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Caos

Sumiram 30 mil nomes da fila do Sus em Alvorada

Vendedor Carlos Eduardo espera há oito anos por cirurgia de ouvido. Por quê? Na transição para o sistema informatizado, milhares de nomes desapareceram

14/06/2013 - 07h21min

Atualizada em: 14/06/2013 - 07h21min


Carlos tem provas do atraso em seu caso

Uma mexida no sistema de cadastramento tem lesado milhares de pacientes em Alvorada:

- Nós encontramos 30 mil pessoas fora do sistema da saúde.

A declaração estarrecedora é da atual secretária da saúde de Alvorada, Janete Conzatti de Souza. O número é referente às pessoas que encaminharam consultas com especialista ou cirurgia em parte da década passada e nunca foram chamadas. Equivale a 14,2% da população - 211 mil habitantes.

- Em 2006/2007, trocaram o sistema. A gestão anterior decidiu que, quem tivesse feito encaminhamento antes de 2008, não seria mais chamado. Então, em janeiro, ao assumir a pasta, nos deparamos com isso - explica a secretária.

Janete conta que faz um trabalho de formiguinha. Desde o começo do ano, 3 mil pessoas foram reintegradas. Mas, como é preciso fazer contato um a um, não há previsão de acabar com a fila de 27 mil.

- Estamos fazendo mutirão. Somos bem diretos. Ligamos e perguntamos: "ainda precisa?", "já morreu?" - revela Janete.

Carlos tem tímpano rompido

O vendedor Carlos Eduardo Martins Flores, 32 anos, é uma das pessoas que sabe exatamente o drama da espera. Em 2005, ao sentir dores fortes no ouvido direito, procurou o posto de saúde Santa Clara. O morador do Bairro Passo do Feijó foi encaminhado para Viamão e, depois, para Canoas, onde fez uma bateria de exames:

- Descobri que tinha rompido a parede do tímpano e me encaminharam para a cirurgia.

Em 2011, uma surpresa

Procedimento que Carlos Eduardo sequer ouviu falar. Preocupado com a perda de audição, em 2011, procurou a Secretaria Municipal de Saúde de Alvorada. Surpresa: seu nome não estava no sistema, ao contrário do que indica a documentação guardada por ele:

- Disseram que a minha espera começaria a partir daquele momento.

Sobre o caso de Carlos, Janete explica:

- Passará por nova avaliação médica. Se precisar, passará para a parte de urgência.

A secretária pede a quem tem encaminhamento anterior a 2008: compareça à Rua Roberto Souza Feijó, na via do Pan 8, na Parada 48, no setor de Marcação de Consulta, com o cartão do Sus, RG, CPF e a contrarreferência em mãos.

Ex-secretário admite

O ex-secretário da saúde de Alvorada, Isac Batista, explica que, durante a sua gestão, o processo de informatização estava acontecendo. Segundo ele, a secretaria fez vários mutirões para que todo mundo fizesse parte do sistema:

- Fomos de carro até o endereço, telefonamos, fizemos o que estava ao nosso alcance. Pode ser que tenha ficado alguém de fora, mas não é possível quantificar - conta Isac, cuja gestão foi de novembro de 2009 a março de 2011.

O ex-prefeito João Carlos Brum também alega não saber do problema. Brum confirma que o sistema foi informatizado em sua gestão, mas afirma não saber se todas as pessoas foram incluídas no sistema.

Chances perdidas

Carlos Eduardo, no tempo em que aguardava a chamada para a cirurgia, tomou uma decisão ao perder o celular: não compraria outro. Foram cinco anos sem. Era preciso que o ouvido esquerdo não sofresse também as consequências da espera:

- Usava só o lado esquerdo ao falar pelo celular. Sabia que, mais cedo ou mais tarde, ele me traria problema.

E o que ele previa, aconteceu. Uma otite (inflamação no ouvido) aguda afetou a audição do lado esquerdo. O problema que já existia na hora de fazer testes admissionais nas empresas, agora, agravou-se:

- Perdi dois ou três empregos por causa disso, da audiometria obrigatória. Não consigo trabalhar com carteira assinada. Muitas vezes, sinto fisgada forte, e escorre inflamação. Preciso largar tudo na hora do expediente.


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