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Na ponta da sapatilha

Essas bailarinas são campeãs do improviso em Alvorada

Sem apoio financeiro, Ballet CultuArte ensaia em associação improvisada desde que perdeu parceria com Secretaria de Cultura

17/08/2013 - 09h31min

Atualizada em: 17/08/2013 - 09h31min


Com piruetas graciosas e passos firmes, bailarinas do Ballet CultuArte, de Alvorada, driblam a falta de condições ideais para desenvolver a arte e manter um currículo
de troféus. Sem apoio financeiro, o projeto atende a 90 bailarinos - incluindo seis
deficientes visuais - com idades entre dois e 20 anos, de diversos bairros da cidade.

O projeto idealizado pela pedagoga Jacqueline Navarro, 40 anos, existe há seis anos e, até o ano passado, fazia parte das atividades da Secretaria de Cultura do município. Agora, sem a parceria, as aulas são oferecidas por três professores voluntários em um
espaço cedido da sede da Associação Beneficente dos Aposentados, Inativos e Pensionistas (Abaip).

- Nossa comunidade se ajuda muito - opina o presidente Dilceu Moraes.



"Tem de ser muito caprichosa"

No salão improvisado, cadeiras servem de barra. Não há espelhos. Nem por isso, os movimentos do balé clássico são menos precisos:

- Temos também aula teórica, sabem os nomes dos passos - conta Jacqueline.

Recursos para viagens e cenografia são poucos. Em alguns casos, até as sapatilhas vêm de doação. Recentemente, participantes do CultuArte fizeram um pedágio pelas ruas para garantir o ônibus até um concurso.

- Saio com a minha cara de pau e a pasta (com fotos e recortes de jornal) pedindo
ajuda - diz Jacqueline.

Moradora do Bairro Umbu, a estudante Emily Ramos, 13 anos, participa há seis anos do projeto:

- Mudou bastante a minha vida!

Thaize Pinto Gonçalves, oito anos, avisa:

- A bailarina tem de ser muito caprichosa, se esforçar e ser disciplinada.

Franciane Mattos, 14 anos, comemora:

- Eu era muito tímida e hoje vou a festivais de dança!

"No palco, esqueço o preconceito"

Deficiente visual, a estudante Gislaine de Oliveira Figueiredo, 19 anos, está há dois anos e meio no projeto. Com ela, Paola Tavares, 20 anos, e outras quatro meninas cegas estão dançando.

- Todas participam de acordo com as suas possibilidades. No palco, esqueço a barreira do preconceito, esqueço que não enxergo, que o mundo tem problemas. Dependo da dança para estar bem - revela Gislaine.

Entre os planos do projeto está a inclusão de cadeirantes ao grupo de bailarinas e de pacientes que estão tratando de câncer.

- Para mim, foi um desafio dar aula para deficientes visuais - completa a professora.

Com aval do famoso bailarino russo

Além do encontro com bailarinas como as consagradas Ana Botafogo e a primeira
bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Cecília Kerche, participantes do projeto já tiveram a honra de assistir à passagem de palco do bailarino russo Mikhail Baryshnikov (um dos mais famosos do mundo), antes de uma apresentação na Capital, em 2010.

Ao saber do trabalho desenvolvido pelo Ballet CultuArte, o bailarino fez questão de escrever uma carta parabenizando pela iniciativa. O elogio assinado é guardado com carinho.

- Isso foi o plus que me fez continuar. Se o Mikhail Baryshnikov elogiou, não podemos parar - comenta Jacqueline.

Empadas para garantir sapatilhas

Além de acompanhar a filha Taciara, 11 anos, a costureira Caroline Gonçalves, 31 anos, é uma das mães participativas que ajudam a manter o projeto. Ela pensa nas fantasias, costura os figurinos, inventa adereços, ajuda na maquiagem, sabe as coreografias.

- Estou sempre junto, com agulha, linha e tesoura! Lembro da primeira fantasia, de anjo, que tinha só malha e lenço. Era simples, mas com o empenho delas, ficou lindo - lembra.

A mãe conta que, certa vez, para pagar a inscrição numa competição de dança, Taciara fez empadas e bolos para vender. Com isso, comprou uma sapatilha de ponta. Caroline
destaca que a dança trouxe a disciplina.

- O desempenho no colégio melhorou muito  diz a mãe.

A menina explica:

- Eu não sei viver sem dançar!

Próximos passos

* O projeto já foi premiado em competições como Brasil em Dança, Sul em Dança, Dança Comigo Torres, Fest Dança Balneário Pinhal. Neste ano, o grupo inicia suas participações no Sul em Dança, em São Leopoldo (setembro). Depois, participará do
Festival Vem Dançar e, em novembro, no Cruz Alta em Dança. 
* O grupo será o enredo da escola de samba mirim Estrela do Umbu, em 2014. Também no ano que vem, as bailarinas do projeto desfilarão na escola de samba Os Filhos da Candinha, da Capital.
* Neste momento, o projeto precisa de ajuda para a aquisição da barra para exercícios e de espelhos. Como há meninas sem condições de contribuir com o custeio dos figurinos, também são bem-vindos padrinhos dispostos a ajudar com sapatilhas, malhas e doações para garantir o transporte para apresentações e competições.
* Interessados podem fazer contato pelo e-mail projetocultuarte@yahoo.com.br ou pelo telefone 8497-9733.


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