Dia das Crianças
Criançada quer aprender e brincar em equipamentos de última geração
Diário Gaúcho conta a história de quatro pequenos que são feras nas tecnologias
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A impressão é de que as crianças, hoje, já nascem com habilidade especial para deslizar os dedinhos nas telas touchscreen (sensíveis ao toque), localizar aplicativos quase imperceptíveis aos adultos e ficar compenetradas diante de bonequinhos coloridos e saltitantes.
No dia dedicado a elas, o Diário Gaúcho conta a história de duas meninas e dois meninos que são feras nas tecnologias. Os olhos brilham diante desses equipamentos. Mas nem só de tablets, smartphones e computadores que é feita a
infância de Brenda Cristina, Sara Beatriz, João e Pedro: a turma curte a boa e velha brincadeira analógica.
"Às vezes, eles me vencem"
Há um ano, ela tomou uma decisão. Para acabar com a despesa quase diária na lan house, a dona de casa Andréia Beatriz Ferreira dos Santos, 30 anos, do Bairro Santa Tereza, decidiu comprar um computador para as filhas Brenda Cristina, 11 anos, e Sara
Beatriz, seis anos. Instalado na sala, ela consegue acompanhar de perto as tecladas das meninas.
- Elas não jogam esses jogos de luta. Já basta a violência real. Como são meninas, se
interessam por outras coisas.
Enquanto estão no computador, nem parece que tem criança em casa:
- É a hora do meu descanso para a cabeça. Mas aqui não é só a tecnologia, não. Elas têm vida social - revelou a mãe.
A brincadeira digital é organizada: a dupla sabe, por exemplo, que só pode jogar depois de terminar os temas. Já em caso de briga, o computador fica desligado.
● "Quando a Brenda dorme, pego o celular"
Para priorizar a reforma do lar, a internet está suspensa.
- Quase todo dia dá briga por causa do telefone da mãe. Quando a Brenda dorme, pego o celular dela para jogar. Aí ela acorda e dá aquela briga - revelou a sapeca Sara Beatriz, aluna do jardim A da Escola Municipal José Loureiro da Silva, onde a mana também estuda.
No smartphone, joguinhos das Superpoderosas, da Pucca, de culinária, memória, ou quebra-cabeças são os preferidos de Sara. Tanto que há dias em que ela nem percebe a tarde passar.
- Existem jogos que têm bonequinhos do mal e outros do bem. Às vezes, eles me vencem e outras vezes eu venço. Agora, o Frederico (gato da família) me atrapalhou e eu perdi - contou Sara, que também gosta de brincar de bonecas.
● "Temos jogos que estimulam a memória"
Brenda Cristina, aluna do sexto ano, curte jogos e o facebook. Mas o computador também é usado para pesquisas da escola. Se passar de ano, há a chance de Brenda ganhar um notebook. Já Sara terá de esperar mais um pouco para ter seu celular.
Embora os joguinhos sejam individuais, Andréia conta que a diversão é em família:
- Fazemos campeonatos, competição de sinuca. Temos jogos que estimulam a memória.
É preciso impor limites
De acordo com o professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Educação da Unisinos, Daniel de Queiroz Lopes, a criança que se interessa pela brincadeira no tablet, celular ou computador, desenvolve habilidade específica para lidar
com esses equipamentos.
Dependendo do tipo de jogo, poderá desenvolver alguma destreza, estimular o raciocínio. Mas, em geral, é pura diversão. O professor, que é membro do Grupo de Pesquisa Educação Digital, destaca que o uso desse tipo de tecnologia está criando um novo padrão de leitor, que exige interatividade, novos modos de comunicar. Não há uma regra que determine se jogar é bom ou ruim. Sobre a melhor idade para o primeiro uso, isso dependerá de cada família.
● Atenção com a sobrecarga!
Apenas é recomendado que os pais evitem a sobrecarga, que a criança não consuma jogos que exijam competências incompatíveis com a idade. Já em relação à duração da brincadeira virtual, é fundamental evitar os excessos, quando a criança deixa outras atividades de lado para jogar, por exemplo.
- As crianças precisam de atividades diversificadas. Brincar é fundamental para o desenvolvimento e precisam do contato físico para desenvolver um tipo de comunicação que não acontece online, como gestos, olhar, fala - observa.
Dicas
● Em relação às tecnologias, o papel dos pais é de acompanhar a criança, discutir e orientar nas escolhas. Uma boa dica é, antes de o filho optar por um joguinho, o pai pesquisar na internet o que já se discutiu sobre ele e até mesmo jogar junto com a criança. Procurar escolher jogos que estimulem e não apenas os repetitivos.
