Notícias



Prática ilegal

Florista cobra R$ 20 por lugar na fila do posto de saúde

Reportagem constatou um problema que se repete há mais de uma década

04/12/2013 - 10h19min

Atualizada em: 04/12/2013 - 10h19min


Basta procurar a pessoa certa: Flávia da Silva, florista do Cemitério Municipal São João desde 1995

Uma prática ilegal denunciada desde maio de 2000 pelo Diário Gaúcho continua prejudicando pacientes do Sus na Capital. Aproveitando-se da fragilidade do sistema de marcação de consultas, que ainda não está totalmente informatizado, e da falta de ação das autoridades, "flanelinhas" da saúde seguem vendendo lugares na fila do agendamento.

Comerciante é vizinha do posto

No Centro de Saúde IAPI, na Zona Norte, o usuário não precisa madrugar para disputar as poucas senhas distribuídas diariamente.

Por valores que variam de R$ 20 a R$ 30, ele garante uma consulta com médicos de qualquer especialidade. Basta procurar a pessoa certa: Flávia da Silva, florista do Cemitério Municipal São João desde 1995.

Flávia trabalha e mora no box número 10. O ponto da comerciante fica a menos de 100m da rampa na qual se forma a fila do Sus.

Senha de número 7

Todos os dias, Flávia atravessa a Rua Três de Abril para faturar uma grana extra. Por mês, a cobrança irregular pode chegar a R$ 400. Ontem, a reportagem negociou um lugar por R$ 20 na fila da consulta com o cardiologista. Às 6h30min, havia cerca de cem pessoas aguardando a abertura do Centro de Saúde, prevista para às 7h.

- Trouxe o papel com encaminhamento para o cardiologista? - perguntou Flávia, antes de receber o valor combinado.

São distribuídas oito senhas para o médico solicitado pela reportagem. A nossa era a sétima, mas desistimos para não prejudicar o atendimento de um usuário do Sus.

Reconsulta mais cara

De dia, Flávia vende flores para familiares que vão rezar pelos mortos. À noite, guarda lugar na fila da saúde para os vivos. Após receber o valor combinado, anunciou o aumento do preço do serviço.

Diário Gaúcho - E aí, conseguiu?

Flávia da Silva - Tu é o sétimo da fila, na frente daquele senhor que está sentado ali.

Diário Gaúcho - E se eu precisar de outra consulta?

Flávia da Silva - Daí vai custar R$ 30.

Smic: fora da banca é com a polícia

Segundo a Divisão de Licenciamento da Smic, o alvará da florista é válido até agosto de 2014. A Divisão de Fiscalização afirma que tem atribuição legal de fiscalizar o que é comercializado e o que acontece somente no interior da banca.

Neste caso, quando há alguma irregularidade, a secretaria abre um processo administrativo, dá prazo, ampla possibilidade de defesa e, dependendo do caso, pode até cassar o alvará. Como a cobrança foi feita fora da banca, é um caso para a polícia. A Smic só pode agir se a autoridade policial solicitar a interdição por atividade irregular.

Não há queixa registrada

Delegado da 9ª DP, Alexandre Vieira afirmou ontem que nenhuma queixa havia sido registrada. Ele entende que é um fato difícil de ser enquadrado como estelionato ou extorsão.

- Até hoje, não houve nenhum fato registrado. Talvez isso ocorra porque a pessoa que paga consegue marcar a consulta. O que tem aqui é uma imoralidade, como o caso dos cambistas. Mas, uma vez registrado, vamos examiná-lo - revelou.

Secretaria desconhece

A Secretaria Municipal de Saúde, (SMS) por meio de sua assessoria de imprensa, informou que o sistema de marcação de consultas do Centro de Saúde IAPI é informatizado e que, para reagendamento, é exigido documento do paciente, além da solicitação do médico para reconsulta. Com isso, foi eliminada a praxe de venda de consultas no local.

Com relação à venda de lugar na fila, a SMS afirma que desconhece o fato denunciado e informará à 9ª DP.


MAIS SOBRE

Últimas Notícias