Impasse pega fogo
Grupamento de Busca e Salvamento do Cais do Porto tem futuro incerto
Negociação lenta entre os responsáveis pela revitalização e os Bombeiros gera apreensões
Em meio a shopping, centros culturais, estacionamento e toda a revitalização programada para ocorrer no Cais do Porto de Porto Alegre, um impasse entre os responsáveis pela obra e o Comando do Corpo de Bombeiros da Brigada Militar causa apreensão entre os 109 integrantes do Grupamento de Busca e Salvamento dos Bombeiros (GBS). E, por consequência, a toda população da Capital.
Há 28 anos ocupando o armazém C-5, a unidade ainda não tem um espaço garantido no novo complexo. A única certeza é que um hotel será construído onde está a atual sede do GBS.
Comandante do Comando do Corpo de Bombeiros da Brigada Militar, o coronel Eviltom Pereira Diaz destaca que as tratativas ocorrem há quatro anos, mas as reuniões se intensificaram no ano passado. Os Bombeiros sugeriram à empresa Cais Mauá do Brasil S/A (responsável pela obra) e à Superintendência de Portos e Hidrovias (SPH) - órgão que definirá o espaço da nova sede - quatro áreas dentro da zona portuária, que fica entre o Gasômetro e a ponte do Guaíba.
- Ainda não sabemos se a empresa já definiu um local ao GBS e em qual data isso ocorrerá. Só sairemos quando tivermos um novo prédio - impõe o comandante.
"Não abrimos mão do Guaíba"
A importância do espaço a ser destinado aos 109 bombeiros da unidade é justificada pelo comandante do GBS, major Roberto do Canto. É preciso que a nova sede tenha espaço suficiente para abrigar equipes terrestres, aéreas e aquáticas.
Há, por exemplo, uma guarnição aquática fazendo três rondas diárias na orla de Porto Alegre nos meses mais quentes do ano.
- Não abrimos mão de ficarmos próximos ao Guaíba - garante Roberto.
Propostas já foram rechaçadas
Apesar de não dizer quais foram os locais sugeridos pelos bombeiros, o coronel Eviltom comenta que o impasse ocorre porque nenhum dos espaços foi aceito pelos responsáveis pela revitalização.
- Claro que existe uma preocupação, pois sugerimos os lugares e eles não aceitam. Mas a negociação segue aberta - diz Eviltom.
PREJUÍZO NO ATENDIMENTO NÁUTICO
Integrante do GBS há mais de uma década, um sargento que pediu para não ser identificado revela o temor entre os bombeiros e mergulhadores da equipe. Segundo ele, o drama é ter que deixar o armazém - estratégico pelo grupamento por conta da proximidade com uma área de Porto Alegre onde mais ocorrem afogamentos durante o ano.
- Hoje, de lancha, levamos três minutos para alcançarmos a região do Gasômetro. Com este tempo, já conseguimos salvar pessoas que estavam se afogando naquele local. Se nos mudarem para uma área próxima à ponte do Guaíba, este tempo será quatro vezes maior, prejudicando o nosso trabalho - compara o bombeiro.
Empresa garante espaço
Situado hoje no que deverá fazer parte do setor Docas, o GBS está onde se planeja construir uma das três torres que acolherão empresas e hotéis. O setor terá o principal estacionamento do complexo.
Por meio de nota da assessoria de imprensa da Cais Mauá do Brasil S/A, a empresa diz que cabe a ela construir e entregar a diversos órgãos públicos edificações e instalações novas.
Diz a nota: "Neste sentido, a corporação do GBS está inclusa e será contemplada com novas instalações. Todas as necessidades operacionais já foram devidamente encaminhadas à Superintendência de Portos e Hidrovias (SPH), órgão responsável pela fiscalização dessas construções que serão iniciadas tão logo as respectivas licenças sejam emitidas".
SPH promete divulgar local "em breve"
A assessoria da SPH admite que ainda não foi definida a área a ser destinada aos Bombeiros. Não diz, porém, o motivo da demora. A SPH promete para "breve" a indicação do espaço. Até lá, a Cais Mauá do Brasil S/A não pode construir a nova unidade do grupamento.
Detalhes do projeto
- O contrato de arrendamento entre governo do Estado e a empresa Cais Mauá do Brasil S/A é de 25 anos, com um repasse anual ao Executivo de R$ 3 milhões, valor que será destinado à Superintendência de Portos e Hidrovias (SPH) para ser aplicado em benfeitorias portuárias.
- A obra está dividida em três setores: Gasômetro (37 mil m²), Armazéns (86 mil m²) e Docas (64 mil m²).
- A primeira etapa, iniciada em novembro passado, será a restauração dos 11 armazéns tombados pelo Patrimônio Histórico e do seu entorno.
- Para 2014, estão previstos R$ 200 milhões, referentes à revitalização e obras de infraestrutura, como jardinagem.
- A meta é que alguns armazéns estejam prontos antes da Copa de 2014. A data para a inauguração de todo o complexo não foi divulgada. Uma projeção indica 2017.
- Segundo a SPH, no edital, existe a previsão de que a empresa arrendatária deverá "relocalizar e custear a construção do conjunto de instalações situadas atualmente no Cais Mauá pertencentes à corporação de bombeiros em uma área a ser delimitada, dentro do Porto Operacional".