Sem medo da prevenção
Preconceito é um dos maiores obstáculos ao diagnóstico precoce do câncer de próstata
Estatísticas mostram que o Estado é o terceiro em incidência da doença no Brasil

É difícil encontrar quem não faça uma piadinha quando o assunto são os exames de prevenção do câncer de próstata (glândula sexual masculina, que produz parte do líquido que forma o esperma). Mas se o bom humor atrelado ao enorme preconceito sobre o exame do toque mantém o tema em pauta, o assunto merece ser tratado com seriedade.
Para reforçar a necessidade de prevenção, dezenas de monumentos no país estão iluminados na cor azul, como parte da campanha Novembro Azul - o similar ao Outubro Rosa, em relação ao câncer de mama.
A ideia, neste mês, é despertar nos homens a preocupação e o cuidado com uma doença que mata, mas pode ser curada se diagnosticada precocemente.
Previsão é assustadora
De acordo com os dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Rio Grande do Sul é o terceiro em número de incidência da doença. Segundo a estimativa de novos casos para 2012 e 2013, o Estado terá 4.270 atingidos. Na Capital, serão 640. No ano passado, 1.001 homens no Estado e 280 em Porto Alegre morreram da doença. Em 2011, houve 1.032 óbitos no Estado e 152 na Capital.
Iran orienta filhos e netos
Radialista aposentado, Iran Queiroz, 77 anos, é um exemplo da nova mentalidade:
- Já fiz várias vezes exame, mas agora não tenho feito mais. Aconselho meus filhos e netos a fazerem também porque a prevenção é importante.
Urologista titular da Sociedade Brasileira de Urologia, Marcos Dias Ferreira traz uma boa notícia:
- A prevenção do câncer de próstata pode salvar vidas. Quando a doença é descoberta no início, há 90% de chances de cura.
Combinação de dois exames
Dificuldades de acesso à prevenção, a falta de conhecimento sobre os sintomas, o preconceito em relação aos exames e o perfil masculino de ser o provedor da família são grandes obstáculos ao diagnóstico precoce. Segundo o urologista Marcos Ferreira, a prevenção é simples: a partir dos 40 anos, o homem deve realizar, todos os anos, o exame de sangue (chamado PSA) e o toque retal.
Procedimento leva três segundos
Ele lembra que o procedimento tão temido pelos homens demora três segundos.
- De cada dez pacientes com diagnóstico de câncer de próstata, dois têm o exame de PSA normal. Por isso é importante fazer os dois exames - destaca Marcos.
Dependendo o caso, o médico poderá solicitar uma ecografia.
- Este exame é solicitado quando o PSA fica acima de 2.5 ou o exame de toque retal constata alteração (aumento da rigidez) da próstata ou nódulos - revela o urologista.
Instituto incentiva
Fundado em 2007, o Instituto Nacional da Próstata (Inprós) funciona na Galeria do Rosário (Rua Vigário José Inácio, 371/sala 1713B) e tem papel decisivo: incentivar a prevenção.
- Esse é o primeiro apelo que a gente faz para os meninos: cuida de ti. E também precisamos de políticas públicas que agilizem o atendimento em Porto Alegre - afirma a presidente do Inprós, Enilda Ferreira.
Incidência
- Segundo o Inprós, um em cada seis gaúchos tem sintoma do câncer após os 40 anos.
- E um em cada 16 homens, acima dos 50 anos, desenvolverá o câncer de próstata.
PREVINA-SE
- Faça, no mínimo, 30 minutos por dia de atividade física.
- Tenha uma alimentação rica em fibras, frutas e vegetais.
- Reduza as gorduras na alimentação.
- Mantenha o peso adequado.
- Reduza o consumo de bebidas alcoólicas.
- Não fume.
- Quem tem pais ou irmãos com diagnóstico da doença deve ficar mais atento à prevenção, pois esse é um fator de risco.
OS SINTOMAS
- Presença de sangue na urina.
- Necessidade frequente de urinar, principalmente à noite.
- Jato urinário fraco.
- Dor ou queimação ao urinar.
- Atenção: um ou mais desses sintomas não significa necessariamente câncer, pois outras doenças geram reações semelhantes. Por isso é decisivo consultar um urologista.
Fala, homem!
- Já fiz o exame porque é importante para a pessoa se prevenir antes que aconteça o pior. Depois dos 50 anos, passei a fazer todos os anos.
Lauro Lesnik, carpinteiro, 67 anos
- Faço o exame de dois em dois anos, com acompanhamento médico. Há preconceito, mas é uma bobagem.
Enio Ferreira, 77 anos, marceneiro aposentado
- Não fiz porque o médico viu o exame de sangue e disse que ainda não precisa. Mas, se tiver que fazer, farei normalmente.
Paulo César Fernandes de Oliveira, agente de Correios