Desperdício
Prédio erguido para ser laboratório de cinema está totalmente depredado na Capital
Erguido com recursos do Estado no Centro Vida, no Bairro Sarandi, imóvel está destruído. A obra, finalizada em 2002, virou ambiente ideal para viciados
Gigante em números e tamanho, o prédio construído com recursos do governo do Estado, atrás do Centro Vida, na Zona Norte da Capital, segue sem uso dez anos depois de concluído. O desperdício do dinheiro público é visto por quem cruza pelo que sobrou da edificação concluída em dezembro de 2002 e orçada, na época, em
R$ 1 milhão. Hoje, o valor da obra chegaria a R$ 1,86 milhão (corrigido pelo IPCA, índice que serve de base para a inflação).
Envolvido num jogo de empurra, sendo repassado para diferentes secretarias ao longo dos anos, jamais teve utilidade. Quase nada restou da obra erguida para ser um laboratório de cinema com 1,049 mil m².
Só o esqueleto imponente, esquecido entre as avenidas Homero Guerreiro e Baltazar de Oliveira Garcia, no Bairro Sarandi, resiste ao vandalismo que devorou portas, janelas, banheiros, instalações elétricas e hidráulicas e, até, o telhado.
Para drogados e pássaros
Não há iluminação próxima, nem no beco que liga as duas avenidas e passa ao lado da construção. Os únicos que se arriscam a entrar nos restos do prédio são usuários de drogas, pombas e joões-de-barro.
- Como se não bastassem os usuários de crack, tem ladrão aproveitando a escuridão para assaltar pessoas - contou um morador da Vila Esperança, que fica ao lado, pedindo para não ser identificado por medo de represálias.
Entre 2004 e 2006, o Diário Gaúcho acompanhou a situação do prédio. Na época, a construção pertencia à Secretaria de Estado de Cultura, que não tinha destino para ela.
Entenda o caso
- Em dezembro de 2002, o Estado conclui a construção do prédio.
- A obra foi erguida para ser um laboratório de cinema, parte de um projeto chamado Complexo Cinematográfico do Rio Grande do Sul.
- O laboratório do centro do país, que usaria o prédio, desistiu do projeto.
- Um convênio firmado entre o Ministério da Educação, governo do Estado e Fundação de Cinema do Rio Grande do Sul (Fundacine) repassaria R$ 4,4 milhões ao complexo, implantando no local uma escola de cinema.
- Em janeiro de 2003, com a troca dos governos estadual e federal, o convênio acabou cancelado antes da remessa das verbas.
- Em outubro de 2004, a Secretaria Estadual de Cultura colocou seguranças.
- Em maio de 2005, os seguranças foram retirados do prédio. Desde então, ele está abandonado.
Continua sendo do Estado
Ontem, o Diário contatou com a Secretaria de Estado de Cultura, que garantiu: o prédio havia sido repassado à Secretaria da Administração e dos Recursos Humanos (Sarh) - fato confirmado pela Sarh. Porém, às 17h58min, enviou e-mail informando: "a Sarh concedeu cessão de uso à Uergs em 29 de agosto de 2012".
Então, o Diário tentou contato por telefone e por e-mail com a assessoria da Universidade Estadual do RS, mas não obteve retorno até as 22h.