ClassiDiário
Uma polêmica que ronca alto
O escapamento tem provocado um debate que ronca alto entre pilotos e autoridades de trânsito
Responsável pela redução de ruídos na eliminação dos gases do veículo, o escapamento tem provocado um debate que ronca alto entre pilotos e autoridades de trânsito.
Afinal, a troca do equipamento é proibida? De acordo com o assessor da gerência de fiscalização da Empresa Pública de Transportes e Circulação (EPTC) de Porto Alegre, Daniel Denardi, a resposta direta é não, mas existe uma condição indispensável:
- A peça precisa ser original, reconhecida pelo fabricante, sem alterar as características do veículo. Ocorre que a maioria do mercado paralelo não tem as mesmas propriedades - afirma.
Em busca de um barulho mais possante e um visual agressivo, muitos motociclistas instalam escapamentos esportivos que, em geral, deixam o nível de ruído do veículo mais elevado. Para alguns pilotos, abordados por agentes nas ruas ou em barreiras de fiscalização, a mudança acaba em multa, e a alegria com o som alto se transforma em dor de cabeça.
Confusão com a legislação
Os condutores argumentam que o agente de trânsito não usa equipamento apropriado para medir o ruído do escapamento e, portanto, a multa não poderia ser aplicada.
De acordo com Daniel, os motociclistas confundem duas legislações diferentes.
No Código de Trânsito Brasileiro (CTB), o parágrafo segundo do artigo 280 determina que as infrações devem ser comprovadas por declaração do agente ou por aparelho regulamentado pelo Contran.
- A multa ocorre se o agente observar que o escapamento altera a característica do veículo, o que é previsto como infração pelo artigo 230. Qualquer medição pode ser questionada, porque o Contran ainda não fez regulamentação para isso. Portanto, o fiscal não tem que medir para aplicar multa. Já temos inclusive uma posição jurídica sobre isso - explica Daniel.
Os limites de ruído, segundo o assessor da EPTC, devem ser obedecidos pelo fabricante na homologação da moto para comercialização.
O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) determina um máximo de 99 decibéis (db) para motocicletas fabricadas até 1998 ou o nível descrito no manual para modelos posteriores (entre 75 e 80db conforme a cilindrada).
Escapamento aberto é multa na certa
Antes de mexer no escapamento da moto, o condutor precisa prestar muita atenção na diferença entre duas situações. A primeira, é a instalação de equipamento do tipo esportivo - desde que não altere os níveis de ruído e emissão de gases do original ou as características do veículo, está liberado. A segunda é o chamado escapamento aberto, quando os abafadores são retirados ou o cano recebe perfurações além da saída original.
Nesse caso, a intensidade do ruído fica extremamente elevada e, se o motociclista for flagrado pela fiscalização, leva multa na certa.
A infração, prevista no inciso XI do artigo 230 do CTB, é considerada grave e gera cobrança de R$ 127,69, retenção do veículo e cinco pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
MUDAR A PEÇA GERA PERDA DA GARANTIA
Seja por desejo estético ou na tentativa de economizar, a troca do escapamento original pode trazer consequências desagradáveis para o motociclista.
A primeira delas é a perda de garantia do veículo. De acordo com o gerente de serviços da Estação H, concessionária Honda, Cristiano Ávila, isso ocorre porque a instalação de um escapamento diferente causa uma série de alterações no funcionamento do veículo.
- O escape paralelo não possui a mesma estrutura interna do original. Além do barulho, isso modifica o processo de eliminação de gases e altera toda a lógica pela qual a moto foi projetada para trabalhar - adverte.
Gasto de gasolina aumenta
Segundo Cristiano, a melhora de desempenho com escapamentos esportivos só é percebida em alguns modelos de motocicleta em alta rotação.
- Nas de baixa cilindrada, a diferença é mínima - afirma.
Além disso, a troca do equipamento tende a aumentar o consumo de combustível da moto.
- Altera a compressão do motor e, por isso, gasta mais - conta Cristiano.
Catalisador reduz emissão de poluentes
Além de reduzir o ruído dos veículos, o escapamento é responsável por controlar a liberação dos gases pelo motor.
Para motocicletas, os níveis máximos são determinados pelo Programa de Controle da Poluição do Ar por Motociclos e Veículos Similares (Promot), criado pelo Conama em 2003. De lá pra cá, os limites de emissão foram drasticamente reduzidos.
Para atender a legislação, as montadoras foram obrigadas a adotar tecnologias que diminuem a poluição gerada pelas motos. Com isso, a maioria dos veículos novos já sai de fábrica com o catalisador, acessório responsável por converter o produto da queima de combustível em gases menos poluentes.
Peça não exige manutenção
Apesar de ter a mesma função que o equipamento utilizado nos automóveis, o catalisador das motos é bem diferente.
Nos carros, a peça consiste, geralmente, em um filtro de cerâmica dentro da tubulação de escape. Nas motos, sujeitas a vibração mais intensa, o acessório é metálico, mais leve e resistente.
Em geral, o catalisador fica dentro do cano de escapamento das motos. Mas, em alguns casos, é instalado em um bojo próximo à saída do cabeçote do motor.
Segundo Cristiano, o equipamento não pede manutenção individual.
- Fazendo a revisão periódica e usando combustível de qualidade, não precisa se preocupar. Só troca se alguma batida danificar o escapamento. Aí tem que substituir todo o conjunto - explica.
O gasto varia de R$ 250 a R$ 500. Em alguns modelos de alto padrão, o escape é divido em duas partes, a curva e a ponteira, que podem ser substituidas separadamente. O custo, contudo, pode ser até maior.
Fumaça nem sempre é problema
De acordo com o gerente de serviços, nos casos em que o cano começa a expelir uma fumaça mais densa e escura, raramente o problema está no catalisador.
- Pode ser uma queima de óleo, mas, na dúvida, é melhor procurar o mecânico - recomenda Cristiano.
Segundo o especialista, no inverno é normal que a saída de gases fique mais evidente, em função da diferença de temperatura interna do cano para o ambiente.
Outro detalhe é que a fumaça tende a ser mais perceptível nos escapamentos originais, pela ação do catalisador.
- A grande maioria dos escapes paralelos faz a liberação de forma direta. No original, o tratamento faz os gases ficarem mais evidentes - conta Cristiano.
Como funciona
- O catalisador motociclístico é uma colmeia metálica, impregnada com metais nobres como a platina, o ródio e o paládio.
- Quando os gases tóxicos emitidos pela queima de combustível passam pelo catalisador, ocorre a aceleração de uma reação química que os transforma em elementos menos poluentes.
- Ou seja, em vez de CO (monóxido de carbono), NOX (óxido de nitrogênio) e HC (hidrocarbonetos ou combustível cru), a fumaça liberada pelo escapamento emite CO2 (dióxido de carbono ou gás carbônico), H20 (água) e N2 (nitrogênio).
- O catalisador começa a agir quando atinge cerca de 150ºC. Quanto mais quente, maior sua eficiência.