Burocracia prejudica socorro
Perigo: oito caminhões do Corpo de Bombeiros estão fora de combate
Dos 14 veículos da frota da Capital, somente seis estão funcionando. Sete estão parados por problemas mecânicos
Se alguém gritar fogo na Capital, é provável que o socorro demore a chegar. Dos 14 caminhões da frota do Corpo de Bombeiros, somente seis estão aptos a atender ocorrências na cidade de 1,4 milhão de habitantes. Das oito estações em atividade, Teresópolis e Belém Novo, na Zona Sul, são as mais prejudicadas.
Na unidade de Belém Novo, o problema não é falta de veículos. A estação conta com três caminhões auto-bomba tanque, com capacidade de 5 mil litros cada um. Só que nenhum deles funciona.
Socorro limitado e distante
Se forem acionados, os bombeiros responsáveis pelo atendimento de dez bairros, onde vivem cerca de 50 mil pessoas, terão de pedir ajuda para colegas da Restinga (distante 8km), Assunção ou Teresópolis, ambas a mais de 10km de distância.
Segundo um bombeiro que não quis se identificar, a situação é crítica e constrangedora.
Empresa doou combustível
Dos três caminhões do Belém Novo, dois estão com problemas mecânicos e o terceiro e mais novo - adquirido com recursos do Fundo de Reequipamento do Corpo de Bombeiros (Funrebom) e repassado à unidade há cerca de seis meses - está estacionado devido à burocracia. Sem cartão de abastecimento devido a problemas de registro, o veículo só saiu da garagem por pouco tempo graças à doação de combustível feita por uma empresa de ônibus da região. Segundo o major do Comando de Bombeiros da Capital, Elemar Nilei de Mello, nos próximos dias quatro caminhões devem sair das oficinas e voltar para as unidades.
- Já estão quase prontos - garantiu ontem.
A situação ontem
Estações com caminhão funcionando
- Partenon - 1
- Assunção - 1
- Passo D'Areia - 1
- Floresta - 1
- Restinga - 1
- Açorianos - 1
Estações sem veículos para atendimento
- Belém Novo e Teresópolis
Comerciante está preocupado
Preocupados com a estrutura precária da corporação, moradores e comerciantes torcem para que não aconteçam incêndios. Todos reconhecem o heroísmo dos soldados, mas sabem que eles não podem fazer milagres.
Proprietário do Mercado Carrossel, que fica a 200m da estação, Sérgio Azzulini, 56 anos, não gosta nem de pensar numa tragédia. Hoje, a única forma de combater um incêndio no mercado é ligando a mangueira no hidrante ao lado da estação, mas não haveria pressão suficiente na rede para combater as chamas.
- É ruim e muito perigoso. Se acontece alguma coisa, o socorro tem de vir da Restinga - afirmou.
Burocracia mantém veículo estacionado
Por um descuido na observação do edital de compra do caminhão, o veículo adquirido pela prefeitura e repassado ao governo do Estado segue parado na estação Belém Novo. Oficialmente, o bem ainda pertence à empresa vendedora, sediada em Goiânia. Além disso, a taxa de licenciamento do veículo estaria em atraso. Para ser utilizado pela corporação, o caminhão tem de passar para o nome da prefeitura, mas até hoje isto não foi feito.
Segundo o funcionário da Defesa Civil de Porto Alegre e coordenador de despesa do Funrebom, Waldemar Pinheiro, o oficial do Corpo de Bombeiros que recebeu o veículo na época não teria prestado atenção ao item do edital que afirma que o caminhão tinha de estar em nome da prefeitura.
- O Corpo de Bombeiros jamais poderia ter recebido esse caminhão sem observar esta exigência - revelou.
Major Elemar Nilei de Mello, do Comando de Bombeiros da Capital, disse que tenta contato há um mês com a empresa, sem sucesso.
- Estamos tentando resolver esse problema - admitiu o oficial.