Os sem-água
O drama de quem fica sem água o ano inteiro
Um em cada dez moradores de Porto Alegre vive o ano inteiro sem água regularizada, segundo o Censo 2010 do IBGE
Nove furos feitos numa tampa de garrafa pet são o chuveiro improvisado do mecânico Fábio Luiz Quadros de Castro, 27 anos, da Vila Chácara dos Pinheiros, no Bairro Restinga, em Porto Alegre. Há um ano, ele e a família vivem no loteamento irregular onde água é artigo de luxo. Enquanto bairros da Capital reclamam do desabastecimento no verão, um em cada dez moradores de Porto Alegre vive o ano inteiro sem água regularizada, segundo o Censo 2010 do IBGE.
Garrafas pet's como reservatório
Na casa de Fábio, a rotina é diferenciada por conta da falta de abastecimento regular. Logo que acorda, antes mesmo de lavar o rosto, o mecânico precisa confirmar se há água nas garrafas pet's usadas como reservatórios. Se não tiver sobrado da noite anterior, é preciso caminhar até uma casa, na Vila 5ª Unidade, onde há água encanada.
Carregando uma banheira de bebê com sete garrafas de dois litros, cada, Fábio busca numa torneira a água que será usada para todas as tarefas da casa. Isso ocorre cinco ou seis vezes ao dia.
- É dali que a gente também tira a água para beber - revela.
Um garrafão de cinco litros dá para o banho diário dele e da mulher Tauana Castro, 22 anos. Os filhos Samuel, de um ano e nove meses, e Kauane, de sete anos, usam outros cinco.
Banho no chuveiro virou sonho
E é quando chove que Fábio sente na pele a impotência perante a situação: na rua, água em abundância. Dentro de casa, torneiras secas. Não importa se o mundo estiver caindo na região, o mecânico segue o ritual de ir até a casa do vizinho que cede água para cinco famílias da Vila Chácara dos Pinheiros. Até o filho Samuel já sabe o que precisa fazer para ter água.
- Se tem sol, ele pega um baldinho e quer ir com o pai buscar a água - conta Tauana.
Dmae e o consumo responsável
- O Programa Consumo Responsável está sendo implantado em nove comunidades da Capital, atingindo cerca de 16 mil habitantes. A Vila Amazônia, junto ao Porto Seco, é um exemplo.
- Para 2014, a previsão é beneficiar mais sete áreas de baixa renda.
- O objetivo é substituir as redes precárias de abastecimento (com uso de mangueiras) por redes regulares de baixo custo, reduzindo as perdas - hoje de até 50% - e diminuindo o desperdício com a medição e acompanhamento do consumo na entrada dos setores que compõem a rede local.
- Após a redução do consumo, o Dmae passa a cobrar das famílias de baixa renda a tarifa social, e as atividades comerciais existentes passam a ser tarifadas pelo consumo medido.
- Para a regularização, o requerente deve solicitar ligação de água em um dos postos de atendimento localizados nos endereços abaixo e apresentar original e cópia dos documentos: RG, CPF, comprovante de propriedade ou posse do imóvel para o qual está sendo solicitada a ligação de água, registro imobiliário, contrato de compra e venda, contrato de aluguel.
- Azenha - Rua Barão do Triunfo, 714
- Centro - Rua José Montaury, 159
- Moinhos de Vento - Rua Fernando Gomes, 183
- Partenon - Rua Prof. Cristiano Fischer, 2402
- Jardim Lindoia - Rua Aliança, 70
- Horário de atendimento: de segunda a sexta-feira, das 8h30min às 16h30min.
- Denúncias podem ser registradas nos postos, por meio do site www.dmae.rs.gov.br ou pelo telefone 156.
Capital tem 275 vilas irregulares
Segundo levantamento do IBGE, 118.032 moradores da Capital não tinham água regularizada nas casas em 2010. Estas famílias vivem em 275 áreas irregulares de Porto Alegre, de acordo com estudo do Departamento Municipal de Habitação (Demhab). Sem a regularização fundiária, o Dmae fica impossibilitado de levar água a estas regiões.
Regularização das áreas
- Criado no início da década de 90, o programa de regularização fundiária de áreas irregulares da prefeitura é o primeiro passo para que as comunidades recebam os serviços de água e luz.
- O ingresso no programa se dá, principalmente, pelo Orçamento Participativo.
- A Procuradoria Geral do Município atende aos loteamentos clandestinos e o Demhab se responsabiliza por invasões de áreas públicas.
- Até hoje, 221 vilas já foram beneficiadas pelo programa. Outras estão na fila de espera e algumas precisam se organizar para mudar esta realidade.
- As vilas que estão em fases mais adiantadas no programa são: Dona Malvina (Rua Dona Otília, Santa Tereza), Terezina (Rua Carlos Barbosa, entrada nas imediações do número 800) e Cosme e Galvão (junto ao Country Club).
- Da urbanização até a entrega da titularidade da posse da terra - pode levar até quatro anos, segundo o diretor-geral do Demhab.