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Samu em xeque

Cena de desrespeito, escassez e morte ocorreu no centro de Porto Alegre

Idoso morreu sem socorro do Samu. Atendente foi afastado por estupidez. Saúde quer provas de que ambulâncias estavam ocupadas

20/08/2013 - 23h43min

Atualizada em: 20/08/2013 - 23h43min


Porto Alegre dispõe de um total de 15 ambulâncias

O flagrante de atendimento de um idoso minutos antes de ele morrer, feito por uma equipe da RBS TV na manhã desta terça-feira, no Centro de Porto Alegre, expôs a escassez de ambulâncias da Samu e o despreparo de um médico do serviço de regulação.

O funcionário (o nome não foi divulgado pela Secretaria da Saúde) foi afastado após a confirmação da morte do segurança e jardineiro Orlando Francisco Rodrigues da Silva, 70 anos, que morava sozinho na Vila Jardim, na Capital. Uma sindicância também foi aberta para apurar o fato. Orlando sofreu um mal súbito no terminal de ônibus Parobé e não pôde ser socorrido porque, segundo a alegação, não havia ambulância disponível no momento.

Médico foi frio e grosseiro

Em vez de pedir informações ao repórter Manoel Soares sobre o estado de saúde de Orlando, que era atendido pelo bombeiro Guilherme Limongi Barbieri, 21 anos, o funcionário do Samu respondeu ao pedido de ambulância com rispidez, antes de desligar o telefone:

- Não foi ambulância porque não tem, já expliquei. É isso. Vocês têm de entender isso. Ponto, acabou. Assim que tiver ambulância, a gente vai mandar. Se vocês estão com tanta pressa, que encaminhem pro HPS, pra Santa Casa...

Idoso não resistiu

Depois das tentativas desesperadas de reanimar o idoso, PMs levaram Orlando para o HPS numa viatura do 9º BPM. Não havia maca, e o segurança foi levado nos braços até o carro.

Segundo o hospital, o paciente chegou às 10h54min. Seis minutos depois, os médicos constataram a sua morte. De acordo com o DML, a causa do óbito foi parada cardiorrespiratória em decorrência de complicações causadas por um carcinoma (tipo de câncer) na região pélvica.

Entrevista: "Vamos buscar justiça"

O segurança Luciano César Oliveira da Silva, 38 anos, filho de Orlando, foi avisado por um amigo: seu pai apareceu no Jornal do Almoço sendo atendido no chão, no Centro. No HPS, soube da morte. À noite, enquanto lidava com trâmites para o velório, ele falou, por telefone, com o Diário.

Diário Gaúcho - Seu pai estava bem de saúde?
Luciano Silva - Esses dias ele reclamou de dor no serviço. Mas parecia bem.

Diário - Dor em função do câncer?
Luciano - Não sabíamos desta doença (que originou a parada cardiorrespiratória). Só se ele escondeu da gente (são quatro filhos). Vou me informar melhor agora.

Diário - Soube da falta de atendimento da Samu?
Luciano -
Sim. Todo mundo viu pela tevê. Vamos buscar justiça, para que outros casos não se repitam por aí. É muito triste isso.

Promessas e cobranças

A coordenadora do Samu na Capital, Rosane Ciconet, garante que todas as ambulâncias estavam em atendimento no horário das ligações. Admitiu carência nos horários de pico, projetando que o ideal seriam mais quatro viaturas (com equipes) de suporte básico. Ou seja: um aumento de um terço sobre as 12 atuais. Rosane criticou a postura do médico:

- Acho que não se justifica a rispidez.

O secretário da Saúde Carlos Casartelli solicitou todas as planilhas de serviços das ambulâncias para verificar onde cada uma estava na hora das chamadas. Ele também quer saber porque o veículo de intervenção rápida que estava no HPS não foi utilizado.

- Enquanto eu não receber as informações, não sairei da Secretaria - afirmou na noite desta terça-feira.

Porto Alegre, com 1.416.714 habitantes, dispõe de um total de 15 ambulâncias: as 12 de SB e três de suporte avançado (SA), além de seis veículos para transporte social e um de intervenção rápida. O Ministério da Saúde preconiza uma ambulância de SA para cada grupo de 400 a 450 mil habitantes, e uma de SB para cada grupo de 100 mil a 150 mil habitantes. A Capital estaria no limite mínimo.

"Fiz o que estava ao meu alcance"

Há cinco meses na unidade terrestre do Grupo de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros da Capital, Guilherme passou a tarde e noite desta terça-feira recebendo elogios de colegas por sua atuação:

- Levantei a camisa dele e vi que não havia movimento torácico, então comecei a fazer massagem para manter a oxigenação dos órgãos vitais. Lamento que tenha ido a óbito. Fiz o que estava ao meu alcance.


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