● Se a criança tiver um perfil nas redes sociais, por exemplo, é importante acompanhá-lo já que, diferentemente do que se pensa, ela não fica sozinha na rede, mas socializa, interage. Os pais precisam ter em mente que na internet funciona o mesmo princípio da sociabilidade offline: não se deve conversar com estranhos.
● Assim como na alimentação, em que comer só um tipo de alimento não é saudável, brincar de um mesmo tipo de brinquedo, como o joguinho no tablet, por exemplo, não faz bem. Por isso, os pais precisam proporcionar outras atividades.
Dedinhos velozes
Os polegares do pequeno João Evert da Silva Fortes, cinco anos, do Bairro Bom Jesus, tocam a tela do smartphone com rapidez e destreza. Entretido, com os olhos vidrados, ele mostra o quanto aprecia o mundo digital. Sempre que vê o celular do pai, o pintor
automotivo Seriano Vargas, 25 anos, dando sopa no bolso da calça, pega-o para jogar um pouquinho.
Sozinho, encontra o aplicativo e inicia a partida. Com tranquilidade, vai ultrapassando obstáculos, vencendo inimigos e passando de fase. Às vezes, disputa o aparelho com a
maninha, Luiza Mariah, de dois anos e cinco meses. Ela adora tirar fotografias. A mãe dela, a dona de casa Marielen Kong, 22 anos, conta que a pequena faz fotos que vão para os álbuns do facebook, no perfil que mãe e filha mantêm juntas.
A habilidade de João também se estende ao controle da televisão.
- Para colocar no desenho, é o um, zero, um - conta o menino que ainda não sabe ler, mas já identifica a posição dos números no controle e reconhece algumas letras.
● "Também gosto de brincar de pega-pega"
A diversão de João, no entanto, não se restringe aos jogos no celular, ao videogame ou aos desenhos animados:
- Gosto de jogar, acho fácil, mas também gosto de brincar de pega-pega, esconde-esconde, de correr.
Seriano acompanha de perto:
- Para eles, isso não é tecnologia, é realidade. Acho que, sendo bem utilizado, não há problema. Agora, é diversão. Quando for mais velho, teremos que controlar.
Tablet ao invés da festa
Quando chega da creche, no final de tarde, o pequeno Pedro Machado Borgmann, quatro anos, já tem estabelecida sua rotina: se divertir com os joguinhos do tablet até a hora da janta.
- Ele chega e diz: "Mãe, vou tomar banho e te obedecer, aí tu deixa eu jogar?" - revelou a mãe, a cobradora Fernanda Machado, 32 anos, moradora do Alto Embratel.
Em agosto, quando completou quatro anos, Pedro abriu mão de uma festa de aniversário com o tema do Super Man para ganhar o tablet de presente. Teve uma comemoração simples na creche e, desde então, desliza os polegares e indicadores na tela do computador portátil.
● "O Homem Aranha salta com a teia!"
Envolvido com a brincadeira digital, chega a pedir silêncio à mãe. Afinal, precisa de concentração. Acha sozinho jogos e aplicativos, vai movendo os personagens, derrubando obstáculos. De tão quietinho, quase nem se nota a presença em casa e
ele nem ouve a mãe chamar. Mas não é assim o tempo todo: quando perde o interesse, Pedro brinca de carrinho ou de usar máscaras com primos e amigos.
- No joguinho do Homem Aranha, ele salta com a teia! Também jogo o do Batman e do Lanterna Verde - contou o menino.
Foi com o primo Lohan, três anos, que Pedro despertou o interesse pela tecnologia. Logo que ganhou o tablet, o piá não deixava nem os pais pegarem o computador.
- A gente tinha de esperar ele dormir para baixar os joguinhos. Não sei como ele aprendeu tão rápido! Os jogos desenvolvem a coordenação - afirmou Fernanda.
● Não pode levar bilhete na agenda
Há apenas uma regra: o tablet é confiscado caso Pedro chegue com bilhete da escolinha na agenda. Dia desses, deu um beijo numa colega e a profe registrou. Mas logo a brincadeira digital foi recomeçada.
Brinquedos ainda são os campeões
Pesquisa do Sindilojas e CDL de Porto Alegre mostrou que 8,3% dos pais pretendem dar eletroeletrônicos para os filhos de presente neste Dia da Criança, enquanto 3,9%
optariam por celular e/ou smartphones. Os campeões na preferência ainda são brinquedos (68%) e roupas (35%).
O número de crianças com computador, tablet e smartphone alcança 37% dos entrevistados. Já 4,5% dos filhos têm smartphones e 5,5% das crianças possuem
tablet.
Variação de preços
O Diário pesquisou preços de tablets e smartphones em sites de lojas de eletroeletrônicos:
● Tablets: entre R$ 229,90 e R$ 2.099
● Smartphones: entre R$ 299 e R$ 2.399