Triste volta para casa
Em Alvorada, é hora de contabilizar prejuízos da chuvarada que inundou a cidade
Acompanhamos o retorno ao lar de famílias que precisaram deixar tudo para trás com pressa
Passados 20 dias do início da chuvarada que inundou Porto Alegre e a Região Metropolitana, o Diário Gaúcho acompanhou ontem o retorno ao lar de famílias que precisaram deixar tudo para trás com pressa.
A água baixou, mas os prejuízos continuam subindo. Para tentar reduzir o drama, moradores se mobilizam. No Estado, há ainda 107 pessoas desabrigadas.
No céu, nem sinal de chuva. Pelo contrário, o sol brilhava em Alvorada na manhã de ontem. Mas bastava olhar as casas dos moradores do Bairro Americana, com as marcas de onde a água chegou, e as pilhas de móveis estragados em frente aos portões para saber que a região ainda contabiliza os estragos da enchente.
Depois de mais de duas semanas fora de casa, a manicure Angélica Oliveira Machado, 24 anos, voltou ontem para fazer a limpeza e contabilizar os prejuízos. Aos poucos, foi empilhando camas, armários, tevê e colchões no pátio, sem saber o que poderia ser salvo.
- A geladeira era nova, a máquina de lavar também. Não sei se vai funcionar. Ainda estava pagando a cozinha e o fogão - lembra, sem conseguir conter o choro.
O único dia de folga foi usado para tirar o lodo de dentro da moradia. Sem poder trabalhar por uma semana, já que a escola do filho Murilo, quatro anos, também foi alagada, ela só contabiliza perdas:
- Agora é trabalhar, né? Não tem o que fazer.
● Até um peixe apareceu
Poucos metros adiante, ainda na Avenida BeiraRio, a dona de casa Nerli da Silva, 64 anos, fazia o rescaldo da enchente. Além das perdas materiais - panelas que foram para o lixo, sofá e roupeiro encharcados - ficou também o desgaste emocional:
- Foi horrível. Saí daqui levada pelos bombeiros. Tive crise nervosa, só chorava.
O marido de Nerli está no Hospital de Clínicas, com problemas respiratórios, e já poderia ter recebido alta, se a casa não estivesse tomada pela umidade. Ela ficou fora por mais de dez dias, dormindo no lar da irmã, que também acolheu outras pessoas.
- Agora é começar tudo de novo, limpar e torcer para que não chova mais - acredita.
Entre as heranças da enchente, até um peixe foi parar nos fundos da residência de Nerli. Pelo menos uma história curiosa para fazê-la sorrir em meio à tristeza.
Limpeza e doações
Moradores da Americana devem colocar os móveis danificados em frente às casas para que a prefeitura recolha. O mutirão de limpeza já começou. Quanto a doações, conforme o secretário de Trabalho, Assistência Social e Cidadania, Airton Alminhana, foram distribuídas 800 cestas (200 ainda serão entregues).
O que ainda é preciso são produtos de higiene e limpeza, além de colchões, móveis e eletrodomésticos. As famílias devem se cadastrar na secretaria, onde também devem ser levadas as doações: Rua Wenceslau Fontoura, 126, das 8h às 17h.
Pedido de auxílio
Um documento elaborado pelas cidades que integram a Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (Granpal) foi encaminhado ontem para o governo federal.
Os prefeitos solicitaram a reabertura do Pac Drenagem, que previa investimentos para esse tipo de intervenção em rios e arroios. Também pediram que a linha de crédito Minha Casa Melhor, que possibilita a compra de móveis com juros menores para quem tem o Minha Casa Minha Vida, seja ofertada para as famílias que tiveram prejuízos com as cheias.