Comunidades decepcionadas
Desistência da Uergs de ocupar prédio abandonado frustra líderes comunitários na Capital
Do prédio que, há dez anos, custou R$ 1 milhão ao Estado, resta apenas o esqueleto
Surpreendidos pela decisão da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) de desistir da gestão do prédio hoje abandonado atrás do Centro Vida, na Zona Norte da Capital, líderes comunitárias do Eixo Baltazar pedem explicações da instituição.
De acordo com Salvatore Lettieri, presidente da Sociedade dos Amigos do Jardim Ingá (Savia), as tratativas envolvendo a comunidade e o reitor, Fernando Guaragna, foram iniciadas em 2011. Em maio deste ano, durante visita do senador Paulo Paim (PT) ao Centro Vida, os moradores tiveram a confirmação do projeto de construção do campus Porto Alegre na área que está abandonada atrás do Centro.
- Já tínhamos perdido a Upa Zona Norte para o Triângulo. Agora, mais este balde de água fria. E ficamos sabendo apenas pela imprensa. Um desrespeito depois de dois anos de tratativas diretas com o reitor - reclamou Salvatore, apoiado por líderes de
cinco bairros.
● Seriam quatro prédios
Na semana passada, o Diário Gaúcho mostrou o abandono da área que seria utilizada pela Uergs. Do prédio que, há dez anos, custou R$ 1 milhão ao Estado, destinado primeiramente à Secretaria de Estado de Cultura e jamais utilizado, resta apenas o esqueleto. Há um ano, ele foi cedido à Uergs para o futuro campus Porto Alegre.
No projeto da Universidade pensado para a região, o campus com reitoria, unidade universitária, biblioteca e pórtico de entrada surgiria a partir do que sobrou do prédio. O campus usaria também as duas quadras de esporte e o campo de futebol, hoje deteriorados e que ficam na mesma área de quatro hectares.
● Valor foi inesperado
Ao todo, a proposta custaria R$ 13,6 milhões, dinheiro que a Uergs esperava receber de uma emenda federal. Porém, vieram R$ 3,5 milhões.
- Nosso projeto de se instalar na Zona Norte ficou inviável. Com este dinheiro, só construiríamos um prédio. Então, partimos para a busca de outra área. Sinto pela comunidade do Eixo Baltazar, mas não tivemos outra alternativa - explicou, ontem, o reitor.
Saiba mais
● Em dezembro de 2002, o Estado conclui a construção do prédio.
● A obra foi erguida para ser um laboratório de cinema, parte de um projeto chamado Complexo Cinematográfico do Rio Grande do Sul.
● O laboratório do centro do país, que usaria o prédio, desistiu do projeto.
● Um convênio entre o Ministério da Educação, o governo estadual e a Fundação de Cinema do Rio Grande do Sul repassaria R$ 4,4 milhões ao complexo, implantando uma escola de cinema.
● Em janeiro de 2003, com a troca dos governos estadual e federal, o convênio acabou cancelado.
● Em outubro de 2004, a Secretaria Estadual de Cultura colocou seguranças.
● Em maio de 2005, os seguranças foram retirados do prédio. Desde então, ele está abandonado.
● Em agosto de 2012, a Secretaria da Administração e dos Recursos Humanos (Sarh) concedeu o uso por 30 anos à Universidade Estadual do RS (Uergs).
● Em junho deste ano, a Uergs reconheceu que não poderia utilizá-lo por falta de verbas.
● Neste mês, o governo estadual informou que analisa a possibilidade de celebração de convênio com o Ministério da Cultura para utilização do prédio.
Acordo da Uergs com a Ceee
Na busca por uma nova área, onde os gastos estejam dentro das possibilidades da Uergs, surgiu a possibilidade de uso do Centro Técnico de Aperfeiçoamento e Formação (Cetaf) da Ceee (Avenida Bento Gonçalves, 8855). Na tarde de ontem, foi assinado um protocolo de intenções entre a Uergs e a Ceee para gestão compartilhada.
- A unidade do campus Porto Alegre e a biblioteca da universidade já serão transferidas para o Cetaf. Em contrapartida, ofereceremos o nosso corpo docente para qualificar os técnicos da Ceee - explicou o reitor.
● Funcionamento até 2014
Segundo ele, será feito um estudo sobre os custos das adaptações que precisarão ser feitas no local.
- Nossa intenção é estar em pleno funcionamento dentro do Cetaf até o início do próximo ano. Se começássemos do zero na Zona Norte, levaríamos cinco anos para ter o campus completo - justificou.