Presentes além do orçamento
Saiba como explicar às crianças que o Papai Noel não atenderá a todos os pedidos
O que fazer quando os filhos pedem mimos que não cabem no orçamento familiar ou provocam endividamento? Psicóloga dá dicas para os pais

Tão logo surgem as primeiras decorações natalinas no comércio, as crianças ficam empolgadas com a possibilidade de ganhar o sonhado presente do Papai Noel. A lista da gurizada costuma contemplar pedidos de todos os tipos e valores, mas que nem sempre cabem no bolso. E aí é que surge o dilema de muitos pais: o que fazer?
Para não comprometer o orçamento além da conta e, ao mesmo tempo, evitar que fique um clima ruim no Natal, a solução está no diálogo. É o que orienta a psicóloga e coordenadora da especialização em Psicologia da Criança e do Adolescente da Unisinos, Michele Scheffel Schneider.
- Conversar com a criança sobre as possibilidades e o significado do presente pode ser uma alternativa. Não tem um jeito único de fazer. Cada um vai descobrir o seu jeito - explica.
Espaço para o diálogo
Em Viamão, a família do autônomo Carlos Henrique de Almeida, 31 anos, e da auxiliar de serviços gerais desempregada Viviane dos Santos Gonçalves, 32 anos, parece ter encontrado a sua fórmula para fazer com que os seis filhos entendam que nem tudo pode ser comprado.
- A gente conversa muito com eles, explica e eles entendem. Vontade de dar os presentes a gente tem, mas precisa ter esse diálogo - observa a mãe.
Como a turma é grande, as lembranças de Natal precisam ser muito bem equilibradas, e pedidos como o de Marcus Vinícius, 11 anos, que gostaria de um Play 2 para substituir o outro que ele havia ganhado de doação e foi roubado este ano, além de um uniforme do Inter, não cabem no orçamento da família.
- Se eu ganhar, tudo bem. Mas, se eu não ganhar, não vou ficar triste. Eu entendo bem - garante o garoto.
De qualquer forma, ele não perdeu a esperança no espírito natalino. Mandou a sua cartinha para o Papai Noel do Diário Gaúcho, sonhando com uma resposta positiva.
Família busca opções para atender os filhos
Marcus Vinícius tem cinco irmãos. Matheus, 16 anos, e Bianca, 14 anos, são os maiores.
Os três pequenos, por sua vez, também mandaram cartinhas para o Papai Noel do DG.
Bruno, oito anos, pediu bonecos do Max Steel e material escolar; Mariana, cinco anos, quer uma Barbie e material escolar; e Miguel, um ano, gostaria de uma sandália da Galinha Pintadinha e um brinquedo dos Backyardigans.
Como são muitos os pedidos, os pais procuram outras alternativas para que ninguém fique sem uma lembrancinha.
- Eles vão nas festinhas comunitárias e os avós também dão um presentinho, além de levar eles pra passear e se distrair no dia do Natal - relata a mãe.
"Quanda dá, a gente compra"
Ela se alegra com o fato de os quatro filhos mais velhos fazerem cursos no horário inverso ao da escola, que vão de atividades profissionalizantes a oficinas de música. E também porque todos estão com o boletim cheio de notas boas, o que só aumenta a vontade de dar presentes para todos. Mas o bom senso prevalece.
- A gente vai esperando. Quando dá, compramos uma coisinha que cada um quer - ensina Viviane.
Um bom aprendizado para todos
A psicóloga e coordenadora da especialização em Psicologia da Criança e do Adolescente da Unisinos, Michele Scheffel Schneider, propõe algumas reflexões para tornar o dilema da compra dos presentes um aprendizado para toda a família.
Como lidar
Conversa é fundamental
- A melhor forma de lidar com a situação é entender que a frustração (por não ganhar o presente pedido) faz parte da vida e é necessária para o crescimento e desenvolvimento de todos. É um aspecto que deve ser trabalhado e, não necessariamente, evitado.
- Trabalhe com os seus filhos as negociações, no sentido de eles entenderem o real significado dos presentes. E mais: essa forma de agir não deve ocorrer somente no Natal. Seria importante que ela fizesse parte do cotidiano das famílias ao longo de todo o ano.
- É muito importante levar em consideração a idade cronológica e o nível de entendimento dos filhos.
- Para falar com uma criança de três anos, por exemplo, é preciso ser explicativo. Como ela não tem noção do que é caro ou barato, é preciso ensinar a questão dos valores.
- Já para uma criança maior ou um adolescente, que tem entendimento dessa questão, o sentido é o de reforçar esse aspecto.
- Dê espaço para que eles digam quais são as outras opções de presente que gostariam de ganhar.
- Para os pequenos, o que conta mais é a quantidade de presentes, e não tanto o valor.
- Com os maiores, é possível ter mais diálogo. Quem sabe, um presente mais caro pode valer para o Natal e o aniversário?
Evite ilusões
- O complicado é quando as famílias criam uma ilusão nas crianças, oferecendo presentes que não estão de acordo com a sua realidade. E, para dar conta disso, criam dívidas, muitas vezes difíceis de serem sanadas.
- Esse funcionamento pode prejudicar a dinâmica familiar e repercutir negativamente na relação com os filhos, muito mais do que a frustração causada por não ganhar o presente desejado.
É a vontade do filho ou a sua?
- Muitas vezes, a vontade de adquirir determinado presente é mais dos pais do que da própria criança. Assim, o real desejo da criança pode não ser escutado ou, ainda, pode não ter espaço para aparecer, prejudicando sua autonomia e autoestima.
- Se os pais estão com dificuldades em dizer não, isso é que deve ser trabalhado e pensado. Nesse sentido, o "sim" para a criança não deve ser dado para abafar a dificuldade dos pais, mas para realmente representar uma combinação feita com a criança, um desejo dela.
Vá além do material
- É importante ficar atento para o convívio em família que, muitas vezes, é substituído pelo presente.
- Ter um tempo com o filho, não só dar os presentes, mas brincar com aquilo que foi dado, é uma forma de possibilitar o diálogo e a troca de afeto.
- Essas atitudes tendem a despertar e reforçar os sentimentos de amor e solidariedade.