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Polêmica no Litoral

Sessinzão à venda

Prefeitura de Cidreira quer se desfazer do estádio construído pelo poder público nos anos 90. Mesmo com a estrutura interditada, população está dividida

11/07/2013 - 07h58min

Atualizada em: 11/07/2013 - 07h58min


Esquecido entre dunas, lixo e vacas, o Estádio Municipal Antônio Sessim, conhecido como Sessinzão, voltou a ser assunto entre os moradores de Cidreira, no Litoral Norte. Especialmente diante da hipótese de parte de sua estrutura virar usina de reciclagem.

Consumido pelo tempo e pela falta de manutenção em seus 17 anos, tornou-se um incômodo para a atual administração, que tenta se desfazer do campo para 18 mil torcedores. A decisão divide a cidade do Litoral Norte.

Prefeitura quer US$ 1 milhão

Um dos motivos para não aplicar mais dinheiro estaria nas dívidas que a prefeitura ainda tem da época da construção - cerca de R$ 7 milhões. Por descartar a reforma, o vice-prefeito, Claudio Volf, revela que a prefeitura tenta vendê-lo por US$ 1 milhão (R$ 2,3 milhões):

- Queremos vendê-lo ou liberá-lo por comodato (ceder a área de graça em troca da reforma após um tempo). Mas nem assim surgem interessados.

Reciclagem no vestiário

Dos cofres públicos não sairá mais dinheiro. Segundo Claudio, seria preciso mais de R$ 3 milhões para reformar o prédio, interditado desde 2011 - a Fundação de Ciência e Tecnologia apontou corrosões, problemas nas ferragens e infiltrações.

- A população precisa entender: não vamos tirar dinheiro da saúde ou da educação para aplicar naquilo - explica Claudio.

Uma tentativa de repassar o estádio ocorreu na segunda-feira. Mas a Câmara de Vereadores recusou por 8 a 0 a ideia da prefeitura de permitir que uma recicladora de Novo Hamburgo, especializada em recolher resíduos sólidos industriais, usasse quatro salas e uma área de circulação do estádio. O uso de 420m² seria gratuito e sem prazo de saída.

- Haveria geração de 35 empregos. Agora, podemos perder o investimento - lamenta Claudio.

Presidente da Câmara de Vereadores, Paulo Catarina argumenta que o Legislativo vetou o projeto na expectativa de buscar uma verba federal para remodelar o Sessinzão.

O ESTÁDIO

- Inaugurado em fevereiro de 1996, na estreia do Gauchão: Inter 1 x 0 Ypiranga.

- O nome é uma homenagem a Antônio Sessim, pai do ex-prefeito Elói Braz Sessim - que batizou o estádio com o nome de seu pai.

- O gramado tem 108m x 74m.

- Foram três anos para construir o estádio, mas o projeto original jamais foi concluído. É um dos dez maiores do Estado.

- Teve 19 jogos oficiais entre Gauchão e a Copa Renner de 1996 (média de um jogo por ano). Não é usado desde o Estadual de 2007.

Idealizador defende a obra

Ex-prefeito e idelizador do estádio, Elói Braz Sessim comemorou a decisão da Câmara de não ceder espaço à reciclagem. Apesar de o prédio ser chamado de "elefante branco" (uma estrutura sem uso), Sessim defende sua proposta original.

- Infelizmente, não pude finalizá-lo porque saí antes (teve mandato cassado). Se ele fosse reativado, daria emprego para ambulantes, seguranças, profissionais da limpeza, do turismo...

Visita inesperada

Colorado fanático, Sérgio Padilha, 65 anos, de Viamão, ainda lembra da partida de inauguração do Sessinzão, em 1996, quando o Inter venceu por 1 a 0 o Ypiranga de Erechim, gol do volante Anderson.

Na terça passada, Sérgio voltou ao estádio para apresentá-lo ao genro Ezequiel Grave, 37 anos, e ao neto, Pedro, de um ano. Só entrou porque viu aberto o único portão de ferro ainda existente - os outros foram bloqueados com tijolos. Eles se surpreenderam com o que viram.

- Não sabia que ele estava tão aos pedaços. Pelo menos o campo ainda existe - comentou Sérgio.

Confira o vídeo:

 

DÁ UMA TRISTEZA

Ao lado de cinco cadelas, o guarda Ivo Nicolau Klafke, 72 anos, é o responsável por cuidar durante o dia do que resta do patrimônio do estádio. À noite, outros dois seguranças circulam pela área no escuro, porque toda a fiação elétrica já foi furtada.

Há nove anos cuidando do que restou do gramado, Ivo torce para que algum empresário se interesse pelo Sessinzão. Sonha em ver novas partidas oficiais sendo disputadas no campinho hoje coberto por rosetas e usado apenas para jogos de várzea nos finais de semana.

- Dá uma tristeza ver tudo isso se acabando - confessa.

Vizinhos divididos

Apesar de a prefeitura afirmar que a empresa de reciclagem não transformaria o estádio num lixão, o boato de que até o gramado seria usado para a função se espalhou. Na vizinhança do estádio, há os que defendem a proposta e aqueles contra.

Filho de um dos construtores do estádio, o pedreiro Cristiano Barbosa de Jesus, 27 anos, mora há um ano em frente ao Sessinzão e teme que a mudança de função do estádio possa desvalorizar a área do entorno.

- Já tinha gente rindo porque moraríamos na frente do lixão. Isso desvaloriza o bairro. Queremos que o estádio se torne uma área de eventos - sugere.

Com opinião contrária a Cristiano, a dona de casa Jéssica Borges, 17 anos, torce para que o estádio tenha um outro destino.

- Que seja usado para gerar empregos para Cidreira. Ele está abandonado mesmo, tudo no escuro - afirma.


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