Dia da Consciência Negra
Negros exibem com orgulho penteado black power
Estilo valoriza os cabelos crespos, volumosos ou estilizados

Em 1971, quatro jovens negros de Porto Alegre deram início ao movimento que, uma década depois, transformaria o 20 de novembro (dia da morte de Zumbi, líder do quilombo de Palmares, em 1695) no Dia Nacional da Consciência Negra - data máxima da comunidade afrodescendente no país.
Na época em que a campanha foi lançada, pipocavam pelo Brasil modas e estilos criados nos Estados Unidos por negros que lutavam pela igualdade racial. Era o movimento black power (poder negro), cujos símbolos incluíam um gesto de braço erguido e punho fechado, calças boca de sino e cabelos naturais - crespos e crescidos.
O penteado, também batizado de black power, voltou com força neste milênio, trazendo a reboque outros estilos que valorizam os cabelos crespos, volumosos ou, se ralos, estilizados. De quebra, contribuiu com o aumento da autoestima da raça negra.
Ênfase no artístico
Entre uma onda e outra do black power, muitos estilos literalmente fizeram a cabeça da juventude negra. Mulheres usaram cabelos alisados e aloirados, entre outros. Homens, aderiram, por exemplo, o raspado, ao estilo Ronaldo Nazário, e o moicano, a la Neymar.
- Passei por essa transformação aqui no Estado, que é muito fechado para modas diferentes. Desde 1995, estamos dando uma ênfase no trabalho artístico. Antes, só barbeiros trabalhavam com navalhas. Agora, cabeleireiros também - destaca Fabiano Soares Cardoso, o Babu, 39 anos, há 20 na profissão e proprietário de três oficinas de cortes.
Valorizar o crespo
Em homenagem a Zumbi, Babu desenhou uma caricatura do mais famoso líder do quilombo de Palmares na cabeça do jovem Lucas Cardoso, 15 anos.
- Tem os cortes estilizados, mas a maioria dos clientes tem pedido para valorizar o cabelo crespo e o volume - completa.
Contra o alisamento
O advogado Antonio Carlos Cortes, que, em 1971, ao lado de Ilmo da Silva, Oliveira Silveira e Vilmar Nunes, lançou o movimento Palmares, pelo reconhecimento do 20 de novembro como data máxima da raça negra no país, foi um dos tantos que usaram cabelos no estilo black power.
- Soube, tempos depois, que havia perdido uma oportunidade de emprego devido ao meu cabelo. Acharam muito grande. Mas lembro que, naquela época, eramos totalmente contra o alisamento - conta Cortes, hoje.
Sem corte e sem definição
Naquela época, o corte era bem definido. Cortado com precisão. Para penteá-lo, era usado o chamado garfo: peça que reunia um pedaço de madeira com "dentes" feitos com aros de roda de bicicleta. Atualmente, muitos adeptos do black power deixam o cabelo crescer sem corte e sem definição, aproveitando cachos naturais.
- O ator não costuma mandar no próprio cabelo. Minha mãe perguntou se eu não cortaria, aí disse que tenho um trabalho por fazer e que preciso dele assim. Mas disse para ela que, mesmo sem o trabalho, não cortaria - conta o ator e estudante Wagner dos Santos, 16 anos.
"Sempre gostei do meu cabelo"
Professora, estudante de educação física e atual primeira princesa do Carnaval de Porto Alegre, Pabline Correa, 24 anos, diz que sempre preferiu o cabelo grande e crespo. Por isso, não usa produtos que diminuam o volume ou que alterem muito suas características.
- As pessoas negras estão se aceitando mais e reconhecendo sua raiz. Eu nunca tive problemas com isso. Sempre gostei do meu cabelo. Por isso, só uso creme normal, faço hidratação e algumas mechas.
Menos busca ao liso
Cabeleireira, Jéssica Cardoso, 25 anos, opta por penteados que mantêm o estilo afro (crespo e volumoso), mesmo com uma trança presa na lateral. Penteada no Stúdio Babu, onde também trabalha, ela tem notado a tendência das clientes.
- Temos muitos produtos novos que possibilitam trabalhar mais os cabelos. A maioria das clientes do estúdio tem valorizado e aceitado mais o crespo e o volume. Tem ocorrido menos busca ao liso - relata.
Homenagem
O Dia Estadual da Consciência Negra, hoje, será marcado pela entrega de distinções na Assembleia. Às 14h, no Plenário, será entregue o troféu Deputado Carlos Santos, reconhecimento a personalidades que atuam em prol da valorização da comunidade negra.
Os agraciados: líder comunitária Marli Medeiros, compositor Alexandre Rodrigues, educadora Lanna Campos, enfermeira Eloah Alves, prefeita de Dois Irmãos, Tânia da Silva, e jornalista e escritor Renato Dornelles.
Famosos que usaram black power
Tim Maia
Elza Soares
Toni Tornado
Jackson Five