professor em Porto Alegre
Ano letivo começou em 27 de fevereiro e ainda faltam 14 professores em nove instituições estaduais
O ano letivo começou em 27 de fevereiro. Estamos em 7 de junho e as férias de julho se aproximam na rede pública de ensino. Na Capital, uma situação ainda incomoda centenas de famílias e estudantes: a falta de professor.
O Diário Gaúcho recebe reclamações quase que diariamente sobre um assunto que foi alvo de uma blitz de um mês feita pela reportagem. Agora, mostramos que ainda faltam 14 professores somente em nove escolas estaduais. Algumas se negaram a dar detalhes, alegando orientação da Seduc.
Enquanto muitos estudantes já estão planejando o que fazer nas férias de julho, outros ainda têm cadernos em branco em algumas disciplinas. Passados três meses e meio do início das aulas, pelo menos nove escolas estaduais da Capital estão com o quadro de professores incompleto, em um total de 14 ausências, segundo apuração do Diário Gaúcho.
No início do ano, o jornal deu início a uma blitz para verificar a falta de professores na rede pública de Porto Alegre. No dia 12 de abril, ainda faltavam 40 professores em 24 escolas estaduais.
Mais de 200 sem aula de Português
Apesar de, agora, o placar ser menos trágico, ainda não dá para comemorar: relato de alguns colégios aponta para o fato de que professores assumiram há poucas semanas ou estão em processo de contratação.
Entre os estudantes que estão com cadernos em branco às vésperas das férias de inverno está Emanuel Silveira da Silva, 14 anos. Aluno do primeiro ano do ensino médio na Escola Técnica Estadual Irmão Pedro, no Bairro Floresta, ele ainda não teve aulas de Português esse ano.
- Eu acho horrível. A gente começa a sentir falta, porque sabe que vai ter de recuperar bastante - lamenta o garoto.
Pai revela sua angústia
Segundo ele, são sete turmas com cerca de 30 alunos cada na mesma situação. São dois períodos por semana que ficam improdutivos. Nem sempre as aulas conseguem ser adiantadas, e nesses dias, os alunos ficam esperando no saguão da escola.
O pai de Emanuel, o religioso Claudiomiro Carvalho da Silva, 43 anos, está preocupado com o avanço do ano letivo e o prejuízo do filho, que encerrou o primeiro trimestre sem nota de Português.
- Sabe o que é ver o teu filho se arrumar e sair de casa sem saber se vai ter aula? A situação é delicada - pondera.
Placar das ausências
Lista atualizada a partir de denúncias de leitores e da conferência com a última lista de ausências publicada pelo Diário:
Irmão Pedro: falta um professor de Português.
Jerônimo de Ornelas: faltam dois de Matemática e um de Séries Iniciais.
Marechal Mallet: está sem um professor de Ciências e um Inglês.
Onofre Pires: falta um professor de Séries Iniciais.
Otávio Mangabeira: precisa de um professor de Espanhol.
Ibá Ilha Moreira: ainda há a carência de um professor de Português.
Cel. Afonso Emílio Massot: falta um professor de Espanhol.
Dr. Oscar Tollens: há carência de um professor de Matemática e outro de Português.
Escola Jerônimo de Albuquerque: está sem um professor de Matemática e um de Inglês.
Imposta a lei do silêncio?
Uma situação que chamou a atenção da reportagem foi a posição de, pelo menos, duas escolas em não informar a realidade da falta de professores por "orientação da Secretaria de Educação".
Elas já haviam sido contatadas em outras oportunidades, e não se importaram em conceder informações à imprensa. Mas, dessa vez, a situação mudou.
Questionada sobre isso, a coordenadora-adjunta da 1ª CRE, Lúcia Wendland, nega que exista orientação da Secretaria Estadual de Educação (Seduc) nesse sentido:
- Estou dando a minha palavra. Não é determinação da secretaria dizer o que cada escola deve fazer. Elas têm total liberdade para decidir o que fazer.
Lúcia lembra que, em períodos de greve, muitos colégios negam informações, inclusive para a própria Seduc.
Promessas de reposição
Sobre a situação específica de cada escola, Lúcia afirma o seguinte: para a Jerônimo de Albuquerque, Jerônimo de Ornellas e Onofre Pires, foram abertos contratos novos, específicos para essas escolas, e os professores devem assumir nos próximos dias.
A vaga de Espanhol para a Otávio Mangabeira não está aberta. Já o professor de Português da Oscar Tollens foi enviado. Para Matemática, um novo contrato deve ser aberto. Um professor remanejado deve assumir o Inglês na Marechal Mallet. Já a vaga de Ciências não está aberta. Na Emílio Massot, o professor de Espanhol será remanejado de outra escola.
A vaga de Português na Irmão Pedro será ocupada também por uma professora que virá de outro colégio.
A coordenadora-adjunta ressalta que o quadro da falta de professores está sempre se modificando, mas que a situação está muito mais estável em relação ao início do ano.
- Isso não quer dizer que amanhã não seja diferente. As vagas são dinâmicas. Às vezes, a gente fecha dez e abre outras cinco - explica.