Notícias



Dia da Consciência Negra

Negros exibem com orgulho penteado black power

Estilo valoriza os cabelos crespos, volumosos ou estilizados

20/11/2013 - 10h06min

Atualizada em: 20/11/2013 - 10h06min


Em 1971, quatro jovens negros de Porto Alegre deram início ao movimento que, uma década depois, transformaria o 20 de novembro (dia da morte de Zumbi, líder do quilombo de Palmares, em 1695) no Dia Nacional da Consciência Negra - data máxima da comunidade afrodescendente no país.


Na época em que a campanha foi lançada, pipocavam pelo Brasil modas e estilos criados nos Estados Unidos por negros que lutavam pela igualdade racial. Era o movimento black power (poder negro), cujos símbolos incluíam um gesto de braço erguido e punho fechado, calças boca de sino e cabelos naturais - crespos e crescidos.


O penteado, também batizado de black power, voltou com força neste milênio, trazendo a reboque outros estilos que valorizam os cabelos crespos, volumosos ou, se ralos, estilizados. De quebra, contribuiu com o aumento da autoestima da raça negra.


Ênfase no artístico


Entre uma onda e outra do black power, muitos estilos literalmente fizeram a cabeça da juventude negra. Mulheres usaram cabelos alisados e aloirados, entre outros. Homens, aderiram, por exemplo, o raspado, ao estilo Ronaldo Nazário, e o moicano, a la Neymar.


- Passei por essa transformação aqui no Estado, que é muito fechado para modas diferentes. Desde 1995, estamos dando uma ênfase no trabalho artístico. Antes, só barbeiros trabalhavam com navalhas. Agora, cabeleireiros também - destaca Fabiano Soares Cardoso, o Babu, 39 anos, há 20 na profissão e proprietário de três oficinas de cortes.


Valorizar o crespo


Em homenagem a Zumbi, Babu desenhou uma caricatura do mais famoso líder do quilombo de Palmares na cabeça do jovem Lucas Cardoso, 15 anos.


- Tem os cortes estilizados, mas a maioria dos clientes tem pedido para valorizar o cabelo crespo e o volume - completa.


Contra o alisamento


O advogado Antonio Carlos Cortes, que, em 1971, ao lado de Ilmo da Silva, Oliveira Silveira e Vilmar Nunes, lançou o movimento Palmares, pelo reconhecimento do 20 de novembro como data máxima da raça negra no país, foi um dos tantos que usaram cabelos no estilo black power.


- Soube, tempos depois, que havia perdido uma oportunidade de emprego devido ao meu cabelo. Acharam muito grande. Mas lembro que, naquela época, eramos totalmente contra o alisamento - conta Cortes, hoje.


Sem corte e sem definição


Naquela época, o corte era bem definido. Cortado com precisão. Para penteá-lo, era usado o chamado garfo: peça que reunia um pedaço de madeira com "dentes" feitos com aros de roda de bicicleta. Atualmente, muitos adeptos do black power deixam o cabelo crescer sem corte e sem definição, aproveitando cachos naturais.


- O ator não costuma mandar no próprio cabelo. Minha mãe perguntou se eu não cortaria, aí disse que tenho um trabalho por fazer e que preciso dele assim. Mas disse para ela que, mesmo sem o trabalho, não cortaria - conta o ator e estudante Wagner dos Santos, 16 anos.


"Sempre gostei do meu cabelo"


Professora, estudante de educação física e atual primeira princesa do Carnaval de Porto Alegre, Pabline Correa, 24 anos, diz que sempre preferiu o cabelo grande e crespo. Por isso, não usa produtos que diminuam o volume ou que alterem muito suas características.


- As pessoas negras estão se aceitando mais e reconhecendo sua raiz. Eu nunca tive problemas com isso. Sempre gostei do meu cabelo. Por isso, só uso creme normal, faço hidratação e algumas mechas.


Menos busca ao liso


Cabeleireira, Jéssica Cardoso, 25 anos, opta por penteados que mantêm o estilo afro (crespo e volumoso), mesmo com uma trança presa na lateral. Penteada no Stúdio Babu, onde também trabalha, ela tem notado a tendência das clientes.


- Temos muitos produtos novos que possibilitam trabalhar mais os cabelos. A maioria das clientes do estúdio tem valorizado e aceitado mais o crespo e o volume. Tem ocorrido menos busca ao liso - relata.


Homenagem


O Dia Estadual da Consciência Negra, hoje, será marcado pela entrega de distinções na Assembleia. Às 14h, no Plenário, será entregue o troféu Deputado Carlos Santos, reconhecimento a personalidades que atuam em prol da valorização da comunidade negra.


Os agraciados: líder comunitária Marli Medeiros, compositor Alexandre Rodrigues, educadora Lanna Campos, enfermeira Eloah Alves, prefeita de Dois Irmãos, Tânia da Silva, e jornalista e escritor Renato Dornelles.


Famosos que usaram black power


Tim Maia


Elza Soares


Toni Tornado


Jackson Five


MAIS SOBRE

Últimas Notícias