Casa nova, cara nova
Personagens da série Invisíveis, duas famílias ganharam casas novas
Duas famílias do Bairro Restinga, em Porto Alegre, que tiveram as histórias publicadas na série de reportagens Invisíveis, em abril deste ano, viram a vida mudar
Duas famílias mostradas na série de reportagens do Diário Gaúcho tiveram mudanças positivas: ambas ganharam novas moradias, doadas por leitores.
CONFIANÇA PARA ENFRENTAR AVIDA
Do pátio de casa, a frentista desempregada Vanessa da Cruz Barbosa, 30 anos, da Vila Chácara dos Pinheiros, na Capital, contempla o passado e o futuro da família. De um lado, o casebre de papelão onde viveu por quase dois anos com os filhos Lorenzo, dois anos, e Laion, seis anos. Do outro, a tão sonhada casa com banheiro que ganhou de um doador, há um mês.
Desde que teve a história publicada na segunda reportagem da série Invisíveis, em abril, ela viveu uma transformação. A última etapa foi ganhar uma nova moradia, há cerca de um mês, no mesmo terreno onde enfrentou meses de sofrimento e vergonha. Foi uma leitora, que Vanessa não conheceu, a doadora. Construída ao lado da antiga morada, que permanece em pé, a casa de madeira tem três cômodos grandes e banheiro de alvenaria.
- Depois da mudança, nem ouço a chuva lá fora. Antes, na casa antiga, chovia em cima da gente - comentou.
Doações foram divididas
Logo após a publicação, Vanessa recebeu a ajuda de voluntários para realizar exames médicos que garantiram um benefício temporário do INSS, já que ela tem um problema que causa rigidez dos músculos e restringe seu caminhar e engolir. Antes, os três viviam com apenas os R$ 210 do Bolsa Família.
Vanessa também recebeu doações de roupas e de alimentos, vindos de todas as partes da Capital e da Região Metropolitana. Parte dos presentes, ela fez questão de compartilhar com vizinhos que enfrentam situação semelhante à dela.
- Já que estava sobrando, achei melhor ajudar quem também estava precisando - explicou.
VANESSA:"SENTI FALTA DE LÁ"
Tímida, Vanessa conversou com a reportagem por uma hora. Mas só minutos antes de se despedir fez uma revelação:
- Vou confessar que, nos primeiros dias, senti falta de lá (casa de papelão), pois não tinha caído a ficha que eu tinha uma casa de verdade. Agora, estou mais tranquila e confiante.
ESTÁBULO SERÁ PASSADO
Com um boné na cabeça e uma pá nas mãos, o ex-jóquei Adão Jesus César de César, 58 anos, da Vila Chácara do Banco, na Capital, era só sorrisos ao ajudar a construir a primeira casa própria da família. Fruto de doação de um empresário, a nova morada terá uma parte de madeira (três quartos e uma sala) e outra de alvenaria (banheiro e cozinha).
- Nunca imaginei que alguém me daria uma casa. Fico emocionado só de pensar - revelou Adão, enquanto ajudava a nivelar o terreno, o mesmo no qual mora, num estábulo, há dez anos.
Até hoje, a família de Adão recebe alimentos e roupas enviadas por doadores anônimos. Para que a casa nova fosse construída no terreno, a prefeitura enviou um caminhão para retirar os entulhos - entre roupas velhas e material reciclável juntado pela família para revenda - espalhados na área. Foram necessárias duas viagens.
Tapetinho no banheiro
Contando os dias para se mudar, Maria Helena, 50 anos, mulher de Adão, só pensa em arrumar a casa onde passará a viver com o marido e os quatro filhos.
- Quero colocar tapetinho no banheiro e passar cera no piso todas as semanas. Sempre tive vontade de fazer estas coisas, mas com o tempo perdi a vontade por morar num lugar sem condições - afirmou Maria Helena.
A família de Adão teve a história contada na primeira reportagem da série. Na época, não recebiam o Bolsa Família por falta de documentos. Logo após a publicação, a presidente da Comissão de Defesa do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Urbana da Câmara dos Vereadores, vereadora Fernanda Melchionna (PSol), e a Defensoria Pública da União procuraram a família para auxiliá-los nesta questão.
Reveja a reportagem especial sobre Os Invisíveis:
ENTRAVE É A ÁGUA
Com documentos de todos os membros da família providenciados, Adão terá facilitada a inclusão da família em programas do governo. Além disso, a Secretaria Especial dos Direitos Animais (Seda) está tratando e esterilizando os mais de 20 animais (cachorros, gatos e cavalos) que eles cuidavam no estábulo.
Porém, o mais complicado para a família é ainda não ter água encanada. O caso está sendo tratado entre a Câmara e o Dmae.
Já a Defensoria Pública da União (DPU) informou que, ao checar o saldo do FGTS, descobriu que Adão tem dinheiro a receber de uma rescisão de trabalho. A DPU ainda intermedia a possibilidade de Maria e dois filhos receberem o benefício de prestação continuada de assistência social.
CRAS MÓVEL: NA ESPERA
Por meio da assessoria de imprensa, a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) informou que fez o cruzamento de dados das famílias apontadas pela série de reportagens com o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, tendo identificado as que estão inseridas no Cadastro Único de Benefícios Sociais. Ou seja, "passíveis de receber algum benefício do governo. Aquelas que não possuem registro no cadastro estão sendo buscadas pela Fasc nos locais indicados pela reportagem do DG".
A assessoria informou que a equipe de vigilância da Fasc segue avaliando a possibilidade de um Cras Móvel para chegar a pontos ainda não atendidos. O estudo, que acompanha os dados mensais de monitoramento nos territórios, não tem data de conclusão.