Beleza em crise
Salões de beleza se maquiam para segurar clientela
Setor que vinha em alta experimenta redução da clientela de até 30% na comparação com o verão. O frio e a grana mais curta ajudam a explicar
Quando o cenário de crise toma forma, é hora de começar a cortar gastos. E, por mais que os brasileiros sejam vaidosos, os salões de beleza são um dos setores mais afetados, já que oferecem serviços que não são considerados essenciais. Comerciantes falam em baixa de 30%. Em Porto Alegre, há cerca de 2 mil estabelecimentos.
O Diário Gaúcho conversou com alguns profissionais dessa área e constatou que o fluxo da clientela realmente diminuiu. Presidente do Sindicato dos Salões de Barbeiros, Cabelereiros, Institutos de Beleza e Similares do Estado (Sinca-RS), Marcello Chiodo confirma:
- A gente já sentiu uma queda no movimento, que o pessoal está endividado. Então, o intervalo para fazer a mão ou cortar o cabelo está maior.
Ele observa que fatores como a chegada do inverno e o cenário de protestos dos últimos dias influenciam na demanda de clientes. Contudo, o freio puxado no mercado é anterior, desde o final de abril. Em meio à crise, Marcello afirma que é fundamental se qualificar:
- É preciso buscar alternativas para manter a clientela.
Clientela diminuiu 30%
A versatilidade de Elisabete Oberoffer Ramos, 52 anos, proprietária de um salão no Bairro Sarandi, não tem sido tão exercitada quanto ela gostaria. Cabeleireira, manicure, depiladora e com mais uma série de habilidades na área da estética, ela tem visto a correria do dia a dia de trabalho diminuir nos últimos meses.
- As pessoas que estavam acostumadas a vir fazer unha e cabelo, optam por uma só coisa. E se vinham duas vezes no mês, agora é só uma - observa.
Ela ouve das clientes: "a coisa tá preta"
A mudança nos hábitos se iniciou em abril. Apesar de não precisar, por enquanto, cortar gastos, ela está atenta ao mercado. A concorrência no bairro é grande, e ela garante ter o menor preço. Mesmo assim, não vê cenário fácil.
- O movimento diminuiu uns 30%. Eles dizem que é por falta de dinheiro, porque "a coisa tá preta" - conta.
Para dar a volta por cima, Elisabete já tem alguns projetos. Uma das ideias é oferecer um combo com serviços variados e um valor mais acessível. Outra preocupação é ampliar as possibilidades de pagamento, com a instalação de uma máquina de cartão de crédito.
- E o atendimento precisa ser diferenciado, ou o cliente não volta - ensina.
"Em meio à crise, crie"
Experiência, jogo de cintura, qualificação e criatividade são as habilidades que Helena Rosa dos Santos, 52 anos, utiliza para driblar a crise. A equipe que trabalhava com ela foi se desfazendo.
- Comecei a perceber isso em fevereiro. Tive até de pedir ajuda para pagar o aluguel, coisa que nunca me aconteceu - conta.
Facilidades mantêm vínculos
Mas ela não se intimidou. Para manter o movimento na estética que tem há sete anos no Bairro Alto Petrópolis, voltou a assumir a função de manicure, facilitou as formas de pagamento e ampliou o horário de atendimento.
- Em meio à crise, crie. É um bom momento para crescer - acredita.
São essas facilidades que mantêm o vínculo de clientes como a professora Cândida Clara Costa, 48 anos. Ela e a filha Carolina, 13 anos, cuidam da beleza com Helena. Mas tiveram de mudar alguns hábitos.
- Agora, ou a gente vem e faz o cabelo, ou a gente vem e faz só a mão. E aproveita a facilidade de pagar no início do mês - explica.
Menos vaidade, mais comida no prato
Na família, são cinco pessoas: o casal e três filhos. A economia no salão impede de mexer na alimentação. A professora conta que, quando percebeu que a mesma quantia já não dava para fazer o rancho básico, começou a cortar despesas. Cândida diz:
- O dinheiro não dá mais para pagar nada. Mas como não dá para deixar de se cuidar, a gente negocia.
Manicure largou
O salão montado pelos sócios Carlos Hervandil de Assunção Vieira, 51 anos, e Edelamara Oliveira de Souza, 46 anos, há quatro meses no Bairro Rubem Berta, ainda está dando os primeiros passos. Mesmo assim, eles já conseguiram perceber a alteração no fluxo de clientes.
- No primeiro mês, houve progresso, mas depois deu uma diminuída. A gente ouve o pessoal se queixar, até a minha manicure desistiu de tanto que caiu o movimento dela - relata Carlos, 20 anos de experiência.
Para driblar a crise, ele acredita que é importante ser versátil, ampliar horários e facilitar as formas de pagamento. Adquirir conhecimentos variados também é fundamental.
Edelamara está concluindo a sua formação como cabeleireira. Até na escola o movimento baixou. Mesmo assim, acredita que, quando o inverno terminar, a situação deve melhorar.
Quer se qualificar?
- O Sinca-RS oferece uma série de cursos para auxiliar os profissionais da beleza a qualificarem o seu trabalho.
- Informações: telefones 3225-9604 ou 3012-8778 e e-mails sinca@sincars.com.br ou atendimento@sincars.com.br