Prática disseminada
Furto de luz causa rombo de R$ 80 milhões
De cada dez fiscalizações realizadas pelos técnicos em restaurantes, pizzarias, lancherias, padarias e mecânicas, em cinco são encontradas irregularidades
Saiu do bolso da população os R$ 80 milhões que a Ceee perdeu no ano passado somente com ligações clandestinas (os gatos) e furtos de energia elétrica na região atendida pela companhia.
Segundo o diretor-presidente de Ceee, Sérgio Souza Dias, 30% destes valores foram originados de ligações clandestinas em vilas ainda irregulares e 70% vieram de adulterações feitas por clientes da Ceee diretamente nos medidores.
Sérgio afirma que a meta é reduzir em 50% esta perda até o final de 2014, com a regularização de áreas e a fiscalização das adulterações. Mas ele reconhece a dificuldade em acabar com as ligações clandestinas, que hoje são calculadas em mais de 50 mil nos 72 municípios atendidos pela concessão.
- Estamos investindo nas áreas irregulares. Por ano, pelo menos 4 mil moradias estão sendo regularizadas - revela o presidente.
De acordo com o chefe do departamento de fiscalização da Ceee, Gustavo Schneider, a prática de furto de energia está disseminada em Porto Alegre, Viamão, Guaíba e Alvorada.
Principalmente, no comércio: de cada dez fiscalizações realizadas pelos técnicos em restaurantes, pizzarias, lancherias, padarias e mecânicas, em cinco são encontradas irregularidades.
Pastelaria desviou R$ 235 mil
- A prática do furto de energia está banalizada. E não deveria, pois é crime. Fiscalizamos, principalmente, o comércio em geral. Por dia, é comum encontrarmos adulterações que chegam a R$ 70 mil mensais - conta Gustavo.
Um dos casos que mais despertou a atenção dos técnicos ocorreu em 2011, numa pastelaria da Zona Norte da Capital. A fraude chegou a R$ 235 mil, mas poderia ser maior já que a Ceee só pode multar a empresa pelos três anos anteriores, como determina uma resolução interna. Houve registro de ocorrência na polícia, e o caso está na Justiça.
- Constatamos que a empresa usava um sensor que mostrava a nossa presença próximo ao medidor de energia. Quando chegávamos ao local, uma luz acendia dentro do prédio e eles desligavam o disjuntor do desvio de energia. Enquanto furtavam, gastavam 700 kWh (R$ 350) por mês. Depois da descoberta da fraude, passaram a gastar 20 mil kWh (R$ 10 mil).
Saiba mais
- As ligações irregulares podem causar curtos-circuitos, choques elétricos, sobrecarga do sistema e até incêndios.
- Quando o morador constrói mais de um imóvel no mesmo terreno, é preciso informar à Ceee para que seja colocado mais um medidor de energia no local.
- O furto de energia é crime, previsto no Código Penal. Na forma qualificada, quando há adulteração de equipamento, as penas são reclusão de dois a oito anos e multa.
- Em caso de desconfiança de ligações irregulares ou de problemas no fornecimento de energia, entre em contato com a Ceee pelo 0800-721-2333.
- Uma equipe da Ceee vai ao local e avalia os riscos. O morador é autuado e recebe um termo de ocorrência de irregularidade. A rede é desligada.
- Só na Região Metropolitana de Porto Alegre, são 23 equipes trabalhando diariamente na fiscalização.
Tipos de irregularidades, conforme o departamento de fiscalização da Ceee
- Irregularidades internas ao medidor - manipulações realizadas no interior do medidor por meio do rompimento dos lacres, com o objetivo de registrar menor consumo de energia elétrica do que o consumido. A manipulação é detectada por vestígios deixados no interior do equipamento.
- Irregularidade externa ao medidor - desvios nos condutores de entrada de energia e manipulações no circuito de medição fazendo com que parte da energia ou sua totalidade não seja registrada pelo medidor. Esta modalidade apresenta variações com comandos, sendo possíveis de serem detectadas por meio de testes com equipamentos e utilização do boroscópio, sonda em fibra ótica capaz de ser introduzida no interior da tubulação e registrar fotos e vídeos que evidenciem a derivação dos condutores irregulares.
Regularização no Lami
Começa hoje o mutirão de ligações para regularizar o fornecimento de energia elétrica no Loteamento Esther, na Parada 21, no Bairro Lami, na Zona Sul de Porto Alegre.
O trabalho faz parte das ações do programa Energia Legal e deverá beneficiar aproximadamente 200 famílias do loteamento. Esta semana também deve ser concluída a ligação dos novos clientes da Vila Conquista, na Zona Leste da Capital.
Recuperação de R$ 4,5 milhões
Desde o início deste ano, mais de mil unidades consumidoras foram beneficiadas e a expectativa é de que, até o fim de 2013, outras 2,9 mil famílias tenham o fornecimento de energia legalizado. Ao todo, a companhia prevê recuperar R$ 4,5 milhões em recursos que vinham deixando de ser arrecadados devido a ligações clandestinas de energia elétrica.
União surtiu efeito em Alvorada
Na Vila São Francisco, em Alvorada, ligações clandestinas acabaram sobrecarregando a rede de energia elétrica da Rua Fernão Dias. Nos três últimos meses, a falta de luz foi quase diária na via.
Revoltados, moradores fizeram um abaixo-assinado com 30 assinaturas de vizinhos pedindo respostas da Ceee e da Aneel e também o protocolaram no Ministério Público.
- Cansamos de esperar por uma solução. Moradores tiveram eletrodomésticos queimados devido às quedas. Eles alegam que há gatos na rede, mas não fazem uma inspeção - afirmou a dona de casa Edenira Ferreira dos Santos, 65 anos, uma das idealizadoras do abaixo-assinado.
A união surtiu efeito. Na semana passada, uma equipe da Ceee trocou um dos transformadores da rua. Mas os moradores continuam querendo respostas sobre as redes clandestinas.
Segundo a assessoria de imprensa da Ceee, o problema é que na região há terrenos onde existem duas ou mais casas com um único medidor de energia, o que é considerado irregular e acaba sobrecarregando a rede. A Ceee prometeu uma nova averiguação na região e melhorias, como a troca de mais um transformador nos próximos dias.