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Dureza no SUS

10 mil pacientes esperam na fila para ortopedista em Porto Alegre

Na Capital, tempo para consulta é de até 21 meses

09/09/2013 - 07h46min

Atualizada em: 09/09/2013 - 07h46min


João Severo, 78 anos, sofre desde 2009 a sequela de uma queda

O caldeireiro aposentado João Carlos Severo, 78 anos, de Esteio, e a diarista Rosângela de Fátima dos Santos Motta, 52 anos, de Viamão, integram uma estatística informal e não contabilizada pelos órgãos da Saúde: a dos pacientes com lesões graves que ficam com sequelas devido à demora no atendimento.

Esta lista cresce à medida que aumenta o tempo de espera por cirurgias pelo Sus. Só na Capital, esta fila beira os 10 mil pacientes.

Vítimas de traumas no ombro e no quadril, João e Rosângela, respectivamente, já estão com a mobilidade dos membros superiores e inferiores comprometidos.

João não tem força no braço

Em 2009, ao sofrer uma queda em casa, João teve ruptura completa do manguito rotador direito (grupo de músculos que cobre a cabeça do úmero e tem grande importância na estabilização, na força e na mobilidade do ombro).

Além de sentir dor intensa na região, ele perdeu a força no braço e ficou com os movimentos limitados.

- Não posso fazer nada, pegar coisas pesadas, comer direito e nem dormir desse lado do corpo - lamenta o idoso.

Filha fala em descaso

Segundo a filha Lisamara da Rosa Severo, 51 anos, o pai inicialmente fez fisioterapia, mas o tratamento não resolveu. Ele aguarda desde 2011 por uma consulta na área de ortopedia de ombro.

- É um descaso. Ele já está com um caroço na parte de cima da coluna por causa desse problema no músculo - revela Lisamara, que ingressou com pedido de providências no Ministério Público local.

Diarista parou de trabalhar

Enquanto pôde caminhar, Rosângela trabalhou em casa de famílias. Desde março, ela abandonou a função de diarista por causa da evolução da doença. Sofre de osteoartrose coxofemoral no quadril (processo degenerativo que reduz movimentos). A dor na perna direita é tanta que precisa da ajuda das filhas para se vestir e tomar banho.

- O médico disse que preciso colocar uma prótese no quadril, porque houve um desgaste da cartilagem - revelou Rosângela, de Viamão.

Em dezembro do ano passado, a doença foi diagnosticada. Em janeiro deste ano, ela entrou na fila para consulta com especialista, mas até hoje não foi chamada.

Na Capital, espera de até 21 meses     

Com gestão plena do Sus, Porto Alegre vem diminuindo a fila e o tempo de espera por consultas com especialistas. Mesmo assim, áreas como a ortopedia, com 9.982 pessoas, seguem estranguladas. Segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde, o pedido mais antigo é de 5 de dezembro de 2011 (21 meses) na área de ortopedia coluna adulto, com 3.380 pessoas. Comparado com dezembro de 2012, subespecialidades de ortopedia coluna adulto, geral adulto, de ombro e de joelho têm hoje cem pacientes a menos na fila.

Na Capital, o atendimento de urgência para pacientes que sofrem fraturas em quedas ou em acidentes de trânsito continua sendo feito só no HPS e no Cristo Redentor. Já quem precisa de avaliação de um ortopedista é encaminhado para hospitais como Independência, Clínicas, Santa Casa, São Lucas, Parque Belém, Cristo ou Beneficência Portuguesa.

O tamanho da fila

Subespecialidade          Solicitações de Porto Alegre       Solicitação mais antiga na fila

Ortopedia coluna adulto                  3.380                              5/12/2011
Ortopedia joelho                             1.688                              31/10/2012
Ortopedia ombro                             1.070                              30/4/2012
Ortopedia pé                                  1.848                              27/12/2011
Ortopedia mão                                944                                12/11/2012
Ortopedia geral adulto                     1.052                              16/10/2012

Total: 9.982

Obs.: dados da Capital, enviados no dia 4 de setembro

Como funciona a regulação

- A marcação de consultas especializadas em Porto Alegre para pacientes do Interior é, desde novembro de 2011, regulada pelo Estado. O município solicita um cadastro, e a Central de Regulação Ambulatorial checa a oferta.

- A central marca a consulta e informa data e local ao município, que informa o paciente.

- Caso a consulta resulte em pedido de cirurgia ou outro procedimento, esse trâmite se dá dentro do hospital em que a consulta foi feita. Quando o paciente não tem prioridade, a definição de quem será encaminhado é do município dentro da cota que ele possui.

1.002 Agendamentos*

Especialidade                 Subespecialidade                  Cotas
Ortopedia                       Coluna adulto                             72
Ortopedia                       Coluna pediátrica                         2
Ortopedia                       Mão adulto                                52
Ortopedia                       Geral adulto                             503
Ortopedia                       Geral pediátrica                          32
Ortopedia                       Joelho                                      168
Ortopedia                       Ombro                                       34
Ortopedia                        Pé                                            94
Ortopedia                        Quadril                                      45

* Consultas de pacientes do Interior agendadas para a Capital em setembro.

Lado oficial

Jogo de empurra adia solução:

Secretaria Estadual

- Segundo a área de consultas eletivas, a solicitação de João entrou no sistema  em 2011, e a partir daí o município de Esteio não completou as informações necessárias para que fosse feita a regulação da consulta. Por isto, o pedido foi indeferido. Com relação a Rosângela, o pedido de consulta com ortopedista foi feito em fevereiro deste ano. Mas ele teria sido cancelado porque a paciente foi  atendida por outro serviço. Em
30 de agosto passado, foi feito novo cadastro na regulação do Estado, mas o caso não é considerado de prioridade.

Secretaria de Esteio

- A Secretaria afirma que João deu entrada no sistema do município em 15 de dezembro de 2009. Em 2011, entrou na regulação do Estado, mas aguarda chamada para consulta com especialista em Canoas (são oito por mês) - referência em trauma na Região Metropolitana. Na semana passada, o nome do paciente foi encaminhado e deve ser chamado em breve.

Secretaria de Viamão

- A diretora geral da Secretaria da Saúde, Maria Rita Cardoso, informa que Rosângela solicitou a cirurgia em fevereiro deste ano, mas o caso não foi avaliado como prioridade.


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