União faz a força
Cinema em Viamão teve domingo de sala cheia
Comunidade mobilizou-se, e apenas no domingo, o Cine Santa Isabel recebeu quatro vezes mais espectadores que em toda a semana passada

No calor insalubre de domingo, Arnaldo Henke, 76 anos, estava encharcado de alegria.
O dono do Cine Santa Isabel, em Viamão, que tem cinco décadas de dedicação ao cinema, buscava na memória palavras que explicassem a emoção diante da presença da comunidade, que compareceu em grande número nas três sessões do dia. Buscava e não encontrava, só ria. Gargalhava.
- É o maior espetáculo da terra -, afirmou sobre o que os seus olhos viam, citando de tabela o título de um clássico de 1952, estrelado por Tony Curtis.
Apoio veio das redes sociais
A reportagem sobre o possível fechamento do cinema neste ano, publicada na edição
de quinta-feira passada do Diário Gaúcho, bombou nas redes sociais e gerou a
criação de um rolezinho sem polêmica, pegando onda na palavra da moda.
Somente na primeira sessão da animação Minhocas, longametragem produzido em Santa Catarina, às 16h, foram vendidos 62 ingressos. O casal Lúcia Barbosa, 41 anos, e Luís Fernandes, 37 anos, e os sobrinhos Larissa, 11 anos, e Luís, 12 anos, foram de carro da Vila Augusta, também em Viamão, à Vila Santa Isabel para assistir à animação.
- Viemos apoiar essa causa - disse Lúcia.
Ao final da última sessão, às 20h, cujo filme era Carrie, a Estranha, Arnaldo contabilizou
172 expectadores - quatro vezes a soma da venda de todas as sessões da semana passada inteira. Um sucesso!
Projetor digital custa R$ 250 mil
Embora nutra-se da ficção, a dificuldade de Arnaldo é real e nada pequena. Ele precisa trocar o velho projetor por um equipamento digital, que custa cerca de R$ 250 mil, para
continuar entretendo os moradores de Viamão.
Se depender da amostra de domingo, e das ligações de apoio e ajuda que tem recebido, dias melhores virão. Novos e antigos frequentadores da sala escura, como o
atendente de informática Jairton Rodrigues, 20 anos, e o músico Cândido Castro, 45 anos, não querem ver a magia da telona terminar.
- O bom desse movimento é que ele surge no meio dos jovens, que não querem ver
isso acabar - comentou Cândido.
Cenas do próximo filme
O drama de Arnaldo mobilizou autoridades e mexeu com a sensibilidade de cineastas, que sabem a importância das salas de exibição para uma indústria que movimenta bilhões. Nesta segunda-feira, ele terá uma reunião com um cineasta em Porto Alegre. Na pauta, a elaboração de um projeto para captar financiamento da Lei de Incentivo à Cultura, do Ministério da Cultura, ou do BNDES, para compra do equipamento.
Pipoqueira ri à toa
Suando para atender a todos os pedidos, a pipoqueira Sônia Regina Soares, 58 anos, ria à toa. Na primeira sessão, ela havia enchido 31 saquinhos de pipoca, vendido 40 refrigerantes e 15 garrafas de água. Na semana anterior, Sônia atendera a, no máximo, oito pedidos da tradicional salgadinha.
- Hoje está bom, porque o público andava meio fraco - lembrou a funcionária, exibindo um sorriso hollywoodiano.
A pipoqueira só se assustou com a queda repentina de energia. O apagão, que parou
inclusive o filme, durou uns dois minutos.