Caos na saúde
Depois da enchente, sem médico na Vila Asa Branca, em Porto Alegre
A falta de profissionais em posto de saúde é mais uma dificuldade enfrentada pelas famílias atingidas pelo rompimento do dique no Bairro Sarandi
Depois de passar mais de 12 horas com os pés na água, zelando pela casa e tentando salvar os móveis do alagamento que atingiu a Vila Asa Branca, na Zona Norte, a operadora de caixa Roseane da Silva Medeiros, 43 anos, sentiu os efeitos da enchente na saúde.
No domingo à noite, ela começou a perceber sintomas de uma gripe. Dor de cabeça, febre e placas na garganta se tornaram cada vez mais fortes.
Apesar de saber que a unidade de Estratégia de Saúde da Família Asa Branca estava sem médico há três meses, ela imaginou que a situação tivesse se modificado em função do cenário caótico. Mas se enganou.
- Achei que a prefeitura iria remanejar alguém, pelo menos por alguns dias. Seria normal em uma emergência dessas - afirma, depois de voltar para casa sem atendimento na manhã de ontem.
É difícil ir a outro lugar
Ainda sem saber onde recorrer para buscar auxílio - uma das alternativas seria a Upa Moacyr Scliar, que costuma ter longas filas - ela lembra que as casas ainda estão muito úmidas, e isso só agrava casos como o dela.
- Tem outras pessoas na mesma situação, mas o que é que se vai fazer? Muita gente não tem nem passagem pra ir em outro lugar - relata.
Vizinha de Roseane, a dona de casa Maria Antônia Dutra, 53 anos, também sofre com a falta de médicos. O joelho direito, operado recentemente, começou a inchar e a doer depois que ela fez esforço para erguer os móveis durante o alagamento.
- Fui no posto ontem (terça) para ver se conseguia uma medicação para dor, mas não tinha médico. A gente precisa pelo menos de um plantão - destaca, afirmando que terá de esperar por uma consulta marcada para o dia 23 de setembro para avaliar o seu caso.
Médico assume hoje
Conforme a assessoria de comunicação da Secretaria Municipal da Saúde, diversos profissionais da área atenderam os moradores atingidos pela enchente enquanto eles estavam acolhidos na Escola Municipal de Ensino Básico Liberato Salzano Oliveira da Cunha.
Agora, os serviços de saúde da região voltaram a funcionar normalmente. No caso da ESF Asa Branca, um médico que participa do Programa Mais Médicos deverá assumir na unidade de saúde a partir de hoje.
Levantamento das necessidades
A partir da manhã de hoje, começa uma força-tarefa envolvendo 80 servidores da prefeitura, que visitarão as casas das famílias afetadas pelo alagamento no final de semana, no Bairro Sarandi.
De acordo com presidente da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), Kevin Krieger, a intenção é identificar quais são as principais necessidades neste momento. Empresários da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) e da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL) sinalizaram interesse em ajudar as famílias afetadas pelo alagamento.
Lista será divulgada
- As doações são importantes no período da crise. Passado este momento, vamos a campo, fazer uma varredura para saber o que as famílias precisam - destaca Kevin.
Depois que o levantamento for concluído - a expectativa é que isso ocorra até amanhã - será divulgada a lista das necessidades e um ponto para recebimento das doações.
Outra negociação está sendo feita com o governo federal para solicitar a alteração na legislação do Minha Casa Melhor, para que contemple excepcionalmente a população em situação de calamidade.